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Flávio Aguiar, Carta Maior.
Nos comentários e análises que correm sobre a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, fica mais ou menos claro o que está por trás dela. Aqueles e aquelas podem ser mais ou menos acendrados em defesa da causa palestina, do Hamás (podem até ser bem críticos em relação a esse agrupamento político), mas retira-se, mais ou menos por consenso, as seguintes motivações para a brutal carnificina aérea que vem se processando, agora desdobrada e agravada pela invasão por terra:
1) Há um claro intuito eleitoral, uma vez que a coalizão conservadora no poder, liderada por Tzipi Livin, está ameaçada pelos ultra-conservadores liderados por Benyamin Netanhyau, no pleito antecipado para o próximo 10 de fevereiro.
2) Para as intenções de voto é crucial cortejar os colonos israelenses assentados ao sul de Israel, na região próxima à Faixa de Gaza.
3) Para isso é necessário elevar o moral militar de Israel, combalido depois da fracassada campanha contra o Hizbollah no Líbano, em 2006.
4) Para esses objetivos, o Hamás é um alvo político conveniente, por várias razões: é fraco militarmente; não tem apoio no mundo árabe; não tem o apoio nem mesmo da Fatah, sua co-irmã e rival. Politicamente, embora tenha o apoio até agora da população de Gaza, a posição do Hamás também é frágil e padece de inconsistências, pois sua política de lançar foguetes sobre Israel, mesmo como retaliação pelo bloqueio econômico, político, social e cultural sobre a Faixa, aproxima-se da temeridade de “cutucar a onça com vara curta”. É evidente que o objetivo imediato dessa política é diferenciar-se da Fatah, não ameaçar de fato Israel.
5) Além disso, há um objetivo de ganhar tempo. Apesar de não se esperar mudanças significativas na política externa norte-americana em relação ao Oriente Médio com a posse próxima de Barack Obama, é evidente que o governo israelense se sentia muito mais confortável com a dupla Bush Filho – Condoleezza Rice no poder. Trata-se de agir agora, antes que qualquer surpresa, mesmo completamente inesperada, possa se armar.
A questão maior é o que está pela frente. Isto é, quais serão os desdobramentos desse gesto político-militar que parte de um governo fragilizado, assombrado por uma direita interna cada vez mais agressiva, e cada vez mais isolado diante da opinião pública mundial, pelo menos a melhor informada.
Uma coisa é certa: a causa de Israel está sendo perdida, e pelos próprios israelenses. Israel é uma criação da ONU (1948), e só assim, como uma causa mundial, o país fez e faz sentido. Houve muita controvérsia, inclusive entre os movimentos políticos judaicos, sobre se Israel deveria ou não ter sido criado. Mas ele foi; e agora, falar da destruição do Estado de Israel (como fazem o Hamás e o Irã) implica, mesmo que se pretenda que não, em destruir o povo judaico na região.
No entanto, progressiva e mesmo programaticamente, Israel vem se distanciando deste tipo de cobertura internacional, tendo optado por um jogo de alianças com as políticas imperialistas dos Estados Unidos de algumas das potências européias na região. A realpolitik de Israel, sua busca por um “lebensraum” para assentar colonos e assentar-se em sua política interna, vem destruindo sua possibilidade política de sobrevivência a longo prazo. Israel vem se transformando num fantasma de si mesmo. A política de Israel vem sendo engolfada pelo terror. Pelo seu próprio terrorismo de estado em relação à população palestina; pelo terrorismo contrário que sua política fomenta. É justo, apesar das negativas histéricas ou feéricas, dizer que em parte o Hamas é uma cria de Israel, pois os governos deste, enquanto puderam, humilharam e sufocaram a Fatah e a Autoridade Palestina, chegando ao ponto de transformar a casa de seu líder num monte de
escombros.
Mas há mais. Premido pelas circunstâncias ou forçando-as, Israel optou por desenvolver sua própria política de hegemonia regional, às vezes até confrontando os interesses e o jogo político de seu maior protetor, os Estados Unidos. Dois casos ilustram muito bem esse jogo em que às vezes o menor encurrala o maior, contando, é claro, com seu lobby eleitoral em estados-chave para as eleições norte-americanas.
Já a partir de 1948 Israel iniciou seu programa nuclear, e hoje ninguém de bom senso duvida que seja um dos países que detém o poder da bomba. Em segundo lugar, Israel aproximou-se, nessa mesma atitude “defensiva”, da África do Sul, no tempo do regime do apartheid, o que abalou o serviço de defesa norte-americano. Graças a essa aproximação criou-se, por exemplo, o controverso caso do “Incidente Vela”, de setembro de 1977, quando um satélite norte-americano com esse nome captou indícios bastante consistentes de uma explosão nuclear no Oceano Índico, e os serviços secretos de vários países, por sua vez, captaram sinais bastante convincentes de que essa possível explosão nuclear seria uma operação conjunta do regime sul-africano e do governo de Israel.
Até hoje se discute se houve ou não a explosão; mas a aproximação de Israel com o pior da direita africana, através do Mossad ou de quadros jubilados desse serviço secreto, é bastante evidente. Um dos casos mais escandalosos disso foi a sustentação do regime de Houphouet Boigny na Costa do Marfim e depois o apoio sub-reptício dado a grupos populistas de direita contra os governos social-democratas no país, grupos esses que, curiosamente, tinham como uma de suas bases a população muçulmana empobrecida no norte do país.
Nesse ponto Israel parece ter atravessado o Rubicão no sentido de uma política imperial de conquista de espaço polít ico a qualquer custo. Qualquer aproximação com um regime como o do apartheid nega pela raiz qualquer das idéias que levou à fundamentação da própria criação de Israel. Esse é o nó maior do que está acontecendo agora.
O tipo de guerra que Israel vem desenvolvendo na Faixa de Gaza, da qual a atual ofensiva é apenas uma parte, leva um observador que queira um pouco pelo menos de objetividade a considerar que ela se enraíza na idéia de que não há uma guerra entre Estados. Não há um propriamente um Estado palestino; Israel nunca deixou que isso pudesse se armar. A guerra parece ser mesmo “entre povos”. Nesse tipo de lógica, a sobrevivência de um supõe a destruição do outro. Não do outro estado, mas do outro povo. Coisa de Roma contra Cartago, mais ou menos.
É impossível hoje fazer o que Roma fez com Cartago, o que equivaleria na atual situação a destruir o povo palestino fisicamente. Trata-se então de destruí-lo espiritualmente. Ou seja, se é verdade que o alvo presente e imediato da ofensiva é o Hamás, o alvo permanente da guerra é o próprio povo palestino: bombardeá-lo, isolá-lo, sufoca-lo, até que espiritualmente ele se renda.
É uma guerra louca, porque seu primeiro efeito é o efeito bumerangue: os sobreviventes alemães do nazismo sabem muito bem disso. A insensibilidade em relação ao outro leva à insensibilidade em relação aos seus. Parodiando o famoso poema de Brecht, começa-se matando comunistas, depois os judeus, depois os ciganos, depois os homossexuais, depois os deficientes, depois... o vizinho e assim por diante: a lista não tem fim. A presente guerra é o prenúncio de uma guerra completamente fratricida no interior mesmo de Israel, no momento em que qualquer dos seus pilares de sustentação, sejam os econômicos ou as alianças políticas em escala mundial, fraquejarem. De certo modo isto já está acontecendo, pois arrastar um país inteiro numa guerra a longo prazo suicida, à beira de uma eleição é mais ou menos desenhar a perspectiva de ganhar ambas semeando minas para os próprios pés. Os pés do próprio povo, quero dizer.
É verdade que desafios análogos se colocam para a causa palestina. Não adianta clamar pela obediência às resoluções da ONU sobre fronteiras em 1967 se não se aceitar a resolução da mesma ONU de 1948. Não adianta clamar por um Estado palestino com reconhecimento internacional se os movimentos políticos palestinos não reconhecem sequer mutuamente a sua legitimidade. Antes de negociar com Israel ou outros é necessário que Hamás e Fatah negociem entre si.
Mais do que nunca, portanto, é necessário concertar duas coisas:
1) A causa da solidariedade internacional, em todos os níveis. Somente uma pressão internacional vigorosa poderá demover Israel de sua “guerra louca”; somente a idéia de que é possível, mesmo que no horizonte distante, concertar uma idéia de convivência soberana entre povos e nações, poderá neutralizar, mesmo que devagar, as políticas de aniquilamento mútuo que levam, no fundo, ao próprio aniquilamento moral.
2) É necessário mais do que nunca se solidarizar com a história do povo palestino e também com a história do povo judeu. É necessário lembrar, não só aos judeus e aos israelenses, mas a todos os povos do mundo, que permitir que o governo israelense, seja por que razões geo ou intra-políticas for, transforme a Faixa de Gaza numa espécie de Gueto de Varsóvia redivivo, é a pior afronta que se pode fazer à própria história do povo judeu, que durante séculos foi um dos alvos e bodes expiatórios da intolerância e da construção da desigualdade. Até por que o anti-semitismo, depois de séculos de construção, não vai desaparecer de uma hora para outra. Ao contrário, ele está apenas adormecido no fundo da gaveta, pronto para o bote. E se nada mudar, esse bote virá. Em que parte do mundo? Não se sabe, o que só aumenta a sensação de terror e o desarme da política.
Penso que uma maneira prática de enfrentar, a partir da cidadania comum, esses dilemas dramáticos, pode se assentar nas universidades, lugar de reflexão e que deveria ser instrumento de construção de uma cultura da paz em qualquer lugar do mundo. O ataque da aviação israelense contra a Universidade de Gaza é um bom motivo para se empreender uma tal reflexão e uma tal ação. Os departamentos e programas universitários – TODOS, não apenas os de hebraico e árabe, deveriam se comprometer com reflexões públicas sobre as possibilidades de paz na região e no mundo, diante dessa situação patética que só interessa a falcões. Seria um passo, pequeno, mas certamente adiante.
É necessário lembrar, não só aos judeus e aos israelenses, mas a todos os povos do mundo, que permitir que o governo israelense transforme a Faixa de Gaza numa espécie de Gueto de Varsóvia redivivo, é a pior afronta que se pode fazer à própria história do povo judeu que durante séculos foi um dos alvos da intolerância e da construção da desigualdade.
Nos comentários e análises que correm sobre a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, fica mais ou menos claro o que está por trás dela. Aqueles e aquelas podem ser mais ou menos acendrados em defesa da causa palestina, do Hamás (podem até ser bem críticos em relação a esse agrupamento político), mas retira-se, mais ou menos por consenso, as seguintes motivações para a brutal carnificina aérea que vem se processando, agora desdobrada e agravada pela invasão por terra:
1) Há um claro intuito eleitoral, uma vez que a coalizão conservadora no poder, liderada por Tzipi Livin, está ameaçada pelos ultra-conservadores liderados por Benyamin Netanhyau, no pleito antecipado para o próximo 10 de fevereiro.
2) Para as intenções de voto é crucial cortejar os colonos israelenses assentados ao sul de Israel, na região próxima à Faixa de Gaza.
3) Para isso é necessário elevar o moral militar de Israel, combalido depois da fracassada campanha contra o Hizbollah no Líbano, em 2006.
4) Para esses objetivos, o Hamás é um alvo político conveniente, por várias razões: é fraco militarmente; não tem apoio no mundo árabe; não tem o apoio nem mesmo da Fatah, sua co-irmã e rival. Politicamente, embora tenha o apoio até agora da população de Gaza, a posição do Hamás também é frágil e padece de inconsistências, pois sua política de lançar foguetes sobre Israel, mesmo como retaliação pelo bloqueio econômico, político, social e cultural sobre a Faixa, aproxima-se da temeridade de “cutucar a onça com vara curta”. É evidente que o objetivo imediato dessa política é diferenciar-se da Fatah, não ameaçar de fato Israel.
5) Além disso, há um objetivo de ganhar tempo. Apesar de não se esperar mudanças significativas na política externa norte-americana em relação ao Oriente Médio com a posse próxima de Barack Obama, é evidente que o governo israelense se sentia muito mais confortável com a dupla Bush Filho – Condoleezza Rice no poder. Trata-se de agir agora, antes que qualquer surpresa, mesmo completamente inesperada, possa se armar.
A questão maior é o que está pela frente. Isto é, quais serão os desdobramentos desse gesto político-militar que parte de um governo fragilizado, assombrado por uma direita interna cada vez mais agressiva, e cada vez mais isolado diante da opinião pública mundial, pelo menos a melhor informada.
Dois cartuns de Carlos Latuff usados em uma manifestação em Konya, Turquia, ontra o massacre de Gaza, janeiro de 2009. Ao fundo um carro da polícia e policiais observam o protesto.
Uma coisa é certa: a causa de Israel está sendo perdida, e pelos próprios israelenses. Israel é uma criação da ONU (1948), e só assim, como uma causa mundial, o país fez e faz sentido. Houve muita controvérsia, inclusive entre os movimentos políticos judaicos, sobre se Israel deveria ou não ter sido criado. Mas ele foi; e agora, falar da destruição do Estado de Israel (como fazem o Hamás e o Irã) implica, mesmo que se pretenda que não, em destruir o povo judaico na região.
No entanto, progressiva e mesmo programaticamente, Israel vem se distanciando deste tipo de cobertura internacional, tendo optado por um jogo de alianças com as políticas imperialistas dos Estados Unidos de algumas das potências européias na região. A realpolitik de Israel, sua busca por um “lebensraum” para assentar colonos e assentar-se em sua política interna, vem destruindo sua possibilidade política de sobrevivência a longo prazo. Israel vem se transformando num fantasma de si mesmo. A política de Israel vem sendo engolfada pelo terror. Pelo seu próprio terrorismo de estado em relação à população palestina; pelo terrorismo contrário que sua política fomenta. É justo, apesar das negativas histéricas ou feéricas, dizer que em parte o Hamas é uma cria de Israel, pois os governos deste, enquanto puderam, humilharam e sufocaram a Fatah e a Autoridade Palestina, chegando ao ponto de transformar a casa de seu líder num monte de
escombros.
Mas há mais. Premido pelas circunstâncias ou forçando-as, Israel optou por desenvolver sua própria política de hegemonia regional, às vezes até confrontando os interesses e o jogo político de seu maior protetor, os Estados Unidos. Dois casos ilustram muito bem esse jogo em que às vezes o menor encurrala o maior, contando, é claro, com seu lobby eleitoral em estados-chave para as eleições norte-americanas.
Já a partir de 1948 Israel iniciou seu programa nuclear, e hoje ninguém de bom senso duvida que seja um dos países que detém o poder da bomba. Em segundo lugar, Israel aproximou-se, nessa mesma atitude “defensiva”, da África do Sul, no tempo do regime do apartheid, o que abalou o serviço de defesa norte-americano. Graças a essa aproximação criou-se, por exemplo, o controverso caso do “Incidente Vela”, de setembro de 1977, quando um satélite norte-americano com esse nome captou indícios bastante consistentes de uma explosão nuclear no Oceano Índico, e os serviços secretos de vários países, por sua vez, captaram sinais bastante convincentes de que essa possível explosão nuclear seria uma operação conjunta do regime sul-africano e do governo de Israel.
Até hoje se discute se houve ou não a explosão; mas a aproximação de Israel com o pior da direita africana, através do Mossad ou de quadros jubilados desse serviço secreto, é bastante evidente. Um dos casos mais escandalosos disso foi a sustentação do regime de Houphouet Boigny na Costa do Marfim e depois o apoio sub-reptício dado a grupos populistas de direita contra os governos social-democratas no país, grupos esses que, curiosamente, tinham como uma de suas bases a população muçulmana empobrecida no norte do país.
Nesse ponto Israel parece ter atravessado o Rubicão no sentido de uma política imperial de conquista de espaço polít ico a qualquer custo. Qualquer aproximação com um regime como o do apartheid nega pela raiz qualquer das idéias que levou à fundamentação da própria criação de Israel. Esse é o nó maior do que está acontecendo agora.
O tipo de guerra que Israel vem desenvolvendo na Faixa de Gaza, da qual a atual ofensiva é apenas uma parte, leva um observador que queira um pouco pelo menos de objetividade a considerar que ela se enraíza na idéia de que não há uma guerra entre Estados. Não há um propriamente um Estado palestino; Israel nunca deixou que isso pudesse se armar. A guerra parece ser mesmo “entre povos”. Nesse tipo de lógica, a sobrevivência de um supõe a destruição do outro. Não do outro estado, mas do outro povo. Coisa de Roma contra Cartago, mais ou menos.
É impossível hoje fazer o que Roma fez com Cartago, o que equivaleria na atual situação a destruir o povo palestino fisicamente. Trata-se então de destruí-lo espiritualmente. Ou seja, se é verdade que o alvo presente e imediato da ofensiva é o Hamás, o alvo permanente da guerra é o próprio povo palestino: bombardeá-lo, isolá-lo, sufoca-lo, até que espiritualmente ele se renda.
É uma guerra louca, porque seu primeiro efeito é o efeito bumerangue: os sobreviventes alemães do nazismo sabem muito bem disso. A insensibilidade em relação ao outro leva à insensibilidade em relação aos seus. Parodiando o famoso poema de Brecht, começa-se matando comunistas, depois os judeus, depois os ciganos, depois os homossexuais, depois os deficientes, depois... o vizinho e assim por diante: a lista não tem fim. A presente guerra é o prenúncio de uma guerra completamente fratricida no interior mesmo de Israel, no momento em que qualquer dos seus pilares de sustentação, sejam os econômicos ou as alianças políticas em escala mundial, fraquejarem. De certo modo isto já está acontecendo, pois arrastar um país inteiro numa guerra a longo prazo suicida, à beira de uma eleição é mais ou menos desenhar a perspectiva de ganhar ambas semeando minas para os próprios pés. Os pés do próprio povo, quero dizer.
É verdade que desafios análogos se colocam para a causa palestina. Não adianta clamar pela obediência às resoluções da ONU sobre fronteiras em 1967 se não se aceitar a resolução da mesma ONU de 1948. Não adianta clamar por um Estado palestino com reconhecimento internacional se os movimentos políticos palestinos não reconhecem sequer mutuamente a sua legitimidade. Antes de negociar com Israel ou outros é necessário que Hamás e Fatah negociem entre si.
Mais do que nunca, portanto, é necessário concertar duas coisas:
1) A causa da solidariedade internacional, em todos os níveis. Somente uma pressão internacional vigorosa poderá demover Israel de sua “guerra louca”; somente a idéia de que é possível, mesmo que no horizonte distante, concertar uma idéia de convivência soberana entre povos e nações, poderá neutralizar, mesmo que devagar, as políticas de aniquilamento mútuo que levam, no fundo, ao próprio aniquilamento moral.
2) É necessário mais do que nunca se solidarizar com a história do povo palestino e também com a história do povo judeu. É necessário lembrar, não só aos judeus e aos israelenses, mas a todos os povos do mundo, que permitir que o governo israelense, seja por que razões geo ou intra-políticas for, transforme a Faixa de Gaza numa espécie de Gueto de Varsóvia redivivo, é a pior afronta que se pode fazer à própria história do povo judeu, que durante séculos foi um dos alvos e bodes expiatórios da intolerância e da construção da desigualdade. Até por que o anti-semitismo, depois de séculos de construção, não vai desaparecer de uma hora para outra. Ao contrário, ele está apenas adormecido no fundo da gaveta, pronto para o bote. E se nada mudar, esse bote virá. Em que parte do mundo? Não se sabe, o que só aumenta a sensação de terror e o desarme da política.
Penso que uma maneira prática de enfrentar, a partir da cidadania comum, esses dilemas dramáticos, pode se assentar nas universidades, lugar de reflexão e que deveria ser instrumento de construção de uma cultura da paz em qualquer lugar do mundo. O ataque da aviação israelense contra a Universidade de Gaza é um bom motivo para se empreender uma tal reflexão e uma tal ação. Os departamentos e programas universitários – TODOS, não apenas os de hebraico e árabe, deveriam se comprometer com reflexões públicas sobre as possibilidades de paz na região e no mundo, diante dessa situação patética que só interessa a falcões. Seria um passo, pequeno, mas certamente adiante.