O Brasil celebra, nesta quarta-feira (28), duas datas importantes no calendário da saúde: o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.
De acordo com dados do último boletim do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 53,3 mortes maternas a cada 100 mil nascidos vivos em 2022.
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Embora o número represente uma queda em relação ao pico observado durante a pandemia de Covid-19, o índice ainda está acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece como meta até 2030 menos de 30 mortes por 100 mil.
As principais causas desses óbitos continuam as mesmas: complicações hipertensivas da gestação (como a pré-eclâmpsia), hemorragias, infecções puerperais e efeitos de abortos inseguros.
Porém, especialistas alertam que as causas estruturais também pesam: desigualdade de acesso a serviços de saúde, racismo institucional, violência obstétrica e ausência de cuidado integral no pré-natal.
“A mortalidade materna revela falhas em toda a rede de cuidado à mulher. Ela é, muitas vezes, o desfecho de uma assistência fragmentada, que não considera a mulher em sua totalidade”, destaca o ginecologista e obstetra José Carlos Gaspar Junior.
O especialista defende uma abordagem integrativa da medicina, em que o cuidado com a saúde da mulher não se limita à dimensão biológica, mas considera, também, os aspectos emocionais, sociais e psicológicos envolvidos na gestação.
Segundo ele, práticas integrativas e complementares, quando baseadas em evidências, ajudam a prevenir complicações e a oferecer um suporte mais humano durante o ciclo gravídico-puerperal.
“Em muitos casos, sintomas físicos têm origem em sofrimentos emocionais que não são escutados no consultório. Precisamos de mais escuta, mais vínculo, mais respeito às singularidades de cada mulher. Isso também é prevenção”, ressalta o médico.
Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que mulheres negras e indígenas morrem mais em decorrência de causas maternas do que mulheres brancas, em parte devido às barreiras de acesso aos serviços de saúde e ao racismo estrutural.
A falta de profissionais capacitados, o excesso de cesáreas sem indicação clínica e a ausência de atendimento pós-parto adequado também entram na equação.
Questão política e social
Organizações internacionais e movimentos sociais reforçam que o combate à mortalidade materna não é apenas uma questão técnica, mas também política e social. Garantir acesso a um pré-natal de qualidade, serviços obstétricos seguros e atenção ao puerpério deve ser prioridade em todos os níveis do sistema de saúde.
“O que chamamos de ‘saúde da mulher’ vai muito além de exames ginecológicos. Trata-se de olhar para ela como um ser completo: corpo, mente, história. É isso que pode, de fato, salvar vidas”, completa Gaspar.
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