Um estudo realizado em Oxford, na Inglaterra, revelou que nos últimos 50 anos a concentração de espermatozoides no sêmen humano caiu, em média, 50% em todo o mundo. A notícia reativou o debate acalorado entre médicos e especialistas em fertilidade.
A questão central é o que estaria causando esse declínio? O médico urologista Heleno Diegues Paes afirmou que a constatação da diminuição da concentração dos espermatozoides entre as amostras de diferentes épocas é um fato.
“Entretanto, os motivos deste achado são obscuros. Existem diversas possibilidades para o resultado encontrado, que podem ser atribuídas a problemas na comparação de pesquisas de épocas diferentes, mas também podem ser uma constatação real”, relatou.
“É sabido que os métodos de análise do esperma empregados nos estudos sofreram modificações com o passar dos anos e foram realizadas comparações entre populações diferentes, que possuem sabidamente valores médios diversos entre si”, comentou o urologista.
Porém, segundo o médico, “também é sabido que, nos últimos 50 anos, houve uma crescente urbanização da população e surgimento de novos produtos artificiais que não faziam parte do rol de produtos consumidos no passado, que tendiam a ser mais naturais. Neste mesmo processo, a exposição a poluentes e produtos químicos, mudanças nos comportamentos, aumento da obesidade e do sedentarismo podem ter influenciado negativamente”.
Heleno Paes relatou que a epidemiologista estadunidense, Shanna H. Swan, é uma das pesquisadoras que defendem a teoria que associa a queda na concentração de espermatozoides no sêmen humano à exposição a determinados elementos químicos existentes nos alimentos industrializados.
“Em seu livro chamado “Count Down”, ela faz uma previsão apocalíptica da humanidade, onde todos ficaríamos inférteis. Claro que é uma provocação a uma reflexão, mas cita diversos produtos que temos contato no cotidiano que poderiam prejudicar a fertilidade”, afirmou o urologista.
“Apesar da exposição em quantidade ínfima, com o passar de anos isso poderia surtir algum efeito. Ela cita os ftalatos, encontrados em muitos produtos, de plásticos a xampus. Também o bisfenol A, um produto químico onipresente usado em plásticos rígidos, eletrônicos e milhões de outros itens”, ressaltou Paes.
Quais as causas mais comuns da infertilidade masculina
O médico mencionou que as causas mais frequentes de infertilidade entre os homens estão relacionadas à produção inadequada de gametas (células reprodutivas), que pode ser originada a partir de alterações inerentes a doenças nos testículos, problemas genéticos ou hormonais.
“Varicocele, distúrbios hormonais, infecções no aparelho reprodutor, uso de determinados medicamentos ou drogas e defeitos genéticos”, citou, se referindo a fatores prejudiciais.
O especialista explicou, também, que existem casos de homens que tiveram filhos, mas se tornaram inférteis ao longo dos anos. “A capacidade de produção de espermatozoides diminui com o envelhecimento e a qualidade dos gametas também. Alguns homens que retardam muito a paternidade podem encontrar grande dificuldade ao tentá-la após os 40 ou 50 anos”.
Ainda em relação à infertilidade adquirida, Paes alertou que o problema pode ter relação com doenças crônicas, como diabetes, insuficiência renal e problemas cardíacos. “Também pode estar relacionado à exposição crônica à poluição, tabaco e cannabis. A lógica é que estas situações levam a um maior estresse oxidativo celular e a espermatogênese é muito sensível a esta situação. Nesse sentido, uma alimentação saudável, rica em vitaminas, tem um efeito benéfico em relação à fertilidade”.
O urologista esclareceu, também, que há diversos medicamentos que podem levar a uma diminuição do número ou mesmo à ausência de espermatozoides no esperma. Os principais são os que são à base de testosterona, que inibem a liberação do Hormônio Folículo Estimulante (FSH) na hipófise, que é o principal estímulo à espermatogênese.
É possível melhorar a fertilidade masculina
O médico explicou que é possível melhorar a fertilidade masculina de uma forma natural. “Ter hábitos de vida saudáveis, praticar atividade física regularmente, manter o peso ideal, alimentação rica em vitaminas e substâncias antioxidantes, tratar adequadamente doenças crônicas, evitar exposição à poluição, ao tabaco e cannabis, evitar deixar os testículos muito tempo comprimidos com roupas ou acessórios apertados, evitar postergar muito a paternidade, reproduzir de preferência antes dos 30 anos, não usar anabolizantes ou medicamentos derivados da testosterona”, acrescentou.
Nascido em Santos, litoral de São Paulo, Heleno Diegues Paes é urologista e, atualmente, atua como médico assistente das subespecialidades Uro-oncologia e Transplante Renal do Hospital Santa Marcelina, na Zona Leste de São Paulo. É professor e preceptor do internato médico e da residência médica na Faculdade de Medicina Santa Marcelina. Em Santos, atua em seu consultório.