O esquema de Jair Bolsonaro (sem partido) para compra de apoio de deputados na Câmara ganha ares de novo esquema do pé de botina quando chega em currais eleitorais de aliados do presidente no Nordeste.
Em Junqueiro, no interior de Alagoas, o ex-prefeito Carlos Augusto (MDB), aliado de Arthur Lira (PP-AL) - eleito presidente da Câmara com o apoio de Bolsonaro - anunciou com pompas a chegada de um trator agrícola e de uma retroescavadeira na cidade três semanas antes das eleições de 2020.
No entanto, com a derrota no pleito, o novo prefeito, Leandro Silva (PTB), não chegou a ver as máquinas, que haviam sido devolvidas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), antes que ele tomasse posse.
A história é contada em reportagem na edição desta terça-feira (11) do Estadão pelo jornalista Breno Pires, que revelou o esquema do "orçamento secreto" de Bolsonaro para compra de votos, que tem em uma vertente justamente a compra de tratores com até 259% acima do preço da Codevasf.
Carlos Almeida é aliado de longa data por Lira, que apoiou a eleição do medebista para a prefeitura da cidade onde o pai do deputado, Benedito de Lira - hoje prefeito de Barra de São Miguel -, nasceu.
Cota
O trator doado - e depois devolvido - pela prefeitura de Junqueiro foi comprado por Lira com a cota do Bolsolão. No total, o atual presidente da Câmara direcionou R$ 114,6 milhões para obras, compras de tratores e máquinas pesadas, segundo a planilha secreta do governo.
O valor é quatro vezes maior que o liberado a cada mandato por deputado - que recebe cerca de 8 milhões anuais - em emendas parlamentares.
Segundo a reportagem, a 5ª Superintendência Regional da Codevasf, baseada em Penedo, é comandada pelo primo de Arthur Lira, Joãozinho Pereira, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Teotônio Vilela, que atuou na campanha de Almeida em Junqueiro.
A poucos dias da eleição, Lira esteve na cidade e pediu votos para o aliado.
Pavimentação
Além do esquema em Junqueiro, o Estadão revela, na edição desta terça-feira (11), que o Bolsolão teve metade dos R$ 3 bilhões reservados para obras de pavimentação asfáltica de ruas e estradas em redutos eleitorais de parlamentares aliados.
Segundo documentos obtidos pela reportagem junto ao Tribunal de Contas da União, parte das licitações foram consideradas irregulares.
Os valores globais desses pregões questionados são de R$ 533 milhões, um terço de um total de R$ 1,6 bihão aplicado nas obras.
“(Houve) utilização indevida do sistema de registro de preços para a contratação de obras, com o emprego da ata de registro de preços como contrato do tipo ‘guarda-chuva’, com objeto incerto e indefinido, sem a prévia realização dos projetos básico e executivo das intervenções a serem realizadas”, diz o relatório obtido pelo jornal.