Vaza Jato: Léo Pinheiro precisou mudar versão para incriminar Lula duas vezes para ser aceito como delator

Novo vazamento, divulgado pela Folha de S.Paulo, mostra que o empreiteiro, inicialmente, descreveu o triplex como um presente que a OAS teria oferecido ao ex-presidente sem pedir nada em troca, o que desagradou os procuradores

Foto: Reprodução/Barão de Itararé
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O ex-presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro, o empreiteiro que incriminou o ex-presidente Lula no caso do triplex, e que o levou à prisão sem provas, foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que quis delatar para conseguir a diminuição de sua pena. Pinheiro só passou a ser considerado merecedor de crédito depois de mudar pelo menos duas vezes sua versão sobre o apartamento de Guarujá (SP), que a empresa afirmou ter reformado para o ex-presidente, de acordo com novas mensagens privadas trocadas entre procuradores envolvidos com as negociações e divulgadas neste domingo (30) pela Folha de S.Paulo, em parceria com The Intercept Brasil. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo “Uma pessoa que acompanhou as conversas da OAS com a Lava Jato na época disse à Folha que, inicialmente, Léo Pinheiro descreveu o triplex como um presente que oferecera a Lula sem pedir nada em troca. Segundo essa pessoa, a insatisfação dos procuradores o levou a mudar sua versão pelo menos duas vezes até chegar àquela adotada em 2017”, conta a reportagem. A matéria destaca que Pinheiro só apresentou a versão utilizada para condenar Lula em abril de 2017, ou seja, mais de um ano depois do início das negociações com a Lava Jato. Os diálogos examinados pela Folha e pelo The Intercept Brasil ajudam a entender por que as negociações da delação da empreiteira, até hoje não concluídas, foram tão controversas e dão a entender que o depoimento sobre Lula e o triplex foi decisivo para que os procuradores voltassem a conversar com Pinheiro, meses depois de rejeitar sua primeira proposta de acordo. “A primeira notícia de versão do LP [Léo Pinheiro] sobre o sítio já é bem contrária ao que apuramos aqui”, disse um dos procuradores, Paulo Roberto Galvão, no início de março. “Estamos abertos a ouvir a proposta da empresa, mas não nos comprometemos com nada”. Em abril, depois de avaliar dados anexados à primeira proposta entregue pelos advogados da OAS, um integrante da força-tarefa de Curitiba, Januário Paludo, disse aos colegas que achava o esforço inútil. “Tem que prender Léo Pinheiro. Eles falam pouco. Me parece que não está valendo a pena”. Demora As mensagens analisadas pela Folha e The Intercept demonstram que as informações apresentadas pela OAS sofreram inúmeras mudanças até que os procuradores aceitassem assinar um termo de confidencialidade com os advogados. No entanto, as negociações demoraram a evoluir. “Na última reunião dissemos que eles precisariam melhor[ar] consideravelmente os anexos”, disse o procurador Roberson Pozzobon aos colegas em julho. “Os anexos que a OAS entregou hoje são muito semelhantes àqueles que a Carol enviou antes aqui”, escreveu a procuradora Jerusa Viecili no Telegram. Um novo vazamento encerrou as negociações. A revista Veja divulgou o conteúdo de anexos que a OAS havia apresentado aos procuradores e afirmou que a empresa revelara a existência de uma conta clandestina para fazer pagamentos a Lula. As mensagens obtidas pelo Intercept mostram que os procuradores ficaram furiosos com o vazamento. Na semana seguinte, o ex-juiz Sérgio Moro mandou prender Pinheiro. A Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa de Curitiba aceitaram retomar as negociações somente em março de 2017. Desfecho No depoimento de 24 de abril, o empreiteiro declarou que tinha uma conta informal para administrar acertos com o PT, introduzindo pela primeira vez o tema em sua versão. Além disso, acusou Lula de orientá-lo a destruir provas de sua relação com o partido após o início da Lava Jato. O depoimento foi decisivo para o desfecho do caso do triplex, porque permitiu a Moro conectar o apartamento à corrupção na Petrobras, justificando assim a condenação do ex-presidente Lula. Veja matéria completa na Folha de S.Paulo