ESCASSEZ

Estados Unidos enfrentam crise histórica de medicamentos; crianças com câncer são as mais afetadas

Mais de 300 remédios estão em falta no país, segundo a Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP)

Crise de medicamentos afeta pacientes e médicos nos Estados Unidos.Créditos: Pixabay
Escrito en SAÚDE el

Os Estados Unidos estão passando por uma das maiores escassez de medicamentos da História do país. Segundo a Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP), 99% dos trabalhadores relatam falta de remédios.

Um novo dado agrava ainda mais a situação: medicamentos quimioterápicos estão entre aqueles que enfrentam maior escassez. Essa situação é especificamente grave para crianças com câncer.

Ainda de acordo com a ASHP, mais de 300 medicamentos estão em falta no país e um terço dos profissionais afirmam que a situação é crítica.

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Problema antigo

O governo estadunidense começou a monitorar a falta de remédios em 2001 e, em 2009, considerou a situação como uma crise. Em entrevista ao Brasil de Fato, Mariana Socal, brasileira pesquisadora da Johns Hopkins University, explicou o cenário. 

“O que a gente vê é que existe um problema crônico de escassez de medicamentos”, diz. “A gente viu uma exacerbação durante a pandemia, outra no último inverno quando tivemos um aumento na frequência de doenças respiratórias em crianças e, agora, bem recentemente, o problema da falta de quimioterapias injetáveis para pacientes com câncer”, completa. 

Mariana também ressalta que, apesar do problema ir para mídia apenas em momentos mais críticos, os hospitais dos Estados Unidos enfrentam diariamente a escassez.

A especialista explica que essa falta de medicamentos é resultado da lógica do mercado de saúde do país. “Bom, tá faltando remédio”, explica Mariana, “vamos solucionar isso. Parece intuitivo que são os fabricantes que têm que mudar para solucionar o problema, né? Então, vamos fabricar mais! Mas, na prática, o que acontece é que existe um mercado que está comprando esses medicamentos. Não é só produzir. Tem que estar produzindo, comprando e distribuindo”.

Produção na mão de poucas empresas

Mariana destaca que a causa não é só o fato da produção ser privada, mas também ser altamente concentrada. 

Os medicamentos genéricos são os que mais faltam hoje. Apesar de poderem ser produzidos por qualquer indústria, o número de consumidores é pequeno e poucos distribuidores controlam esse mercado.

“O produtor do remédio genérico sabe que precisa fazer negócio com, pelo menos um dos três [grandes compradores] se ele quer se manter  viável. Então, se os 3 distribuidores dizem, 'não, eu preciso de um preço mais baixo', o produtor, a empresa farmacêutica, vai ter que baixar o preço”, explica a pesquisadora.

Além dos trabalhadores da área, o problema também preocupada os dois únicos partidos dos Estados Unidos. Em maio deste ano, o deputado republicano Morgan Griffith, presidente do Comitê de Energia e Comércio da Câmara, falou sobre a crise em audiência no capitólio. 

“Os maiores grupos de compra controlam 90% do mercado de abastecimento médico e têm um poder de mercado tremendo”, disse o deputado. "Eles poderiam ajudar a acabar com a escassez de medicamentos priorizando a disponibilidade e a qualidade de medicamentos genéricos. Ao invés disso, eles usam seu poder no mercado para forçar um preço de 'corrida para o fundo' sem consideração pela qualidade ou disponibilidade”, prosseguiu. 

Principais perigos

A escassez ainda não tem solução. Enquanto isso, pacientes e profissionais de saúde sentem o impacto. Mariana informa que, pela falta de determinado medicamento, outro substituto terá que ser usado, “porque os pacientes vão continuar chegando e o hospital vai ter que continuar atendendo”.

Isso gera três principais perigos:

- O remédio substituto pode não ser tão eficaz;

- Ele pode ser menos seguro ou apresentar mais efeitos colaterais;

- Erros médicos se tornam mais comuns, uma vez que os profissionais não estão acostumados a administrar medicamentos alternativos.

“Tem que ter um treinamento de toda a equipe só pra poder se adaptar àquela situação que está ocorrendo como efeito da falta de medicamentos”, diz Mariana Socal. “Então, às vezes, acontecem até erros na administração de coisas. Erros de dosagem, erros na preparação de remédios, erros na substituição da medicação. Então, o risco para o paciente é muito alto e isso acontece, como eu falei, de maneira diária em todos os hospitais do país”, finaliza a pesquisadora.

*Com informações de Brasil de Fato