Darkmatter: Software espião negociado pelo Gabinete do Ódio é usado por ditaduras

Software negociado pelo governo Jair Bolsonaro foi usado por ditaduras para monitorar jornalistas, políticos e defensores de Direitos Humanos durante a Primavera Árabe.

Carlos Bolsonaro apaga postagem sobre propina a Valdemar da Costa Neto, presidente do futuro partido de seu pai, o PL (Reprodução)Créditos: Flickr Bolsonaro
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O software espião Darkmatter, negociado por integrante do chamado Gabinete do Ódio - que seria coordenado por Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) - durante viagem da comitiva presidencial a Dubai, no ano passado, foi usado por ditaduras em regimes saudistas e nos Emirados Árabes para monitorar e silenciar opositores.

Segundo reportagem de Jamil Chade e Lucas Valença, no portal Uol nesta terça-feira (18), a empresa foi criada nos Emirados Árabes durante o temor de propagação da chamada Primavera Árabe, quando grupos pró-democracia convocaram grandes protestos por aplicativos e redes sociais.

O software foi desenvolvido para monitorar esses grupos, além de políticos, jornalistas e defensores de Direitos Humanos.

A ditadura saudita, que mantém estreitas relações com o clã Bolsonaro, seria uma das que utilizaram a ferramenta. Em 2020, a jornalista da Al-Jazeera, Ghada Oueis, processou os ditadores Mohammed bin Salman (Arábia Saudita) e Mohammed bin Zayed (Abu Dhabi) e a empresa de software por invasão de seu celular.

Ainda segundo a reportagem, em setembro três fundadores da Darkmatter foram indiciados nos EUA por fraude e exportação ilegal de tecnologia sensível.

Marc Baier, Ryan Adams e Daniel Gericke - os criadores da empresa - fecharam um acordo e tiveram de pagar uma multa de US$ 1,6 milhão para encerrar o caso no Departamento de Justiça norte-americano.

"De acordo com documentos judiciais, os réus trabalharam como gerentes sênior em uma empresa dos Emirados Árabes Unidos que apoiou e realizou operações de exploração de redes de computadores (ou seja, "hacking") em benefício do governo dos Emirados Árabes entre 2016 e 2019", diz um relatório do Departamento de Justiça dos EUA.

PT pede abertura de investigação

A bancada do PT na Câmara dos Deputados apresentou nesta segunda-feira (17) uma representação pedindo que o Ministério Público Federal (MPF) apure denúncia de que o governo do presidente Jair Bolsonaro aproveitou viagem oficial aos Emirados Árabes para para negociar nova ferramenta espiã para o chamado “gabinete do ódio”.

“Estão em curso, desta feita, ameaças reais e potenciais aos cidadãos brasileiros, suas instituições e, especialmente, ao processo democrático eleitoral que se avizinha, de modo que providências preventivas devem ser adotadas para impedir tais crimes e responsabilizar, se for o caso, os envolvidos”, aponta a ação movida pelo PT - Leia a íntegra.