A namoradinha-vovó do Brasil se presta a cada papel pra defender a sua classe, que dá medo! Vejamos:
Em 1985, a viúva Porcina da 'ditabranda' tinha medo do Suplicy. A campanha apelativa, da qual ela foi garota propaganda, tinha como foco os eleitores petistas ou simpatizantes ao candidato Suplicy. No seu melhor estilo teledramático a dama da sucata pré-tucana clamava aos eleitores de esquerda a aderirem ao voto 'útil' (em FHC é claro), contra Jânio Quadros.
Segundo ela, vivíamos em um tempo de 'democracia frágil' e se os eleitores petistas ou simpatizantes 'gastassem' os votos em Suplicy correríamos o risco de nos transformar na Alemanha nazista! Votar em Suplicy para prefeito da cidade de São Paulo era propiciar a 'união da corrupção com as forças reacionárias da ditadura,' era ajudar o Jânio! E na seqüência vem a pérola histórica: a associação do contexto de 1985, pós Diretas-Já, com o da Alemanha pré-Hitler!
Regina Duarte fugiu das aulas de história ainda no Ensino Fundamental: comparar o contexto de redemocratização que vivia o Brasil nos anos de 1980 com o de ascensão do Estado totalitário na Alemanha é de fazer Clio dar voltas no monte Hélicon. Mas continuemos: tal associação era necessária para buscar convencer a ala dos eleitores mais à esquerda a se unirem ao candidato que à época ainda era do PMDB e três anos depois criaria o PSDB: FHC. Curioso é que, no discurso de Regina e do pré-tucanato, o PT, os eleitores petistas e seus simpatizantes ascenderam à categoria de 'democratas'. Confiram:
Nas eleições de 1985, a derrota de FHC para Jânio Quadros no pleito da cidade de São Paulo deveu-se, exclusivamente, à incompetência daquela campanha e à postura pernóstica do anti-popular candidato FHC, que se sentou na cadeira de prefeito como se a eleição já tivesse ganha. Mas, durante mais de uma década, o tucanato, nascido em 1988, culpou os petistas pela derrota da eleição de FHC para Jânio Quadros.
O medo cega as pessoas e, de forma geral, os oportunistas se aproveitam do medo para dar o bote. Em 2002, o medo da vovó Regina continuou firme e forte, só que desta vez ele foi dirigido para outro público, o formado pelo anti-lulismo. Regina não falava mais aos petistas e simpatizantes convocando-os a se unir aos 'guardiães da democracia', porque, em 2002, aquele eleitorado havia crescido e tornado o seu candidato forte. Confiram:
No discurso do tucanato levado ao ar pela musa tucana pecuarista, os eleitores petistas e simpatizantes de 'democratas úteis' em 1985, tornaram-se, em 2002, os inimigos-mor da democracia.
Em 2002, eleger Lula significaria jogar na "lata do lixo" todas as 'conquistas da democracia' e a 'volta da inflação desenfreada'. Naquela ocasião Regina defendia a candidatura do tucano Serra e o medo oportunista espalhado por ela focava os anti-petistas, anti-lulistas e todo o espectro do eleitorado conservador, ou seja, os mesmos que nas eleições municipais de 1985 a Porcina ruralista dizia que destruiriam a 'frágil democracia', caso os petistas e simpatizantes não abandonassem Suplicy e votassem em FHC! Assim, como num passe de mágica do discurso do demotucanato de 'democratas' os eleitores petistas e simpatizantes se tornaram o pior mal que o país poderia ter.
Ambos os discursos, embora em seus diferentes tempos tenham mirado eleitores de espectros políticos muito diversos mobilizaram o medo em relação ao inimigo da vez. Além do medo, o discurso tucano possui uma característica que persiste até hoje: são sempre os políticos tucanos os 'eleitos' a ser os 'guardiães da democracia', são eles que ditarão a nós, eleitores 'inocentes úteis' ou sem formação política, sem preparo, sem autonomia, sem visão da 'história' e também 'sem visão de futuro', qual é o melhor caminho a trilhar. Sem os 'eleitos' do demotucanato não somos nada, pobre de nós.
Hoje, Regina Duarte tem medo da demarcação das terras indígenas e quilombolas. Para ela a propriedade é 'direito inalienável', mesmo que grande parte dos ruralistas como ela tenha conseguido montar seus latifúndios invadindo terras indígenas e de quilombolas. Para a namoradinha-vovó do Brasil, a vida e a garantia constitucional dos povos indígenas e dos quilombolas de terem os direitos originários de suas terras assegurados para que possam se manter vivos e as suas culturas não devem ser consideradas. [caption id="attachment_958" align="aligncenter" width="448"] Agradeço ao Latuff, que fez esta charge especialmente para este post e me deu o privilégio de vê-la sendo criada, além de me presentear com o desenho original.[/caption]
Nada como um ano após o outro para dissipar o medo. Se acreditássemos no discurso da dama dos 'guardiães da democracia tucana' e tivéssemos medo em 1985 não teríamos exercido nosso direito democrático de votar no candidato que, estando ou não na frente das pesquisas de boca de urna, considerávamos melhor para governar a cidade. Suplicy perdeu, Jânio foi eleito, mas isso não nos jogou no limbo da história autoritária. No nível nacional, o Brasil não acabou, a democracia se fortaleceu e conseguimos nos últimos seis anos, mesmo com a privataria do período do FHC, reconstruir a imagem positiva do Brasil internamente e no exterior.
Agora, confesso a vocês, ando curiosa. Do que será que Regina Duarte e o demotucanato terão medo em 2010?
Terão medo de o Brasil continuar com crescimento interno, de ser entre as 35 economias mais ricas do mundo a que apresenta o menor risco econômico e a que vem recebendo maior investimento estrangeiro?
Terão medo da diminuição da mortalidade infantil e da de doenças endêmicas, decorrente do PAC programa do qual cerca de 60% das obras são voltadas ao saneamento básico nos rincões do país? Terão medo do acesso à energia elétrica nas áreas mais remotas do território nacional? Da democratização da internet?
Se atemorizarão com o bolsa-família que elevou em cerca de 4 milhões o número de pessoas que ascendeu à classe C e fez com que o mercado interno se movimentasse de maneira inédita? Terão medo do programa de construção e acesso ao financiamento promovido pelo "Minha casa, minha vida', para que mais cidadãos brasileiros possam comprar a casa própria?
Difundirão o terror diante do fato de, finalmente, o governo federal começar a atender demandas históricas do movimento negro e levar mais a sério as políticas públicas que considerem o recorte étnico-racial?
Terão medo da derrota dos ruralistas e de seu defensor-mor, o coronel Gilmar 'Dantas' como no embate da Raposa Serra do Sol?
Terão medo de o presidente Lula (juntamente com outros partidos não entreguistas e a sociedade civil que prezam a soberania nacional e desejam proteger a riqueza nacional do pré-sal), mudar a legislação vendilhona do governo de FHC que retirou o controle do governo brasileiro da Petrobras e o entregou a companhias estrangeiras?
Quanto a nós, os eleitores ora 'democratas' ora 'inimigos-mor' de acordo com o demotucanato, não nos esqueceremos do que foi o governo FHC e nos lembraremos do que representou o governo Serra no estado de São Paulo e o do seu aliado na administração da prefeitura de São Paulo.
Repudiamos, igualmente a atual e constante inabilidade das administrações do demotucanato na cidade e no estado de São Paulo. No âmbito estadual os 'guardiões da democracia que tudo sabem' enterraram a educação pública estadual, mandaram a tropa de choque invadir a Universidade de São Paulo, fizeram contratos espúrios com os grandes grupos midiáticos, produziram apostilas com dois Paraguais, espalharam preconceitos contra os negros e seus secretários afirmam que a população negra neste país deve esperar mais 500 anos para ser elevada a cidadã de primeira categoria. Nós repudiamos e não esqueceremos dos contratos espúrios de Serra com a Alston que além de transformar a cidade de São Paulo em um buraco ceifou a vida de sete pessoas...
Nos lembraremos que o síndico de casinhas de bonecas está transformando a cidade mais rica deste país em um caos urbano na qual somos impedidos de exercer nosso direito de ir e vir, está destruindo a concepção original dos CEUs e permitindo que empresas lobistas e corruptas lucrem ciminosamente com a merenda das crianças. Não nos esqueceremos dos precatórios de Serra e Kassab e do abandono da dupla dinâmica em relação à saúde pública. Está muito vivo em nossa memória o abandono das vias públicas, a completa ausência de um política de transporte efetivo e o lixo tomando conta da cidade de São Paulo.
Mas diante de tudo isso, nós não temos medo. Porque acreditamos no jogo democrático, no poder de reação e conscientização do povo brasileiro e do eleitorado paulista. Estamos prontos para o medo da vez do demotucanato em 2010.