COMPORTAMENTO

Será que realmente os opostos se atraem? Veja o que diz a ciência

Pesquisadores avaliam antigo provérbio popular; saiba mais

Em apenas uma parte do grupo pesquisado, os indivíduos tendiam a se associar com pessoas diferentes.Créditos: Juan Pablo Serrano Arenas/Pexels
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Contrariando o antigo provérbio popular “os opostos se atraem”, uma nova pesquisa publicada no periódico Nature Human Behaviour, no último dia 31 de agosto, sugere que pessoas com características semelhantes tendem a se atrair mais facilmente.

Os pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, fizeram uma meta-análise de pesquisas anteriores para chegar a essa conclusão, revisando um total de 199 estudos, sendo o mais antigo datado em 1903. O objetivo era estudar 22 características em casais heterossexuais, incluindo a utilização de substâncias, inclinações políticas e idade da primeira relação sexual.

Além disso, os estudiosos realizaram outra análise utilizando dados do UK Biobank. Nele, foram examinadas cerca de 133 características em quase 80 mil casais do Reino Unido. Características como atitudes políticas e religiosas, nível de escolaridade e certas medidas de QI apresentaram correlações particularmente altas nas duas análises. 

Cientistas se baseiam na escala em que zero significa falta de correlação e 1 em relação aos casais que sempre compartilham a característica. Em valores políticos, a correlação ficou em 0,58. Informações relacionadas ao uso de substâncias também apresentaram altas correlações, com fumantes, alcoólatras e abstêmios tendendo fortemente a se associar a pessoas com hábitos semelhantes. Já fatores como condições médicas, traços de personalidade, altura e peso foram positivas, mas apresentaram correlações menos significativas no relacionamento.

Desmistificando o amor 

Para Tanya Horwitz, primeira autora e doutoranda no Departamento de Psicologia e Neurociência no Instituto de Genética Comportamental (IBG) em Boulder, "as pessoas têm todas essas teorias de que os extrovertidos gostam de introvertidos ou que os extrovertidos gostam de outros extrovertidos, mas o fato é que é como jogar uma moeda: os extrovertidos têm a mesma probabilidade de acabar com extrovertidos e com introvertidos".

De acordo com a pesquisa, em 82% a 89% das características analisadas, os parceiros apresentavam maior probabilidade de serem parecidos. Por outro lado, em apenas 3% das características, e apenas em uma parte do grupo estudado, os indivíduos tendiam a se associar com pessoas diferentes.

Diferenças e semelhanças

O estudo revelou que o ano de nascimento é um tema comum entre os casais. Além disso, características raramente estudadas, como o número de parceiros sexuais que uma pessoa teve ou se foi amamentada quando criança, demonstraram uma associação. 

O fato dos casais terem vivido e crescido na mesma região também explica a semelhança. Os autores afirmam que não descobriram “nenhuma evidência convincente” de que os opostos se atraem em relação a qualquer característica.

Outros tópicos, como tendência a se preocupar, dificuldade de audição, cronotipo e sincronização dos ciclos circadianos, obteve uma pequena correlação negativa. No entanto, os autores ressaltam a necessidade de que mais estudos sejam feitos para comprovação. 

De acordo com Tanya, o estudo ajuda a entender como os relacionamentos se dão. “Essas descobertas sugerem que, mesmo quando sentimos que temos escolha sobre nossos relacionamentos, pode haver mecanismos acontecendo nos bastidores dos quais não estamos totalmente cientes”, destaca.

Maior atração por semelhança será um problema no futuro?

Os cientistas também ressaltam que o fato de as pessoas se relacionarem apenas com semelhantes pode trazer complicações genéticas. Segundo Tanya, isso se aplica tanto a questões como a estatura da prole quanto a características médicas e psiquiátricas.

A questão socioeconômica é outro fator apontado no artigo. Estudos anteriores já mostraram que os americanos estão cada vez mais propensos a se juntarem a pessoas com formação educacional semelhante, e consequentemente, isso pode aumentar a desigualdade socioeconômica.

"Esperamos que as pessoas possam usar esses dados para fazer suas próprias análises e aprenderem mais sobre como e por que as pessoas acabam tendo os relacionamentos que têm", diz a doutoranda. A expectativa também é a mesma pela equipe de Boulder, que espera o incentivo de mais pesquisas relacionadas em outras áreas.

Com informações de Revista Galileu