Dados revelados por um boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde apontam números alarmantes: o Brasil é o segundo país do mundo em número de casos novos de hanseníase, atrás apenas da Índia.
Com a Indonésia, os três países respondem por quase 75% dos registros mundiais. Na região das Américas, 92,4% dos casos que foram diagnosticados em 2021 ocorreram no Brasil.
Apenas em 2022, foram quase 15 mil novos casos no país. Os estados que lideram o ranking da doença são Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco, Bahia e Pará.
Ainda conforme o documento, um terço dos pacientes apresentava grau 1 de incapacidade física (perda de sensibilidade nas extremidades) e quase 1.500 pacientes tinham grau 2 de comprometimento (lesões mais graves), de acordo com a Agência Einstein.
O que é hanseníase
Uma das doenças mais antigas do mundo, registrada em achados do Século 6 a.C., a hanseníase, chamada no passado de lepra, ainda traz estigmas difíceis de serem carregados por seus pacientes.
É uma doença infectocontagiosa provocada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, em memória do seu descobridor. A transmissão ocorre pelas secreções das vias aéreas superiores e por gotículas de saliva.
Mesmo sendo uma doença basicamente cutânea, pode afetar nervos periféricos, olhos e, eventualmente, alguns outros órgãos. O período de incubação pode durar de seis meses a seis anos.
A doença apresenta, principalmente, quatro formas clínicas: indeterminada, borderline ou dimorfa, tuberculoide e virchowiana. Em termos terapêuticos, apenas dois são considerados: paucibacilar (com poucos bacilos) e multibacilar (com muitos bacilos).
Sintomas
Manchas na pele de cor parda, esbranquiçadas ou eritematosas, às vezes pouco visíveis e com limites imprecisos;
Alteração da temperatura no local afetado pelas manchas;
Comprometimento dos nervos periféricos;
Dormência em algumas regiões do corpo causada pelo comprometimento da enervação. A perda da sensibilidade local pode levar a feridas e à perda dos dedos ou de outras partes do organismo;
Aparecimento de caroços ou inchaço nas partes mais frias do corpo, como orelhas, mãos e cotovelos;
Alteração da musculatura esquelética, principalmente a das mãos, o que resulta nas chamadas “mãos de garra”;
Infiltrações e edemas na face que caracterizam a face leonina, característica da forma virchowiana da doença.
Tratamento
Os dois tipos de hanseníase (paucibacilar e multibacilar) são tratados com o antibiótico rifampicina, durante seis meses no tipo paucibacilar e um ano no tipo multibacilar. A medicação é fornecida, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e administrada em doses vigiadas, ou seja, o paciente precisa tomar na presença dos profissionais de saúde.
A rifampicina elimina 90% dos bacilos. Por isso, é imprescindível complementar o tratamento com outra droga (DDS), que pode ser tomada em casa, diariamente, até o final do tratamento.
Nos casos multibacilares, esse tratamento é acrescido de uma dose diária e de outra vigiada de clofazimina.
Recomendações
Não desistir do tratamento, que, apesar de longo, é eficaz se não for interrompido;
Convencer os familiares e pessoas próximas ao doente a procurarem uma unidade de saúde para avaliação, quando for diagnosticado um caso de hanseníase na família;
A hanseníase é uma doença estigmatizante, mas que tem cura, desde que devidamente tratada;
Mulheres em idade reprodutiva devem se atentar ao fato de que a rifampicina pode interagir com anticoncepcionais orais e reduzir sua eficácia.
Mais informações
Nos casos mais leves da doença, mesmo depois do tratamento, o paciente pode não recuperar totalmente a sensibilidade nos locais das manchas. Nos mais graves, pode haver sequelas como perda de força que impõe limitações físicas para utilizar as mãos ou andar, por exemplo.
Não existe vacina contra a hanseníase. Porém, a BCG, normalmente aplicada no nascimento para prevenir tuberculose, também reduz o risco de hanseníase, pois os agentes causadores das duas doenças são semelhantes.
A hanseníase não é hereditária. Contudo, por ser infeciosa, familiares e pessoas próximas do paciente correm risco de contrair a doença.
Com informações de Maria Helena Varella Bruna, do site do médico Drauzio Varella.