PERIGOS NA ALIMENTAÇÃO

Entenda como a pipoca de micro-ondas pode estar relacionada a doenças graves

Além de uma já conhecida forma de bronquiolite incurável, pesquisas apontam agora para elevado risco de Alzheimer. Problema está em substância que, além de ingerida, pode ser inalada pelo vapor que sai do pacote

Pipoca de micro-ondas.Créditos: iStock Free Images
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Um produto que quase todo mundo tem em casa e que agrada sobretudo ao paladar de crianças e adolescentes traz alguns perigos à saúde humana, e eles são sérios e graves: a pipoca de micro-ondas. Há mais de 20 anos, numa fábrica do produto nos EUA, um surto de uma doença pulmonar grave assustou médicos e cientistas. Os funcionários da indústria apresentavam sérias dificuldades para respirar e foram diagnosticados com bronquiolite obliterante, uma condição em que as células pulmonares não conseguem se recuperar de um processo inflamatório, deixando pacientes com insuficiência respiratória e limitações severas.

Oito empregados do local chegaram a uma condição crítica por conta da enfermidade, sendo que quatro deles tiveram que ser submetidos a transplantes de pulmão, segundo registros oficiais de um estudo que consta no site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC, na sigla em inglês), a renomada agência de saúde pública dos EUA.

A causa do problema? Uma substância usada até hoje neste alimento chamada diacetil, que pode fazer mal não só por ser ingerida com a pipoca, mas principalmente ao ser inalada com gostoso e apetitoso vapor aromatizado que sai do pacote quando retiramos o alimento do micro-ondas. De lá para cá, milhares de casos foram documentados nos EUA e em outros países, em especial envolvendo consumidores contumazes do produto. A bronquiolite obliterante ficou tão associada a esse alimento industrializado que médicos chamam informalmente a enfermidade de "doença do pulmão de pipoca".

O diacetil é a substância responsável por dar o cheiro bom e amanteigado, além de inconfundível, à pipoca de micro-ondas. Mesmo com gente doente por todos os continentes, os fabricantes não abriram mão de usá-la e agora surge uma nova ameaça relacionada a esse componente químico.

Uma pesquisa desenvolvida recentemente pelo Instituto de Química de São Carlos (IQSC), da USP, mostrou que após 90 dias de consumo regular de pipoca de micro-ondas, ratos de laboratório apresentaram acúmulo de moléculas de diacetil nas células cerebrais. Já era sabido que a substância em altas concentrações nesse tecido provoca danos neurológicos que desencadeiam o Alzheimer.

De acordo com os dados do estudo, a concentração de diacetil produziu danos em várias áreas cerebrais dos ratos testados, mas deixaram marcas mais perceptíveis no hipotálamo, uma área da base do cérebro que guarda centros do sistema nervoso simpático e parassimpático, responsáveis por funções essenciais.

O mais assustador, de acordo com o autor da pesquisa, o químico Lucas Ximenes, que falou à reportagem do jornal O Estado de Minas, foi a presença significativa das chamadas proteínas beta-amiloides, encontradas habitualmente em quem sofre de Alzheimer.

Como o diacetil evapora com muita facilidade, funcionários de fábricas estão mais susceptíveis a inalá-lo em grandes quantidades, embora consumidores também possam fazê-lo apenas aspirando o vapor que sai do alimento. Comer esses produtos igualmente faz com que a substância seja absorvida pelo organismo, ainda que em menores quantidades, o que poderia ter um efeito menor para os casos de bronquiolite obliterante, mas ainda assim elevado para o acúmulo do agente químico no sangue e no tecido cerebral, que presumivelmente elevaria o risco de desenvolver Alzheimer.

O diacetil também está presente em outros alimentos, como congelados em geral, margarinas, biscoitos, temperos de macarrão instantâneo e até na cerveja e no café, mas a quantidade empregada na pipoca e o fato dela produzir a evaporação da substância fazem com que esse produto represente um perigo maior para o consumidor.

Ainda que não tenha sido mencionada nesta reportagem, a Yoki, empresa que é líder no mercado destes alimentos no Brasil, informa que não utiliza diacetil na composição de suas pipocas micro-ondas, e que investe em estudos e pesquisas, fabricando e promovendo alimentos seguros para que seus consumidores possam usufruir ao máximo, sem preocupações.