Vaza Jato: Dallagnol ofendeu críticos da operação que causou suicídio de reitor da UFSC

The Intercept Brasil divulga diálogos entre Dallagnol e a delegada da PF, Erika Marena; ex-coordenador da Lava Jato chamou de “banco de imbecis” quem denunciou operação que levou à morte de Luiz Cancellier

Dallagnol e Erika Marena (Foto: Montagem/Lula Marques/Divulgação)
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O ex-procurador e ex-coordenador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, chamou de “bando de imbecis” os críticos da operação espalhafatosa da Polícia Federal (PF), responsável pelo suicídio do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, em outubro de 2017.

O site The Intercept Brasil divulgou, nesta terça-feira (18), diálogos inéditos, parte da Vaza Jato, entre Dallagnol, que se filiou ao Podemos e deve concorrer a um cargo político, e a delegada Erika Marena, responsável pela operação, que prendeu ilegalmente Luiz Cancellier. Nunca houve provas contra o ex-reitor.

Cancellier acabou tirando a própria vida, após sofrer humilhações públicas e falsas acusações de corrupção na UFSC.

De acordo com a reportagem de Rafael Moro Martins, do The Intercept Brasil, em um dos trechos do diálogo entre Dallagnon e Erika, ambos abordam o suicídio de Cancellier.

“Erika, vi a questão do suicídio do reitor da UFSC. Não sei o que passa pela sua cabeça, mas pelo amor de Deus não se sinta culpada. As decisões foram todas dele. Não sei se publicamente houve algum ataque, mas se você quiser qualquer expressão pública de solidariedade, conte comigo”, escreveu Dallagnol, apenas quatro dias após a morte do ex-reitor. 

Alguns dias depois, a delegada respondeu: “Oi, Deltan, está bem pesado, estamos como instituição e eu particularmente sofrendo muito ataque baixo nível, hoje faz uma semana da morte e a situação só veio piorando, agora surgem mentiras de toda ordem pra tentar legitimar o nosso suposto ‘abuso de autoridade’”.

Dallagnol prosseguiu mostrando solidariedade à delegada: “Erika, eles não prevalecerão. É um absurdo essas críticas. Um bando de – perdoe-me – imbecis. Nessas horas, quando há maior pressão, o importante é focarmos na realidade crua: Você respeita todas as regras, atuou 100% corretamente e como fazemos em TODOS os outros casos. Não fique chateada, amiga, que eles não merecem. Você sabe que no processo de luto uma das fases é RAIVA, e faz parte que pessoas que se sensibilizem procurem atribuir culpa, mas isso é absolutamente injusto. Conte com meu apoio e minha prece. E se quiser conversar saiba que sempre tera (sic) aqui um ouvido amigo”, acrescentou.

Procurado pela reportagem para se posicionar, Dallagnol respondeu por meio de sua assessoria: “Nas investigações em que trabalhou com a delegada Marena, ela sempre demonstrou correção, competência, dedicação e qualidade técnica, assim como respeito aos direitos fundamentais dos investigados e réus”. 

Ele afirmou, também, que não reconhece os trechos dos diálogos divulgados pelo The Intercept e que “um suicídio é sempre uma tragédia humana a ser lamentada, independentemente das circunstâncias”.

Erika Marena, que atualmente trabalha na Polícia Federal do Paraná, não respondeu às indagações da reportagem. 

Relatório final da Polícia Federal não apresentou provas contra Cancellier

Em maio de 2018, o relatório final da PF não apresentou provas de que o ex-reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, teria se beneficiado financeiramente da acusação que sofreu, de “respaldar e sustentar” uma quadrilha que pilhava recursos da universidade.

O ex-reitor se atirou de um vão de um shopping de Florianópolis, em 2 de outubro de 2017, 18 dias após ter sido preso na operação Ouvidos Moucos.