O Brasil é um dos recordistas mundiais em casos de câncer de pênis. O maior número de registros ocorre em regiões onde os moradores não têm acesso adequado à saúde. O impacto afeta, invariavelmente, a qualidade de vida de homens, com graves consequências físicas e psíquicas.
Dados de um novo estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em parceria com o Ministério da Saúde, são alarmantes: nos últimos 15 anos, 7.790 brasileiros perderam o órgão devido à doença e a média anual de amputações penianas no país é de 486 casos.
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O câncer de pênis acontece quando células defeituosas, cancerígenas, não são eliminadas pelo sistema imunológico e passam a se proliferar. Neste processo, elas podem invadir tecidos saudáveis, causando problemas no órgão, ou enviar células cancerígenas a distância, pelas correntes sanguínea ou linfática, conhecidas como metástases.
O primeiro sintoma é o surgimento de uma lesão cutânea no pênis, podendo ser uma úlcera ou um ferimento verrucoso. Outras características são o crescimento da ferida e o fato de que ela não melhora com pomadas e remédios habitualmente usados pelos pacientes. O médico urologista Heleno Diegues Paes destaca algumas causas para o desenvolvimento da doença.
“Os principais fatores de risco são a má higiene, a infecção pelo HPV (vírus que infecta pele ou mucosas) e a presença do prepúcio, principalmente se o indivíduo tem fimose e não consegue expor a glande. Cabe observar que é uma doença prevalente em países pouco desenvolvidos, onde as condições sanitárias são piores. Zoofilia, ou seja, fazer sexo com animais, também é um fator de risco”, relata o especialista.
O urologista explica que o diagnóstico é realizado por meio de biópsia da lesão suspeita. Os tumores têm origem nas camadas mais superficiais da pele e, se forem detectados nos estágios iniciais, a remoção é simples. Quando invadem estruturas mais profundas do pênis, o tratamento é a amputação do órgão.
Nos estágios iniciais, o tratamento pode ser a simples extração da lesão ou a sua destruição, com eletrocautério (aparelho que remove manchas na pele através de descarga de energia elétrica baixa e controlada) ou criocirurgia (processo terapêutico baseado no tratamento de lesões pelo frio).
Nos casos mais avançados, é necessária a amputação do pênis, parcial ou total. Além disso, a depender da situação, pode ser preciso a adoção de quimioterapia e remoção dos gânglios linfáticos das regiões inguinais.
Urologista aponta importância da prevenção
Como prevenção, o médico destaca que a educação e a informação são as melhores armas. “Orientação sobre higiene adequada, realizar postectomia (remoção do prepúcio) naqueles que possuem fimoses severas, prevenção de contágio pelo HPV com preservativos e vacinas. Procurar atendimento médico quando surgirem lesões persistentes no pênis é essencial”.
Após a remoção do tumor, é imprescindível a vigilância por intermédio de exames para detectar possíveis recidivas. As visitas médicas devem ser mais frequentes no primeiro ano, ficando espaçadas ao longo do tempo.
Algumas regiões no Brasil apresentam números da doença que surpreendem. O estudo da SBU indica que São Paulo concentra as maiores incidências, justificado por sua população densa, seguido pelas regiões Norte e Nordeste.
Maranhão, por exemplo, possui índices recordes de tumores per capita, com algumas cidades apresentando o maior número de casos no mundo.
Apesar da gravidade, Heleno Paes reforça que a cura é possível nos estágios iniciais da doença, mantendo sempre uma boa higiene, que é parte fundamental no processo.
“É uma doença intimamente relacionada à má higiene e ao acúmulo crônico de secreção na parte coberta do pênis. Dessa forma, todos os meninos e homens devem ser capazes de expor amplamente a glande e remover as sujidades e secreções que acumulam no decorrer do dia. Lavar o pênis após as relações sexuais também é importante”, completa.
Nascido em Santos, litoral de São Paulo, Heleno Diegues Paes é urologista e, atualmente, atua como médico assistente das subespecialidades Uro-oncologia e Transplante Renal do Hospital Santa Marcelina, na Zona Leste de São Paulo. É professor e preceptor do internato médico e da residência médica na Faculdade de Medicina Santa Marcelina. Em Santos, atua em seu consultório.