O anúncio de Jair Bolsonaro de que seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assinaria um "parecer" para desobrigar o uso de máscaras para os vacinados contra a Covid-19 e as pessoas que já tiveram contato com a doença gerou uma forte repercussão negativa nas redes sociais.
Isso porque a medida contraria todos os protocolos utilizados ao redor do mundo para conter o avanço do coronavírus, já que a maioria da população deve estar vacinada – o que não é o caso do Brasil – para que se atinja um grau seguro de imunidade.
“Acabei de conversar com Queiroga e ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados para tirar esse símbolo que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse Bolsonaro em discurso nesta quinta-feira (10).
Além disso, o presidente mente ao afirmar que máscara “tem sua utilidade para quem está infectado”, já que ela protege quem não tem a doença de se infectar. Além disso, já é comprovado que é possível uma pessoa ser infectada pela Covid-19 mais de uma vez.
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Em meio à repercussão, alguns jornalistas e internautas passaram a interpretar o anúncio como uma "cortina de fumaça", visto que há decretos estaduais e municipais que obrigam o uso de máscara e que, portanto, a decisão de Bolsonaro não teria efeito.
A jornalista de saúde Mariana Varella, editora-chefe do Portal Dráuzio Varella, discorda. "Venho estudando comunicação de risco e a comunicação bolsonarista há meses. Não caiam nessa de 'cortina de fumaça'. A comunicação é efetiva e causa um estrago tremendo na saúde pública do país. O pedido p/ desobrigar o uso de máscara p/ vacinados è grave demais pra ser ignorado", escreveu em sua conta do Twitter.
Com a reação ao anúncio, o termo "impeachment" foi para a lista de assuntos mais comentados do Twitter, com políticos e internautas incentivando o uso de máscaras e pedindo a saída de Bolsonaro da presidência.
"Criminoso! Assassino! Bolsonaro quer levar mais brasileiros à morte com suas atitudes anticientíficas. Quem já teve Covid ou foi vacinado continua sendo um possível vetor de contaminação para outras pessoas. Usar máscaras salva vidas!", postou, por exemplo, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). "Usem máscara. Protejam quem vocês amam. Lutem pelo impeachment. Fora, Bolsonaro", disse ainda.
"Bolsonaro acabou de dizer que o ministro da saúde assinou uma portaria que retira a obrigatoriedade da máscara para pessoas vacinadas ou que 'já foram contaminadas'. A pena do Brasil por manter um genocida no poder será pandemia perpétua!", escreveu, por sua vez, Guilherme Boulos (PSOL).
"Me pediu um estudo"
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diante da péssima repercussão do anúncio de Jair Bolsonaro, que o citou para afirmar que vai desobrigar vacinados e pessoas que já foram infectadas pela Covid-19 de usar máscara, foi à público, no início da noite desta quinta-feira (10), para esclarecer a situação. Segundo o médico, Bolsonaro o pediu um “estudo” sobre a flexibilização das máscaras – contrariando a declaração de Bolsonaro de que o ministro assinaria um “parecer” para implantar a medida.
“Recebi do presidente Bolsonaro uma solicitação para fazer um estudo acercado uso das máscaras. O presidente está muito satisfeito com o ritmo da vacinação no Brasil. O presidente está acompanhando o cenário internacional e vê que em outros países que a vacinação já avançou, estão flexibilizando o uso das máscaras”, disse Queiroga em vídeo divulgado nos perfis oficiais do Ministério da Saúde nas redes sociais.
Em seu “esclarecimento”, no entanto, Queiroga não mencionou que os países que têm flexibilizado estão com a vacinação muito mais avançada que o Brasil. Até o momento, apenas 11,1% da população brasileira foi vacinada com as duas doses contra a Covid.
“O presidente me pediu que fizesse um estudo para avaliar a situação no Brasil. Então, vamos atender a essa demanda, o presidente está sempre preocupado com as pesquisas com relação à Covid”, afirmou ainda o ministro, saindo em defesa do titular do Planalto.