Alvo de perseguição do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, e do ministro Kássio Nunes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o professor de direito constitucional da USP Conrado Hübner Mendes afirma em artigo na Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (5) que Jair Bolsonaro "optou pelo tudo ou nada" e resta saber se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá coragem de punir o presidente pelos crimes que vem cometendo.
Leia também: Contra perseguição, 281 professores de universidades brasileiras saem em defesa de Conrado Hübner
"Por meio de agressões verbais e ameaças a toda instituição que hoje o expõe e o desagrada (sobraram a CPI do Senado, o STF e o TSE), Bolsonaro optou pelo tudo ou nada e cruzou linha irreversível. Sabe que qualquer passo para trás trairá seus devotos. A essa altura, com o ciclo eleitoral já iniciado, a moderação não trará nenhum ganho para 2022. No máximo, talvez, um silêncio momentâneo para seduzir bobos da corte", diz o professor.
Segundo Hübner, "a hipótese de eleições regulares com Bolsonaro na disputa, quando o acirramento extremista resta como única chance de sobrevivência, já não existe mais".
"Bolsonaro moderado é um unicórnio flamejante que muitos juram ter visto em algum momento dos últimos 30 anos", afirma o professor, que classifica como "negacionismo psíquico e ético" a chance de quaisquer mudanças do presidente.
No texto, Hübner critica a postura de Luiz Fux, presidente do STF, e elogia a "fala mais empolgante da história recente" por Luís Roberto Barroso na reabertura dos trabalhos do TSE.
"O futuro dirá se atuais ministros do TSE entenderam a gravidade das palavras de Barroso e terão coragem política e refinamento jurídico para levar isso adiante. Ou se preferem bailar com Fux, na melhor tradição constitucional brasileira. Abrir inquérito para deixá-lo em banho-maria, num jogo de dissuasão, não vai adiantar. Não há mais tempo. Concluir o inquérito e julgar eventual ação judicial com a presteza que a Justiça tem quando quer será a única ação concreta à altura da ameaça presente. Não será pacífica e sem riscos, apenas menos violenta e com menos riscos do que a alternativa da leniência", diz o professor.
Leia a íntegra