Não é sina (à marcha contra o genocídio do povo negro)

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Poema de Allan da Rosa enumera motivos para ir à segunda Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro  Por Allan da Rosa  Por que quem chamam de anônimos são nossos caçulas? Por que as latrinas das cartilhas nos atolam e asfixiam? Por que o bisturi nos esmigalha e remenda os vidros da vagina? Por que a mente estilhaçada não se acostumou com esse rascunho mentiroso de destino? Por que o berrante fardado ressoa por medalha a quem escalpelar mais? Por que gerações e gerações de cientistas das veias e do cotidiano estudam cerrados no caixão? Por que comemoram nas eleições as gargantilhas com menos espinhos?  Por que a urna eleitoral é urna funerária? Porque não são anciãs que o tempo chama pra descansar, são mulecotes e gurias varadas de aço, na contramão. Por que a mente estilhaçada ainda não se acostumou com esse rascunho mentiroso de destino? Por que enquanto herdeiros imaginam a formatura, famílias calejadas suspiram a sobrevivência? Porque não agüentamos mais matar os minutos clamando pra não morrer, escrevendo as tabuletas in memorian. Que a comoção venha dos abraços do encontro, não das postas vermelhas escorrendo no colo. Por que é noticia qualquer levante no planeta, contra o racismo militar, mas as manchetes se calam pras lanças e revides de cá? Porque o mercado das mortalhas é só um bagaço do shopping blindado. E os túmulos são gráfico empresarial, cifras cintilantes da guerra, nossos velórios riscados a giz nos gabinetes. Quem sumaria há 500 anos pergunta por que?