A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, nesta segunda-feira (11), um texto em que alerta para possíveis riscos à saúde que o uso excessivo do programa "I-Doser" pode causar.
Lançado em 2005 pelo especialista em psicologia de áudio Nick Ashton, o programa de computador, que vem se tornando cada vez mais popular entre adolescentes no Brasil, vende "doses" de ondas sonoras que visam interferir no trabalho cerebral do usuário, simulando efeitos, supostamente, parecidos com o de entorpecentes como cocaína ou maconha.
“Muitos usam áudio de ondas cerebrais binaurais para relaxar, ter uma experiência recreativa, melhorar a meditação, ioga, equilíbrio holístico e muito mais. Com centenas de doses disponíveis, as possibilidades são infinitas”, afirma a empresa responsável pelo I-Doser.
Muitos usuários relatam experiências de alucinação que lembrariam as provenientes do uso de drogas. Não há, entretanto, qualquer comprovação científica de que a exposição a esses ruídos causem o mesmo tipo de efeito dos entorpecentes.
Pediatras, no entanto, afirmam que o uso excessivo do programa pode gerar dependência psicológica e danos auditivos que podem levar, inclusive, à surdez. Segundo os especialistas, a estimulação externa exagerada e contínua de ruídos pode provocar alterações na neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de crescer, desenvolver e alterar sua estrutura, podendo afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável.
“Quando o som se torna um ruído alto, estridente, agudo e constante, como sirenes ou o som de explosivos, as pessoas estão sujeitas a desenvolver desde um simples estado de neurotização passageira até lesões irreversíveis no aparelho auditivo, com marcadas consequências, principalmente em crianças e adolescentes, que são sempre mais vulneráveis”, diz um trecho do texto da SBP.
Sintomas
Os especialistas da Sociedade Brasileira de Pediatria listam alguns sintomas e condutas que podem ser identificados a partir do uso exagerado de programas como o I-Doser.
"Dificuldades para perceber sons agudos; presença de zumbidos; transtornos de comunicação, gerando isolamento social, dificuldade de interação em nível familiar, no lazer, na escola, na vida social; alterações no sono ou mesmo alucinações auditivas em pessoas mais sensíveis são alguns exemplos de sintomas auditivos e não auditivos que podem ocorrer e devem ser observados", diz o comunicado.
"Evitar o ruído intenso e assegurar o uso de fones de ouvido compatível com o ouvido humano, além de limitar o tempo de uso, bem como adequar o volume de som em aparelhos e equipamentos como computador, notebook, telefones celulares ou televisões ou em ambientes abertos ou fechados com outros ruídos associados são algumas formas de promover a reabilitação auditiva", recomenda ainda a SBP.