O vocalista da banda Detonautas Tico Santa Cruz fez uma publicação em suas redes sociais que provocou o imaginário de seus admiradores e claro, de seus detratores também. Cruz declarou que a sua “sexualidade é fluída. O amor não tem preconceitos, o fascismo sim". A declaração do artista foi suficiente para gerar uma série de especulações, apoios e ataques de ódio. Porém, uma coisa ficou clara: a imensa maioria das pessoas revelou desconhecer a ideia de uma sexualidade fluída.
Por conta disso, resolvemos conversar com o professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Leandro Colling, que é professor associado III do IHAC, professor permanente do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA, professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (UFBA) e integrante do NuCuS - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades.
Colling, que neste momento está lançando o livro “A vontade de expor: arte, gênero e sexualidade" (Edufba), explica que a “expressão pode ter um uso muito amplo e diverso. Penso que, na verdade, todos/as/es temos, em algum nível, uma sexualidade fluída. Por exemplo, não transamos toda a vida exatamente do mesmo jeito, isso pode variar na medida em que vamos tendo mais experiências sexuais e encontrando outras pessoas parceiras e até aprendendo novas práticas sexuais”.
O professor também afirma que a expressão “também tem sido usada para falar de algo mais específico, de pessoas que possuem uma fluidez em relação às orientações sexuais. Ou seja, uma pessoa pode estar, em determinado momento de sua vida, mais propensa para ter relações homossexuais e em outros momentos está mais a fim de ter relações heterossexuais. Assim, ela tem uma fluidez entre essas duas orientações sexuais mais conhecidas”.
Entre os vários comentários realizados em torno da declaração de Tico Santa Cruz, houve quem equiparasse a sexualidade fluída com o gênero fluído. “Sexualidade fluída não é a mesma coisa que gênero fluído. Quando tratamos de gênero estamos falando de como a pessoa performa ou expressa a sua identidade de gênero (se ela se identifica, para ficarmos no binarismo, como homem ou mulher). Mas uma pessoa que se identifica como gênero fluído pode também ter uma sexualidade fluída. Sexualidade e gênero são coisas que se relacionam, mas também possuem as suas diferenças”, explica o pesquisador.
Por fim, o professor Leandro Colling também explica que sexualidade fluída não é a mesma coisa que bissexualidade, como também foi associado à declaração de Tico Santa Cruz. “Ter sexualidade fluída não necessariamente faz com que a pessoa seja bissexual. Será bissexual se a pessoa com sexualidade fluída assim se autodefinir. Uma pessoa bissexual não necessariamente sente que sua sexualidade seja fluída do modo como eu expliquei anteriormente. Ela, via de regra, não se sente ora homossexual e ora heterossexual, mas bissexual. Mas tudo isso vai depender de como a própria pessoa se identifica”, explica o professor Leandro Colling.