Três reportagens para ajudar a tirar do torpor aqueles que resolveram torcer para os homens de preto e guardaram no armário todas as críticas. Lembrem-se: à margem da Lei todos são marginais.
Para ver o vídeo de Ronai Braga, clique aquiMoradores da Vila Cruzeiro e do Alemão denunciam abusos dos policiais
Por: Renata Mariz, no Correio Braziliense
29/11/2010
Rio de Janeiro – Denuncias de moradores Vila Cruzeiro e do complexo do Alemão sobre abusos praticados durante as ações policiais nas favelas revelam o outro lado das operações contra o tráfico de drogas no Rio.
Na Vila Cruzeiro, uma comunidade que era totalmente dominada pelo tráfico de drogas há pelo menos sete anos, o clima dentro da favela no primeiro sábado após a ocupação das forças de segurança pública oscilou entre o alívio pelo aparente fim da guerra travada nos últimos dias e a revolta em virtude de abusos praticados durante as ações.
“Cheguei do trabalho na sexta-feira vibrando. Pô, ver a polícia aqui tomando conta, coisa que em 30 anos de favela eu nunca tinha visto, era bom demais. Mas o mocinho virou bandido”, lamenta Cosme Souza dos Santos. Porteiro em um prédio no centro da cidade e morador da Rua da Rainha, na Vila Cruzeiro, Cosme encontrou o portão de sua casa, instalado há menos de dois meses, arrombado. Roupas foram jogadas no chão. Móveis, destruídos. Anéis, brincos e um relógio da mulher do morador, Sandra Ferreira, sumiram.Vizinhos que acompanharam Cosme até a delegacia, onde o homem registrou ocorrência, apontaram policiais como os autores do arrombamento da casa. “Abriram minha geladeira e tomaram todos os refrigerantes que tinha, quase 10 latas”, reclama o porteiro, mostrando um recipiente vazio no quarto, abarrotado de objetos jogados no chão. “Minha casa ficou aberta, qualquer um podia entrar e levar o resto dos meus pertences conseguidos com muito suor e muito trabalho”, revolta-se Cosme, em frente à residência humilde localizada em um corredor estreito da Vila Cruzeiro.
Morro acima, na casa de outra moradora, que não quis se identificar, os policiais também detonaram a fechadura para entrar, conforme relatos de vizinhos. Mas a própria comunidade se encarregou de furtar mais objetos depois da ação dos homens fardados. Prova disso é a recuperação de parte do patrimônio por Isabel Jennerjahn, tia da moradora da casa. Ela vasculhou a residência dos vizinhos e conseguiu reaver dois butijões de gás, dois sofás, um ventilador, um filtro, uma bicicleta e até a árvore de Natal surrupiada por outros moradores.
“Meu Deus, o favelado sempre teve uma imagem de solidariedade. É absurdo os vizinhos se sentirem no direito de fazer o mesmo que os agentes do Estado fazem com a comunidade”, afirma Isabel, que faz parte da Rede de Comunidades contra a Violência, uma entidade não governamental de atuação nacional.
Luciene de França, mãe de uma menina de nove meses que prefere não mostrar o rosto para a fotografia, assim como quase todos os moradores, independentemente do conteúdo dito por eles, também teve uma surpresa desagradável ao chegar em casa, ontem, no alto da Vila Cruzeiro. Seu barraco estava arrombado.
“A comunidade não tem nada a ver com os bandidos. A gente mora aqui por necessidade. Você acha que eu não gostaria de ir para outro lugar? Mas eles tratam todo mundo igual”, reclama Luciene. Ela ainda não arrumou a fechadura de casa. Nem sabe quando poderá fazer o conserto. A mulher acredita que terá de passar mais uma noite na casa da irmã — ela está lá desde a quinta-feira passada — em virtude da falta de luz na Vila Cruzeiro. “A gente não quer traficante aqui, só quer que a polícia trabalhe direito, pegue quem tem que pegar e pronto. Sem esculachar a gente”, diz a mulher, com a filha no colo.
O relações públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Henrique Lima Castro, afirmou ser necessário forçar a entrada em casas aparentemente vazias. “No momento em que você conquista um território, tem de fazer a varredura. Só tem essa forma de procurar armas e drogas. Lógico que se desapareceram objetos de valor, peço que o morador registre a ocorrência imediatamente”, afirma o representante da corporação.
Ele destaca que a PM recebe relatos de traficantes tomando as casas para se esconder. Vem daí, segundo Lima Castro, a necessidade de entrar nas residências.
Apesar da revolta por parte de moradores prejudicados de alguma forma com a operação de segurança, a perspectiva de viver longe do domínio do tráfico e, ao mesmo tempo, atendidos por serviços públicos essenciais serve de alento. “Será que agora a polícia vai ficar? Dizem que está tudo bem, que está tudo ocupado, mas eu não sei. Só Deus para saber”, desconfia das notícias muito otimistas um comerciante da Praça Vila Cruzeiro, onde muitos comércios importantes estão localizados. Em bares e lanchonetes, pessoas tomavam cerveja e crianças andavam pelas ruas com tranquilidade, apesar da presença de carros blindados, inclusive um caveirão, da Polícia Militar fluminense. Cadáveres aos porcos
No início da tarde, uma senhora baixa e negra que gritava na praça, com uma criança no colo, era o retrato do desespero. “Tem 24 horas que meu menino de 16 anos está sumido. Botaram o corpo dele para os porcos”, chorava a mulher, identificada apenas como Dineia. Todos os moradores sabem onde fica o local sobre o qual a senhora falava. “É na vacaria, tem corpo lá, sim”, confirmaram os cerca de 10 transeuntes consultados pela reportagem na subida do morro da Vila Cruzeiro. O local é coberto por mata e pedras. Em vez de vacas, criadas no local tempos atrás, havia porcos se alimentando de cadáveres.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Rio de Janeiro informou não ter conhecimento do fato. Os moradores defendem, enfaticamente, que os corpos são de “vagabundos”, mas também de “inocentes” atingidos durante o confronto. Independentemente da verdade, o conflito urbano que já entrou para a história da segurança pública brasileira será lembrado por pessoas como Cosme, Luciene, Isabel e Dineia de uma jeito muito particular. Eles querem paz, mas também querem respeito.
Abusos também aconteceram no Complexo do Alemão
Uma cerca de ferro instalada pela polícia na Estrada do Itararé, via que dá acesso ao Complexo do Alemão, manteve cinco ônibus estacionados ao longo do domingo com o objetivo de transportar suspeitos encontrados durante a operação. Mas o local ficou durante boa parte do dia cheio de moradores que reclamavam de abusos — desde a detenção de parentes que nada teriam a ver com o tráfico à derrubada de casas por parte dos policiais. Ontem, o Correio mostrou as mesmas denúncias na Vila Cruzeiro, localizada no mesmo complexo.
Léia de Souza, 30 anos, tentava manter a calma, depois que a proximidade do helicóptero da Polícia Militar derrubou metade da casa de sua mãe, na Rua Araruá. “Graças a Deus ninguém ficou ferido, mas a gente não tem para onde ir. Quando reclamei com o policial, ele me mandou morar na casa dos vagabundos”, reclama a mulher, visivelmente confusa em relação a como pedir providências.
Uma senhora que se identificou como Sônia, da casa ao lado de Léia, também teve o muro destruído. Desesperada, a mulher gritava em meio aos policiais. “Tenho três filhos, moro sozinha, não sou bandida nem vagabunda. Mas eles não querem saber. Que proteção é essa que querem dar para a gente?”, questionava Sônia, transtornada. A destruição de seu muro e da casa de Léia ocorreu no momento em que o helicóptero da PM praticamente pousou numa laje próxima para carregar drogas encontradas em um imóvel perto dali.
Quando as famílias pediram para a imprensa fotografar as casas destruídas, um policial ordenou: “Sai da rua, entra para casa e não atrapalha nossa operação”, disse, rispidamente, o policial. Priscilaine Santana, 24 anos, pedia aos policiais, na cerca instalada na Estrada do Itararé, que liberassem logo seu marido. “A gente estava indo para o supermercado, aí revistaram a gente. Viram que ele tinha uma tatuagem e uma cicatriz na barriga, de uma cirurgia. É crime ter tatuagem?”, dizia Priscilaine. Dois homens, Jackson Soares e Elídio Bortolati, diziam ter apanhado de policiais, mostrando marcas pelas costas. Personagem da notícia Presente de grego
Ronai Braga, com a mulher, mostra o estrago em sua casa na Vila Cruzeiro: "Não sou contra a instituição. Sou contra os maus policiais, que usam a farda para prejudicar gente trabalhadora"A revolta acompanhada do choro compulsivo ainda preserva um senso de justiça. “Não sou contra a instituição e o trabalho que eles fazem. Entendo tudo que tem que acontecer para um futuro melhor. Sou contra os maus policiais, que usam a farda para prejudicar gente trabalhadora”, disse, aos prantos, Ronai Braga. Ele teve a casa, na Rua 16 da Vila Cruzeiro, arrombada por agentes da Polícia Civil, segundo vizinhos que o acompanharam na delegacia como testemunhas na hora de registrar a ocorrência. Além de destruírem os móveis da residência, na sexta-feira, os invasores levaram R$ 31 mil, que seriam dados como entrada de um apartamento que a família pretendia adquirir. Com todos os comprovantes na mão — depósitos bancários, rescisão recente de contrato de trabalho após oito anos com carteira assinada em uma empresa, extratos de FGTS e declarações de Imposto de Renda —, Ronai parece querer provar que seu dinheiro é suado. Pais de dois meninos de 2 e 9 anos, o casal não suporta olhar o quarto das crianças, com os móveis quebrados e as roupas jogadas no chão. A vizinhança do homem que atualmente trabalha como autônomo, pintando camisetas, relatou na delegacia que um dos policiais que entraram na casa era identificado no uniforme como Carlos A positivo – tipo sanguíneo tradicionalmente inscrito na farda dos agentes de segurança. Ronai completará 32 anos amanhã. “Olha que presente ganhei”, diz.
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Onde estão os mortos?
Por: LAURA CAPRIGLIONE e MARLENE BERGAMO, na Folha, via Reconquistando a Negritude
30/11/2010
Houve 37 mortes nas operações da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão; não se sabe como ocorreram nem quem era bandido ou inocente Marlene Bergamo - 30.nov.2010/ Folhapress
Enterro de Rogério Cavalcante, que morreu após ser atingido por uma bala no Alemão
O adolescente Davi Basílio Alves, de 17 anos, morreu na quinta-feira (25/11). Soldado do tráfico -a própria família o admite-, o jovem foi alvejado por policiais e caiu morto em uma rua de terra da Vila Cruzeiro, quando tentava fugir para o Complexo do Alemão. A mãe de Davi mora em uma viela suja, pichada com um imenso C.V. do Comando Vermelho, na parte baixa da favela.
A mulher logo recebeu a notícia de que o filho não conseguiu escapar. Quando o tiroteio amainou, ela correu ladeira acima. Viu Davi morto ao lado de um campinho de futebol e pediu aos soldados vasculhando as quebradas em busca de armas e drogas para que removessem o corpo de lá.
"Eles disseram que tinham mais o que fazer. Que, se ela tinha sido capaz de pôr um bandido no mundo, seria capaz também de enterrá-lo", rememorou uma vizinha.
A mãe telefonou para a funerária. "Disseram que não dava para fazer o trabalho." E não dava mesmo. Rajadas de tiros ainda cortavam a favela.
Choveu na noite de quinta. A manhã úmida veio com um calor de 29ºC na sexta. O corpo do adolescente grandalhão começou a incomodar. Rondavam urubus, que se empoleiravam às dezenas na torre de transmissão elétrica, a poucos metros dali.
AOS PORCOS Das mais de 20 pocilgas localizadas nos terrenos baldios próximos, saíam porcos magros, em estado de fome crônica. No sábado, o cadáver amanheceu dilacerado.
A mãe arrumou um carro -a vizinhança já não suportava o cheiro. O corpo foi enrolado em uma lona e conduzido ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha.
Oficialmente, o jovem morreu naquele dia. Ficou assim registrado na planilha divulgada pelo Instituto Médico Legal: Davi Basílio Alves, 17 anos, pardo, Vila Cruzeiro. Só.
Para a Polícia Militar, 37 pessoas morreram em confrontos polícia-bandidos desde o dia 21 na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.
Todo dia, a corporação solta um balanço das operações. Coisa sucinta, contabiliza mortos junto com número de garrafas PET e litros de álcool e gasolina apreendidos. Nenhum nome.
Para a Secretaria de Segurança Pública, morreram 18 pessoas (17 identificadas).
O número refere-se aos cadáveres produzidos a partir do dia 25. Os mortos entre os dias 21 e 24, a secretaria não contabiliza. E diz que nem o Instituto Médico Legal do Rio tem dados referentes aos mortos desse período, apesar de todos os corpos recolhidos nas favelas sinistradas pela violência terem sido encaminhados para lá.
INOCENTES Coincidentemente, a contabilidade da Secretaria de Segurança Pública, omitindo as estatísticas anteriores ao dia 25, evita mencionar incômodas mortes de inocentes óbvios. Como a da adolescente Rosângela Barbosa Alves, 14, atingida por um tiro nas costas enquanto estudava dentro de casa, na frente do computador. Ou a da dona de casa Janaína Romualdo dos Santos, 43, e de um idoso -todos atingidos por balas perdidas.
Sobre as mortes ocorridas a partir do dia 25, o IML nada informa a respeito das circunstâncias em que elas aconteceram. Diz que os "detalhes sobre os laudos são peças de investigação e não serão divulgados".
Assim, não se sabe se houve tiros à queima-roupa, ou o número de perfurações nos corpos, ou se houve concentração de disparos na cabeça. Nem sequer se sabe se alguém morreu esfaqueado.
SILÊNCIO
A Folha pediu para entrevistar um perito do IML. Resposta: "Infelizmente, não há perito disponível para conceder entrevista sobre o laudo cadavérico dos corpos".
"Esse tipo de silêncio seria inadmissível se os mortos fossem moradores ricos de Ipanema, mas, como é gente pobre, vale tudo", disse uma professora da Vila Cruzeiro.
O segurança Rogério Costa Cavalcante, 34, aparece em uma lista de mortos como um dos "traficantes que trocaram tiros com os policiais", segundo informação oficial da assessoria de comunicação da Polícia Civil do Rio.
Das poucas coisas que se sabe sobre os mortos nos confrontos dos últimos dias, uma das mais certas é que Rogério Costa Cavalcante não trocou tiros com os policiais. Ele foi alvejado bem na frente das câmeras de fotógrafos e cinegrafistas.
Tinha os bolsos cheios de convites para a festa de aniversário de seu único filho. Iria entregá-los quando deu o azar de ficar entre os fogos da polícia e dos traficantes.
Cavalcante caiu com um buraco na barriga, pediu socorro e desfaleceu na frente das câmeras. A Primeira Página da Folha de sábado passado (27/11) publicou a foto.
SEM AUTORIDADE
O homem foi enterrado no cemitério do Catumbi na terça-feira (30/ 11). Com a polícia acusando-o de ligação com o tráfico, nenhum representante do Estado achou necessário levar solidariedade à família. Da imprensa que se acotovelava no Complexo do Alemão quando Cavalcante foi atingido, só a Folha acompanhou o enterro.
O Ministério Público ainda aguarda a conclusão dos inquéritos sobre as mortes, para entrar na história. Isso pode demorar até 30 dias.
Na última quinta-feira, um grupo de ONGs com atuação na área dos confrontos reuniu-se para "construir uma agenda propositiva para o conjunto de favelas do Alemão". Pediam investimentos do governo. Sobre os 37 mortos, nenhuma palavra. LISTA PARCIAL VALDEMIRO CARLOTA, 45 (Negro) EWERSON GONÇALVES, 19 (Pardo) WILIAN DE ANDRADE, 20 (Branco) JONATAN BONFIM, 21 (Negro) MANOEL NOGUEIRA, 20 (Negro) FELIPE DE CARVALHO, 18 (Negro) EMERSON THOMÉ, 25 (Pardo) SERGIO DE MEDEIROS, 25 (Branco) JOÃO CARLOS ALVES, 19 (Pardo) RUAN DOS SANTOS, 21 (Pardo) THIAGO FARIA, 22 (Pardo) ANDERSON MENDES, 20 (Pardo) DAVI BASILIO ALVES, 17 (Pardo) JOÃO LENON RIBEIRO, 22 (Pardo) MAURO DOS SANTOS, 20 (Negro) ROGÉRIO CAVALCANTE, 34 (Branco) LUIS CARLOS JOSÉ, 32 (Pardo) NÃO IDENTIFICADO (Pardo)
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Morador diz que foi amarrado por policiais em blitz
Por LAURA CAPRIGLIONE e MARLENE BERGAMO, na Folha 02/12/2010
Amarrado com as mãos para trás por um fio de ventilador, amordaçado com a fralda do sobrinho de um mês, imobilizado em uma cadeira de espaldar alto, um biscateiro de 19 anos diz ter passado meia hora de terror em sua casa, na Vila Cruzeiro, na manhã de ontem.
A mãe, mulher, irmã e o filho de 3 anos dele, que estavam no imóvel na hora em que os policiais chegaram, foram expulsos do local pelos soldados. Ficaram na porta, gritando por socorro.
A Folha entrou na casa do biscateiro poucos minutos depois de os quatro policiais se retirarem em um carro azul claro e branco, as cores da PM. As crianças berravam. O rapaz teve uma crise de choro convulsivo. Mãe, mulher e irmã gritavam, assustadas e revoltadas. "Onde é que está o dinheiro? O que é que tu tem aí pra perder?, perguntavam todo o tempo. Falavam que se o dinheiro não aparecesse, me matariam", disse o biscateiro.
Os policiais vasculharam a casa. Com os canos de suas armas, estouraram o forro de plástico no teto, em busca de algo que pudesse estar escondido. Segundo a família, não encontraram nada.
A casa fica no segundo piso de um imóvel que era, até quinta passada, ocupado por um homem suspeito de ligações com o narcotráfico.
A polícia já vistoriou o piso inferior, que foi depois saqueado. Teto com sanca de gesso e lâmpadas embutidas agora estão quebrados. Sofás e móveis modulares da cozinha e banheiro também foram revirados.
SEGUNDA VEZ Segundo a irmã do biscateiro, policiais do Batalhão de Operações Especiais e da Tropa de Choque já estiveram em sua casa.
"Eles vieram, revistaram tudo e nos deixaram em paz. A gente achou até que era correto, porque tinha um sujeito meio bandido bem embaixo de nós. Mas hoje foi diferente. Quando viram que não tinha nada aqui em casa, mandaram todos nós sairmos de casa e ficaram aqui só com meu irmão. Para nós, parecia que nunca mais íamos revê-lo com vida."
A doméstica Maria, 52, mãe do biscateiro, gritou tanto pedindo para entrar em sua casa que mal conseguia falar com a Folha. Segundo ela, os policiais haviam retirado as identificações de seus uniformes. "Eu só vi que um deles era O+", disse, referindo-se ao tipo sanguíneo de um dos soldados.
A assessoria da PM do Rio afirma que as denúncias de abusos cometidos por policiais serão investigadas e que o comando da tropa punirá "com rigor" os envolvidos em "desvios de conduta".
A família do rapaz não pretende denunciar os policiais. "Quando vocês forem embora, eles vêm e acertam contas com a gente", disse a mãe.