SAÚDE

Quais os riscos no momento do parto por cesariana MAC?

Federação de obstetras se posiciona contra nova técnica de casariana; entenda

“Maternal Assisted Caesarean Section” ou, cesariana assistida pela mãe, é contraindicada por obstetras.Créditos: Daniel Reche/Pexels
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O parto ganha novas configurações ao longo das gerações, sendo um momento singular a quem dá à luz. No entanto, uma delas tem causado divergência entre profissionais de saúde: a conhecida cesariana MAC. O procedimento faz com que a mãe retire o próprio filho do útero. O “Maternal Assisted Caesarean Section” – cesariana assistida pela mãe, em tradução livre, é a sigla que que nomeia o tipo de parto. 

Logo após serem noticiados casos de realização do procedimento em Goiás, na região Centro-Oeste do Brasil, em posicionamento oficial, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) indicou que “a prática não seja realizada fora de estudos clínicos aprovados”.

As Secretarias da Saúde do Ceará (Sesa) e de Fortaleza (SMS) foram questionadas pela reportagem do Diário do Nordeste caso o procedimento seja permitido entre profissionais das redes e se já tiveram registros de parto com essa configuração em alguma unidade hospitalar da região.

A Sesa informou em nota que somente “segue a decisão da Febrasgo”. Do mesmo modo, a SMS assegurou que “esta metodologia não é aplicada nas maternidades geridas pelo município de Fortaleza”.

Quais são os riscos da cesariana?

O objetivo, segundo a Febrasgo, é proporcionar uma experiência mais inclusiva. No entanto, eles alertam que esse é um procedimento sem evidências comprovadas de segurança. “Não encontra amparo em protocolos, recomendações ou estudos bem desenhados”, destacaram. “As complicações da cesariana podem aumentar em número e gravidade”.

Veja os possíveis riscos:

  • Infecções;
  • Tempo cirúrgico aumentado;
  • Perda de sangue;
  • Aumento das incisões;
  • Lesões em outros órgãos;
  • Atraso na avaliação e assistência neonatal;
  • Maior consumo de material e aumento do custo do procedimento.

A ginecologista e obstetra na rede privada e na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC/UFC), Caroline Heimbecker alerta para a falta de estudos científicos acerca. “Como não temos estudos científicos que garantam benefícios, (a prática) não tem amparo em protocolos”, afirma. 

De acordo com ela, isso “aumenta os riscos para a mãe, o tempo cirúrgico e a perda sanguínea”,assim como “atrasa os primeiros cuidados do neonatologista” junto ao bebê. Ela ainda ressalta que desconhece médicos que sejam a favor desse tipo de procedimento no Ceará.

“Aumenta os riscos para a mãe, o tempo cirúrgico e a perda sanguínea”, assim como “atrasa os primeiros cuidados do neonatologista”

Outro ginecologista, e obstetra e supervisor da Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), Elson Almeida, diz que “o debate sobre o assunto é recente, porém pertinente, uma vez que é pouco conhecido e pode trazer desfechos negativos”.

“Indicar ou praticar ou atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação vigente no País”, além de “divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente”, afirma ele ao relacionar  artigos do Código de Ética Médica.

Humanizando o Parto Cesáreo

“Existem práticas mais seguras que podem ser adotadas durante a cesariana, visando o nascimento respeitoso e a melhora do vínculo com o recém-nascido”, salienta a nota da Febrasgo. A recomendação de Heimbecker é que “uma forma de humanizar é explicar tudo o que vai acontecer com a gestante, desde a anestesia até o final da cirurgia”

“Mostramos o bebê na hora do nascimento sem a mãe tocar no campo cirúrgico, e o contato pele a pele é realizado logo após os cuidados do neonatologista. Se o bebê e a mãe estiverem bem, o bebê é colocado ainda na primeira hora após o nascimento para iniciar o aleitamento materno”, diz a médica.

“Esse momento de pele a pele é um estímulo para o aleitamento materno, e a presença de acompanhante à escolha da gestante também é uma forma de humanizar o parto cesáreo”, reforça.

De janeiro a junho de 2023, foram feitos 18.321 partos cesáreos e 10.620 partos normais na rede pública do Ceará. Ao todo, 39.922 cesarianas foram realizadas na região em 2022, contra 25.513 nascimentos naturais, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS.

A presença de acompanhantes à escolha da mãe, o contato pele a pele e os cuidados que respeitem o bem-estar do binômio mãe-bebê são as chaves da “humanização”, de acordo com Almeida. “Não podemos concluir que qualquer tipo de procedimento traz benefícios. Pelo contrário, poderá trazer complicações e riscos não aceitáveis, como anteriormente citado. Devemos tomar muito cuidado com procedimentos motivados por modismos”.

*Com informações do Diário do Nordeste