Mário Augusto Jakobskind
15.09.2008
Os papagaios de pirata (ou será de Washington?) da mídia conservadora mais uma vez manipularam grosseiramente o noticiário em torno das ações terroristas da extrema-direita boliviana, que, segundo informações fidedignas, contariam com o apoio de empresários brasileiros vinculados ao agro-negócio. Os papagaios fizeram grande alarde à “expulsão” do embaixador venezuelano nos Estados Unidos, anunciado pelo porta-voz do governo Bush.
Só que a saída do diplomata já tinha acontecido e foi anunciada pelo próprio Hugo Chávez no momento em que informava aos venezuelanos que o embaixador yankee teria 72 horas para abandonar o país. Chávez foi textual ao ordenar o retorno do embaixador Julio Álvarez, “antes que o expulsem de lá” e complemento afirmando que “quando os Estados Unidos tiverem um novo governo que respeite os povos da América, a América de Simón Bolívar mandaremos um embaixador”.
Esse são os fatos reais que os áulicos de Washington omitiram, preferindo anunciar apenas a decisão de Bush, quando tudo antes estava decidido. Além de mau jornalismo, por utilizar a fórmula deformadora do pensamento único, a mídia conservadora simplesmente manipulou informação. Como continua a prevalecer a pauta ditada pelo Departamento de Estado, não poderia ser diferente o papel da mídia hegemônica defensora do lucro fácil. Não faz parte da natureza conservadora em momentos de definição, como está acontecendo na Bolívia, divulgar informações que entram em choque com os seus interesses.
Os acontecimentos na Bolívia ocorrem exatamente 35 anos depois do sangrento golpe no Chile que derrubou o então presidente constitucional Salvador Allende e que teve o total apoio do Departamento de Estado, então conduzido pelo delinqüente Henri Kissinger, que segue impune. Quem não tem memória curta lembra que na ocasião os Estados Unidos negaram qualquer tipo de participação no golpe do general Augusto Pinochet, que mais tarde constatou-se ter sido um assassino e ladrão do erário público.
Os documentos oficiais do próprio Estados Unidos que se tornaram públicos alguns anos depois confirmaram o apoio e até mesmo a injeção financeira da CIA, tendo o El Mercúrio (O Globo ou O Estado de São Paulo do Chile) abocanhado 1,5 milhão de dólares. Não seria de se estranhar que a torneira continue aberta até hoje para os órgãos de imprensa defensores dos mesmos interesses que o Departamento de Estado. Em 20 ou 30 anos os arquivos implacáveis provavelmente revelarão verdades incômodas aos bi-shots midiáticos.
A história agora na Bolívia tem traços semelhantes aos do Chile. Em setembro de 1973, a maioria dos países do Cone Sul vivia sob ditaduras. O Brasil, por exemplo, através do embaixador Câmara Canto participou ativamente da derrubada de Allende. O diplomata, que era considerado a quarta ou quinta figura da cúpula golpista, chegou a comemorar o golpe militar com uma festa na embaixada. Só que hoje na América do Sul vigoram regimes democráticos, cujos presidentes não aceitam qualquer quebra constitucional, como quer a extrema direita boliviana e o Departamento de Estado.
Chávez tomou a frente das iniciativas em defesa do presidente Evo Morales. Convocou uma reunião extraordinária da Unasul, a União das Nações Sul Americanas, em Santiago do Chile, pois, segundo o presidente venezuelano, não se pode esperar mais e só se posicionar depois que um presidente for derrubado.
Morales expulsou o embaixador estadunidense Philip Goldberg, um diplomata que agia na calada da noite e dava apoio a dirigentes da extrema-direita da chamada Meia Lua, os departamentos governados por inimigos de Morales. Até os postes de La Paz sabiam que Goldberg apoiava os conspiradores. Este Goldberg, por sinal, é um diplomata com vida pregressa, haja vista quando serviu na Iugoslávia, no final dos anos 90, estimulando a divisão daquele país e a secessão em Kosovo. Bush o nomeou como embaixador exatamente por sua vida pregressa.
Chávez decidiu demonstrar que a Bolívia não está só e ordenou a expulsão de Patrick Duddy, o representante de Bush na Venezuela, que também se intrometia indevidamente em questões internas do país.
Estes são os fatos, que por aqui ganham outros contornos, como em outras ocasiões, com interpretações dos colunistas de sempre.
Aliás, já que estamos falando em colunistas amestrados e papagaios de pirata, lá vai uma sugestão para os editores do Fazendo Media: a instituição do Prêmio Veículo Manipulador da Informação do Ano. Se o Prêmio já existisse, e esperamos que seja instituído o mais rápido possível, o título até agora ficaria por conta da TV Globo.
A disputa do troféu Manipulador do Ano ou Papagaio de Pirata do Ano, iria para “especialistas” como Arnaldo Jabor, Carlos Alberto Sardenberg, Miriam Leitão e o âncora William Waak. Não há dúvida que seria uma disputa acirrada. Outros nomes podem surgir, desde que sejam indicados pelos colaboradores e leitores. O concurso não poderia deixar de contar com a participação dos leitores do Fazendo Media. Seria criado um espaço para eles depositarem o voto e indicarem nomes.
Sugere-se ainda que o concurso seja divulgado em todas as faculdades de comunicação do país. Até porque, o estudante de comunicação de hoje deverá ser o jornalista de amanhã.
O que acham da idéia? Os que forem favoráveis devem enviar seu apoio.
Aceitam-se sugestões também sobre como seria o troféu do veículo manipulador e papagaio pirata do ano.
Em suma: você decide!
Fonte: www.fazendomedia.com