O esquema escandaloso montado pelo governo Bolsonaro para comprar o apoio de parlamentares no Congresso Nacional, que foi revelado na manhã deste domingo (9) pelo jornal Estadão, já ganhou dois apelidos que estão repercutindo com força nas redes sociais: "tratoraço" e "bolsolão". Os dois termos, no início da tarde, figuram na lista de assuntos mais comentados do Twitter.
Segundo reportagem de Breno Pires, Jair Bolsonaro montou, no final de 2020, um orçamento secreto e paralelo no valor de R$ 3 bilhões em emendas para comparar congressistas. Boa parte do dinheiro era destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima da referência.
O conjunto de 101 ofícios foi encaminhado, por deputados e senadores, ao Ministério do Desenvolvimento Regional para apontar como eles preferiam utilizar os recursos comprova a farra com dinheiro público.
Os ofícios, obtidos pelo Estadão, indicam que o esquema passa por cima das leis orçamentárias, pois é atribuição dos ministros definir onde e como aplicar os recursos. Além disso, prejudica o controle do Tribunal de Contas da União (TCU).
"'Orçamento secreto' em outros governos era chamado de mensalão. Bolsonaro tem agora o seu Bolsolão", disse o jornalista George Marques, entre inúmeras outras reações do tipo que tentam associar o esquema do atual presidente à maneira como a imprensa se referia a casos de corrupção em outros governos.
"Não são emendas! É corrupção ativa, é o mensalão de Bolso, o BOLSOLÃO! #tratoraco", escreveu, por sua vez, a blogueira Lola Aronovich.
Casos concretos
Um exemplo de como funciona o esquema pode ser observado com um caso envolvendo o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ele determinou a aplicação de R$ 277 milhões de verbas públicas só do Ministério do Desenvolvimento Regional. Ele necessitaria de 34 anos no Senado para conseguir indicar esse valor por intermédio da emenda parlamentar individual, que garante a cada parlamentar direcionar R$ 8 milhões ao ano.
Outro caso é o do deputado Lúcio Mosquini (MDB-RO). O governo pagou R$ 359 mil em um trator que, pelas regras normais, liberaria apenas R$ 100 mil dos cofres públicos. No total, o deputado direcionou R$ 8 milhões.
Longe dos redutos
Existem situações as quais parlamentares encaminharam milhões para aquisição de máquinas agrícolas para uma cidade distante dois mil quilômetros de seus redutos eleitorais.
É o caso específico dos deputados do Solidariedade, Ottaci Nascimento (RR) e Bosco Saraiva (AM). Eles direcionaram R$ 4 milhões para Padre Bernardo, em Goiás. Caso a tabela do governo fosse considerada, a compra sairia por R$ 2,8 milhões.
A deputada e atual ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), usou termos como “minha cota”, “fui contemplada” e “recursos a mim reservados” para se dirigir à Companha de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e definir o destino de R$ 5 milhões.
Questionada pelo Estadão, ela disse: “Não me lembro. Codevasf? É tanta coisa que a gente faz que não sei exatamente do que se trata”.
Repercussão
Confira, abaixo, o que internautas e políticos estão dizendo sobre o "orçamento paralelo" de Bolsonaro, apelidado de "tratoraço" e "bolsolão".