POLUIÇÃO AMBIENTAL

Microplásticos bloqueiam ações de antibióticos contra bactérias no corpo humano

Estudo inédito mapeou efeitos da concentração de resíduos no organismo decorrente da poluição ambiental e constata que partículas podem facilitar desenvolvimento de doenças

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Microplásticos, presentes em diversos ambientes, podem estar contribuindo para a resistência a antibióticos, uma das maiores ameaças à saúde pública global. Uma pesquisa da Applied Environmental Microbiology mostra que microplásticos formam biofilmes que envolvem as bactérias, criando uma barreira que impede a ação dos antibióticos. O estudo investigou os efeitos da concentração, composição e tamanho do microplástico sobre o desenvolvimento de resistência a múltiplos medicamentos em Escherichia coli (E. Coli), um tipo de bactéria comum presente no organismo.

"Os microplásticos são como jangadas - uma bactéria sozinha pode não conseguir descer um rio, mas ao viajar no seu biofilme sobre um minúsculo pedaço de plástico pode ser disseminada por muitos ambientes diferentes”, afirma o estudo. Essas bactérias, mesmo após a remoção dos microplásticos, mantêm características que favorecem a resistência.

O estudo mostrou que, quando os biofilmes de E. coli se formavam sobre microplásticos, eles se tornavam significativamente mais rápidos, maiores e mais resistentes aos antibióticos em comparação com aqueles cultivados em esferas de vidro. A resistência a antibióticos foi tão alta que o pesquisador Gross repetiu os testes diversas vezes, utilizando diferentes tipos de microplásticos e antibióticos, e os resultados permaneceram consistentes.

"Eles selecionam células que são melhores na formação de biofilmes, o que pode levar a aRMA associada a biofilme e infecções no ambiente e no ambiente de saúde", afirma uma das autoras do estudo.

Seis décadas de consumo de plásticos

Desde 1964, o consumo de plástico aumentou 20 vezes, e as estimativas indicam que, até 2060, o lixo global não gerido poderá atingir entre 155 e 265 megatons por ano. Não é surpresa, portanto, que a detecção de microplásticos (MPs) tenha aumentado consideravelmente. Os microplásticos são partículas sintéticas, geralmente insolúveis, compostas por matrizes de polímeros com formatos e tamanhos que variam de micrômetros a milímetros. 

As principais fontes de MPs incluem plásticos como polietileno (PE), polipropileno (PP) e poliestireno (PS), presentes em cosméticos e medicamentos. Apesar de vários países terem proibido o uso de MPs primários em determinadas indústrias, esses materiais continuam a ser gerados pela degradação de plásticos existentes.

Os resíduos originam-se da fragmentação de detritos plásticos devido a processos físicos, químicos e biológicos, que incluii partículas de diferentes formas, tamanhos e características superficiais, tornando seu controle extremamente desafiador, segundo a pesquisa. Os MPs foram detectados em diversos ecossistemas, desde cânions submarinos até o topo do Monte Everest, e as águas residuais têm se tornado um reservatório significativo desses resíduos. Mesmo com o tratamento das águas residuais, os MPs ainda persistem, devido à sua pequena dimensão, flutuabilidade e características hidrofóbicas, o que permite que eles permaneçam no ambiente e interajam com organismos vivos, apresentando riscos à saúde humana.

PL no Congresso tenta barrar poluição no Brasil

Há mais de um ano parado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o PL 2524/2022 — que pretende reduzir a produção de plásticos descartáveis — depende de uma ação do relator, o senador e médico Otto Alencar, para voltar a tramitar e mudar o rumo da produção de plástico.

O  Brasil é o 8º maior poluidor do mundo e lidera o ranking na América Latina. O dado faz parte do relatório Fragmentos da destruição: impactos da poluição plástica na biodiversidade marinha brasileira, publicado em 2024 pela organização Oceana.

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