As imagens chocantes de uma jovem que morreu com um peso de academia no México, no início desta semana, fizeram com que muitos instrutores de Educação Física voltassem a alertar para os perigos existentes não só no aparelho que ocasionou a tragédia, mas em todos os ambientes frequentados por quem quer manter a forma e a saúde.
No fatídico episódio ocorrido em Cuauhtemóc, a mulher tentou levantar uma barra metálica com 180 kg nas extremidades e ao soltar o aparelho do suporte, sobre seus ombros, acaba tendo o pescoço esmagado contra a base, depois de cair.
O professor de Educação Física, instrutor de academia e personal trainer Allan da Silva Carvalho, que atua no ramo há 14 anos, explicou à reportagem da Fórum o que aconteceu exatamente no caso fatal ocorrido no México, apontando inclusive como teria ocorrido o erro que tirou a vida da aluna.
“O ocorrido no México foi no aparelho de musculação chamado Smith Machine. O aparelho possui uma trava para limitar o deslocamento da barra, porém, um banco foi adicionado logo abaixo e contribuiu para que a jovem fosse prensada antes mesmo que a trava entrasse em ação”, explicou Allan.
Segundo o instrutor, acidentes desse tipo não são corriqueiros, mas podem ocorrer. Ele citou uma situação relativamente parecida que acabou por causar danos graves e irreversíveis numa frequentadora de um estabelecimento carioca.
“A musculação é um dos métodos mais seguros de treinamento, porque é você quem controla a dose, a quilagem, o que faz com que incidentes assim sejam raros. Acidentes fatais como esse, apesar de serem incomuns, podem acometer qualquer praticante de musculação, seja por total desatenção ou execuções desnecessárias e perigosas, como foi o caso de uma mulher no Rio de Janeiro, um tempo atrás, que ao reproduzir um abdominal estando suspensa de cabeça para baixo, movimento realizado por uma blogueira, caiu e acabou ficando tetraplégica”, relembra o profissional.
Brincar ou andar distraído numa academia não é uma boa ideia, salienta Allan, que deixa recomendações para todos que vão a esses locais se exercitarem.
“Definitivamente, a academia de musculação não é lugar para brincadeiras. Principalmente nos aparelhos que possuem pesos livres. É necessário ter sempre o cuidado redobrado ao fazer os ajustes necessários, principalmente quanto ao peso e carga”, alerta o personal trainer.
Acidentes mais comuns
Fernando Valido também é profissional de Educação Física e atua como personal trainer e instrutor de academias há quase 20 anos. Ele contou à Fórum quais são os acidentes mais comuns no local onde trabalha, mas antes esclareceu o que normalmente são os fatores iniciais para que algo de ruim aconteça.
“Acontecem muitos acidentes em academias. Muitas vezes isso é causado pela má utilização dos aparelhos, aliada à pouca informação dos alunos de como usá-los. Eles precisam saber qual o melhor tipo de peso para cada maquinário, assim como entender a melhor forma de realizar cada movimento. Nós vemos também gente, muitas vezes, querem mostrar capacidade para o seu colega que está ao lado, ou então tentando superar seus próprios limites, e isso pode acabar mal”, contextualizou.
O supino, um dos exercícios mais comuns realizados em academias, segundo Valido, pode ser perigoso se não for feito com orientação e conhecimento corretos.
“Um acidente muito comum ocorre quando os alunos fazem o supino, seja o supino retou ou o inclinado, indicado para área dos peitorais. A pessoa deita para fazer o movimento e, talvez por cansaço, ou ainda por falta de técnica ou excesso de carga, ela acaba deixando a barrar cair sobre sua caixa torácica, o que pode resultar em e lesões graves”, contou o personal.
Mas a lista de perigos nos exercícios não para por aí.
“Um outro exercício que costuma dar problema é o stiff, que é um trabalho para os músculos posteriores de coxa. O aluno pega a barra e flexiona o corpo, descendo em direção ao solo. Se quem realiza esse movimento não tiver uma técnica apurada e um preparo condizente com o exercício, poderá ter lesões até sérias na região lombar”, acrescentou Valido.
Os cotovelos também costumam pagar caro quando o frequentador não saber realizar corretamente um movimento, esquecendo que essas articulações são frágeis.
“O exercício chamado rosca scott também pode ser perigoso. Esse movimento pode ser feito na máquina, com halter ou com a barra. O exercício, em si, é algo que trabalha contra a resistência, contra a força da gravidade. Os seus braços ficam apoiados naquele ‘banco’, e a pressão é muito grande na articulação do cotovelo. Se não executado corretamente, a pessoa pode arrebentar um tendão ou até acabar com uma fratura”, explicou o instrutor.
Por fim, o profissional de Educação Física alerta para o fato de que qualquer atividade realizada nas academias para cuidar do corpo pode ter um grau de perigo, e fala sobre a morte da aluna no México, cujas imagens do acidente assustaram o mundo.
“Todos os exercícios, por mais simples que possam parecer, têm riscos. Seja por conta da carga, por um movimento inadequado, a falta de um profissional ao lado para orientá-lo. Mas ainda assim, nós sabemos que fatalidades acontecem, como foi o caso dessa moça no México, usando a Smith Machine. A queda de uma barra daquelas, com 180 kg, certamente produziria uma lesão muito séria, e foi o que aconteceu”, finalizou Valido.
Veja o vídeo do acidente: