O litoral de Santa Catarina tem o turismo como uma das suas principais atividades econômicas por conta das belas praias de que dispõe tanto na capital Florianópolis como em outros municípios. E após duas temporadas fortemente impactadas pela pandemia de Covid-19, o verão 2022-23 tem um novo inimigo ‘viral´: o norovírus, conhecido como o “pesadelo dos cruzeiros” e que já causou mais de 4500 casos de diarreia aguda na capital; cerca de um terço dos casos só na primeira semana do ano, a mais cheia da temporada.
Análises de amostras de fezes feitas a partir de dezembro de 2022 pela Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis detectaram o norovírus em 63% dos casos. A chegada do vírus à 'Floripa' encontrou o ambiente perfeito para proliferar nas aglomerações decorrentes da temporada de turismo que mais do que dobram a população da cidade, aliadas as más condições sanitárias de algumas das áreas de veraneio, em especial na parte norte da Ilha de Santa Catarina.
Velho conhecido dos organizadores de cruzeiros o norovírus foi registrado pela primeira vez no Brasil em 2009, justamente em uma embarcação desta natureza: o cruzeiro MSC Sinfonia, que viajava entre Salvador e Rio de Janeiro quando 350 pessoas foram infectadas. Dez anos depois, o norovírus voltou a ganhar as manchetes dos jornais, dessa vez encerrando antecipadamente a programação de um cruzeiro que viajava da Austrália para Cingapura e registrou mais de 2 mil casos entre passageiros e tripulação.
Ao encontrar condições favoráveis à sua reprodução, o norovírus pode proliferar com rapidez em grupos de pessoas com convívio próximo. É comum que haja surtos em cruzeiros pelo confinamento que a modalidade de viagem naval proporciona naturalmente. Mas há surtos registrados em diversas ocasiões, desde concentrações de equipes esportivas a militares aquartelados, até chegar a uma família ou grupo de amigos que alugou uma casa para passar uma série de dias juntos na praia.
E quando a praia em questão está em uma zona bastante urbanizada de uma capital, que ainda enfrenta problemas estruturais de saneamento básico e índices crescente de poluição das praias nos últimos 7 anos, a atenção precisa ser dobrada.
A transmissão é fecal-oral. Em outras palavras, o norovírus sai de um organismo já infectado pelas fezes e precisa, de alguma maneira, ser levado para a boca da próxima ‘vítima’. Fabiano Ramos, infectologista e diretor do Hospital São Lucas, da PUC-RS, explicou para a Folha de S. Paulo que se o vírus estiver presente na própria água encanada, em coliformes fecais, pode infectar uma pessoa a partir do simples ato de uma escovação de dentes.
Outra forma comum de transmissão é através de objetos. Uma pessoa infectada pode usar a maçaneta de uma porta, por exemplo, após ir ao banheiro. Se em seguida, uma terceira pessoa utilizar a mesma maçaneta e levar a mão à boca, corre o risco de se infectar. Por isso, entre as principais medidas de prevenção está a importância de lavar as mãos com frequência.
A alta taxa de transmissão entre adultos pode também trazer uma característica até certo ponto positiva do norovírus. Se por um lado ele tem uma alta transmissão e um curto período de incubação, por outro, a maioria das pessoas contaminadas se recuperam das náuseas e diarreias em até 72 horas, obtendo, paralelamente, uma imunidade ao vírus que pode durar em torno de 6 meses.
Mas independente disso, ninguém quer ficar doente nas férias, então há uma série de simples práticas de prevenção, sobretudo para quem não se encontra na segurança do lar, que podem ser eficazes. Além de lavar bem as mãos sempre que for alimentar-se ou ir ao banheiro, também é importante verificar a procedência da água que será consumida. Sempre beber água tratada e acondicionada em embalagens é uma dica valiosa. O mesmo vale para a adição de gelo a bebidas.
Em relação à alimentação como um todo, sempre verifique a procedência e o estado, sobretudo de frutas e verduras. É bom evitar alimentos já descascados ou fora do prazo de validade. Além disso, na hora de pegar uma praia, é prudente evitar aquele cantinho da areia que está próximo a um rio ou córrego e nunca, jamais, beber água do mar.
*Com informações da Folha.