CIÊNCIA

Canabidiol: O que é, para que serve e por que é atacado por conservadores

Medicamento traz resultados impressionantes para doenças graves, mas sua comercialização sofre com a burocracia por conta de uma associação equivocada estabelecida pelos “cidadãos de bem”

Recipiente com canabidiol, o óleo extraído da maconha.Créditos: Homer News/Reprodução
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O canabidiol tem mostrado resultados muito impressionantes para uma variada gama de doenças graves, sobretudo naquelas de origem neurológica e nas dores crônicas, mas também tem sido usado até para hipertensão e fibromialgia.

A substância é encontrada numa planta: a Cannabis sativa, ou seja, na maconha. É aí que surge uma infinidade de supostos dilemas apontados “perigosos” por conservadores e reacionários de plantão, que relacionam a aplicação do fármaco em doentes ao consumo estigmatizado da “marijuana”, fumada mundo afora.

Para se obter o canabidiol é necessário algum tipo de procedimento laboratorial que não está acessível ao cidadão comum, portanto, ficando restrito à indústria farmacêutica, visto sua relativa complexidade. A substância é extraída da maconha por meio de processos físicos ou químicos como a hidrodestilação, a destilação a vapor, a extração de compostos orgânicos por solvente orgânico, a extração com gordura fria, a maceração, a extração por micro-ondas ou a extração assistida por ultrassom.

A partir desse ponto, se obtém um óleo que poderá ser usado, variando em relação à dose e posologia, no controle de sintomas de enfermidades como esclerose múltipla, esquizofrenia, Doença de Parkinson, epilepsia, ansiedade, Doença de Alzheimer, enxaqueca, hipertensão arterial, transtorno do espectro autista, fibromialgia, entre tantas outras condições raras e de difícil tratamento.

Nos EUA, o uso do canabidiol foi liberado definitivamente há mais de quatro anos, após exaustivos testes realizados por gigantes do setor de medicamentos, assim como na União Europeia, onde o óleo está à disposição dos doentes desde 2019, quando testes realizados no Reino Unido, França, Espanha, Alemanha e Itália mostraram suas características promissoras. O uso do canabidiol, ainda que em fase experimental e com restrições, já ocorria nesses países há quase 10 anos.

O Epidyolex, nome comercial desenvolvido pela GW Pharmaceuticals Plc, é atualmente o mais forte no mercado e mostrou-se eficaz até mesmo contra doenças raras e gravíssimas como as síndromes de Dravet e de Lennox-Gastaut.

No Brasil, o canabidiol também pode ser comprado por doentes que dependem da substância para ter melhor qualidade de vida, só que por meio de uma burocracia que dificulta sua aquisição. O preço é elevado, há necessidade de guias específicas e que permitem a compra de quantidades muito reduzidas, o que parece ser uma bobagem das autoridades sanitárias nacionais, uma vez que a substância não é intoxicante ou psicoativa, e tampouco causa dependência.

A Anvisa analisa medicamentos com o composto desde 2015 e em 2020 deu o registro para o primeiro remédio à base do óleo. No entanto, o plantio de maconha com fins estritamente medicinais e supervisionado pelas autoridades, o que daria muito mais vazão à produção, diminuiria o preço e aumentaria a oferta, é rejeitado pela agência regulatória por pressão do governo de Jair Bolsonaro, identificado com pautas obscurantistas, anticientíficas e ultrarreacionárias, que buscam de todas as formas associar um medicamento importante à maconha fumada.