Um caso intrigante e raro, ocorrido em Boston, nos EUA, em março de 2021, veio à tona agora com uma publicação da prestigiada revista científica New England Journal of Medicine. Trata-se de um jovem de 19 anos que acabou tento os dedos das mãos e as pernas amputadas após consumir pela manhã um alimento comprado no dia anterior por um amigo, num restaurante, e que ficou toda a noite fora da geladeira.
Os cientistas analisaram o grave e incomum episódio e chegaram à conclusão que o rapaz pode ter sido vítima de uma bactéria, mas que outros fatores, ainda não muito claros, além de uma grande dose de azar, podem ter colaborado para que seus sintomas evoluíssem para um quadro seríssimo, uma vez que o colega com quem divide apartamento consumiu a mesma comida, mas à noite, logo após a compra, e teve apenas vômito e problemas intestinais.
A história começa após um prato de lo mei, um macarrão tipicamente chinês feito à base de ovos, servido com um molho de vegetais e carne de frango, ser comprado pelo companheiro do paciente analisado. Ele levou a comida para casa, comeu um pouco e deixou restos em cima da pia, sem refrigeração. Na manhã seguinte, o rapaz de 19 anos levantou e consumiu o produto.
Não demorou muito para que ele começasse a apresentar vômitos e dor abdominal, e então procurasse um hospital. Segundo os médicos que o atenderam, seu estado permaneceu leve até 20h, quando o paciente passou a apresentar vômito bilioso, depois marrom escuro, além de calafrios, dores generalizadas, no peito, falta de ar, taquicardia, visão embaçada e rigidez do pescoço.
Seus batimentos cardíacos subiram rapidamente em repouso para 166 por minuto e uma febre de mais de 40° se instalou. Na sequência, o rapaz apresentou bolhas pela pele, com um pus bem amarelado, e seu corpo começou a ficar arroxeado. Exames de urina e de fezes identificaram uma bactéria que costuma ser bastante agressiva: Neisseria Meningitidis, a mesma que provoca a grave meningite meningocócica.
Em questão de horas o quadro dele evoluiu para uma gangrena severa e de grande extensão, uma vez que todo seu sangue passou a coagular de uma forma assustadoramente rápida, o que levou os médicos a iniciarem um procedimento para estabilizá-lo e, depois, submetê-lo a cirurgias que amputaram seus dedos das mãos e suas duas pernas abaixo dos joelhos.
Um achado importante, mas que os médicos ainda não conseguiram relacionar totalmente com o quadro que se agravaria, é que o jovem havia recebido apenas um das três doses da vacina contra a meningite meningocócica na infância.
O médico toxicologista que acompanhou a internação do paciente, Bernard Hsu, afirmou que, embora não ficasse claro a razão de uma reação tão forte ao alimento provavelmente estragado, o jovem teria sido vítima de uma “tempestade perfeita”, uma vez que comeu o prato já contaminado, e por uma bactéria muito perigosa e incomum em refeições, que ficou potencializada pelo fato de passar horas fora da geladeira. Doutor Hsu disse que não poderia afirmar se questões biológicas naturais do próprio paciente, assim como o fato da vacinação para meningite estar incompleta, contribuíram para o trágico desfecho do caso.
“Foi um incidente estranho, acontecendo como numa "tempestade perfeita, uma sequência de eventos", disse Hsu ao New York Post, fazendo uso da expressão que remeta à ideia de uma grave consequência provocada por uma série de infelizes coincidências e azar.
Atenção na conservação de alimentos
Quem compra comida pronta, ou mesmo alimentos que serão preparados em casa, deve ficar atento para a conservação desses itens. É necessário que vegetais e carnes, além de outros alimentos industrializados já aberto, sejam mantidos sobre refrigeração e, em muitos casos, até congelados.
Em datas como aniversários, natal e réveillon, assim como outras comemorações, é bastante comum que sobre comida, feitas em quantidades fartas. A atenção deve ser redobrada e tudo que ficou para o dia seguinte deve ser colocado na refrigeração.
Quem leva marmita para o trabalho e deixa o pote fora da geladeira também deve ter cuidado. O período entre sair de casa cedo, no início da manhã, e o almoço, lá pelas 13h ou até 14h, pode ser tempo suficiente para que bactérias se proliferem no alimento e causem sérios problemas.
Por decisão editorial a Fórum resolveu não publicar a íntegra das imagens do paciente nesta reportagem, mas elas podem ser vistas clicando neste link, que direcionará o leitor para o jornal norte-americano New York Post.