PT quer voltar às bandeiras de 2002 e o PITU ataca de sexista

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PITU, segundo meu amigo bodegueiro, é o Partido da Imprensa Tucana. Este partido atua em diversas frentes: na CBN, na UOL e em muitas tvs e jornais do país afora com comentaristas do naipe da Lúcia Hippólito de uns psicanalistas que ninguém nunca ouviu falar e de âncoras como Alexandre Garcia, William Bonner, Boris Casoy e afins.

Há casos extremos como os citados acima e outros mais sutis. Da lista imensa de exemplos que poderia recolher, destaco uma das estratégias do PITU: à primeira vista parecem engraçadinhos, mas no conjunto da obra apelam, inclusive, para a desqualificação de gênero.

A dica é do Edu Guimarães: prestem atenção ao destaque que o Edu fez na imagem abaixo ao título dado por Josias de Souza ao seu post 'ingênuo'. Atentem para os adjetivos escolhidos por Josias de Souza, depois examinem as protagonistas da foto e as imagens textuais selecionadas para ser associadas às mulheres fotografadas. Esta é uma maneira subliminar de desqualificação: ao associar termos e expressões com duplo sentido à imagem das fotografadas, veja o resultado produzido pelo blogueiro político da UOL:


1. Veneno: No jantar oferecido por Marta a Dilma, na sexta (13), a candidata companheira comparou-se ao FHC da eleição de 1994.

Naquele pleito, empurrado pelo Real, o tucano voou de um ministério (Fazenda) para o Planalto, deixando pelo caminho um Lula que as pesquisas davam como favorito.

Pelo menos um grão-petista deixou o repasto com a impressão de que alguma coisa subiu à cabeça da presidenciável oficial do Planalto.

Lamentou que Dilma tenha apagado da memória o Serra de 2002, um tucano que também alçou vôo de um ministério (Saúde) e quebrou o bico.

De resto, o partidário cético de Dilma acha que, por ora, o PAC está mais para o programa de genéricos de Serra do que para o Real de FHC.



Perceberam? O autor desqualificador opera no subconsciente de uma sociedade com longa história patriarcal, sexista, machista, chauvinista e de muita violência contra as mulheres. Escolher a dedo termos como "vadias," "vagabundas", "bico", "asas" , "grãos" (só faltaram as penas) tem um propósito claro neste contexto.

Ainda vivemos em uma sociedade que mulheres no centro de poder são exceções e por ousar ocupá-los são constantemente desqualificadas. E é neste registro que operam manchete, imagem e texto do Josias de Souza.

Será que ainda precisamos lembrá-lo do quão danoso é esta estratégia para as relações entre homens e mulheres e para as lutas femininas por respeito e dignidade?

Será que precisaremos lembrá-lo que ações como estas contribuem pra aumentar a violência contra as mulheres?

E ainda tem gente que acha que o governo petista não contribui para melhorar a nossa sociedade, pois foi neste governo que foi aprovada a Lei Maria da Penha e textos como este prestam desserviço às mulheres e ao país.

E por falar em PT, adentremos no segundo bloco deste post: segundo Celso Lungaretti em tempos de crise econômica, o PT se organiza para enfrentar o Demo-tucanato recuperando velhas bandeiras. A pergunta que não quer calar: com estratégias como esta do PITU que acabamos de ver exemplificada, com quantas oposições o PT terá que lutar?



PT QUER VOLTAR AOS TEMPOS DO "LULA-LÁ"
Celso Lungaretti (*)

Na última terça-feira (10) o Diretório Nacional do PT aprovou uma resolução política que representa, na prática, uma volta às posições defendidas pelo partido antes da eleição presidencial de 2002.

A recessão que se aprofunda no mundo capitalista, tendente a virar depressão, fez com que o PT apostasse nas antigas bandeiras ideológicas para tentar eleger Dilma Roussef no ano que vem.

Afinal, o pleito ocorrerá num momento crítico, como a resolução enfatiza: "Estamos diante da maior crise econômica mundial desde a Grande Depressão originada em 1929 (...). A grave crise econômica atual, além de agravar a crise social e alimentar já antes dramática em várias partes do mundo, vem se somar à intensa crise ambiental para a qual o capitalismo não consegue dar resposta. Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo".
Daí concluir o PT que "é o momento de ofensiva contra a ideologia dos senhores do capitalismo mundial".

Que passa, claro, por uma ofensiva contra o PSDB e o DEM na próxima eleição presidencial: "A disputa que se travará em 2010 será entre dois projetos. De um lado, as forças progressistas e de esquerda, que querem dar continuidade à ação do governo Lula, reduzindo desigualdades sociais e regionais, ampliando o investimento público, fortalecendo o papel indutor e planejador do Estado, gerando empregos e distribuindo renda, fortalecendo a saúde, a previdência e o ensino público, exercendo uma política externa que fortalece a soberania e a integração continental. De outro lado, as forças neoliberais, conservadoras e de direita, que de 1990 até 2002 privatizaram, desempregaram e arrocharam o povo brasileiro, implementando em nosso país as mesmas políticas que estão na raiz da crise mundial".

Elogios em boca própria à parte, é evidente que o PT, por força das circunstâncias, ensaia a retomada do seu projeto político da década passada, depois de surfar oportunisticamente nas ondas do neoliberalismo entre 2002 e 2008; e que, se as posições enunciadas nessa resolução política forem mantidas na campanha, a esquerda o acabará apoiando maciçamente no previsível 2º turno entre Dilma e Serra. Motivo? A alternativa é muito pior.

Ficará na nossa boca, entretanto, o gosto amargo da lembrança destes seis anos em que os bancos lucraram como nunca e o grande capital teve todos os seus interesses atendidos. Estar novamente com as posições certas não redimirá o PT da facilidade com que delas abdicou para obter o consentimento dos poderosos quando queria chegar ao Planalto.

Também soa meio ridículo este parágrafo: "O PT se posiciona contra as propostas de flexibilização de direitos trabalhistas que estão sendo defendidas por parte do empresariado brasileiro, com apoio de setores da mídia. O PT repudia a postura de setores empresariais que lucraram muito nos últimos anos e, diante das primeiras dificuldades, recorrem às demissões como forma imediata de ajuste".

Em tese, corretíssimo. Só que Lula não tem agido com a diligência para evitar as demissões que tínhamos o direito de esperar de um ex-sindicalista alçado à Presidência da República. Se quiser tornar crível esse discurso, terá de melhorar sua performance.

O PT dá os passos certos para reassumir, pelo menos, a condição de mal menor - o que não foi o caso da eleição de 2006, quando o 2º turno parecia estar sendo disputado entre irmãos siameses.

Vamos torcer para que se torne, isto sim, um bem maior. Ou seja, para que deixe de ser camaleônico e doravante mantenha sempre tal identidade, chova ou faça sol.
Era isto que esperávamos do partido formado pela esquerda que resistiu à ditadura, por sindicalistas que realmente enfrentavam o patronato e pelas alas progressistas da Igreja Católica, cujo crescimento se deu graças ao idealismo e aos esforços voluntários dos seus seguidores.

* Jornalista e escritor, mantém os blogs Náufrago da Utopia e O rebate