Em vídeo divulgado em maio de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deu indícios, durante uma reunião ministerial, de interferência na Polícia Federal. Em abril do mesmo ano, o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, acusou o ex-chefe de ter trocado o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, para conseguir acesso a investigações e proteger familiares e aliados políticos.
Embora o inquérito ainda esteja em curso e não tenha sido provado que o presidente interferiu na corporação, é fato que, desde que Paulo Maiurino assumiu a diretoria-geral da PF em abril de 2021, já houve mudanças em 20 postos de comando.
A mais recente, que gerou preocupação entre as equipes, foi a exoneração da delegada Dominique de Castro Oliveira, que atuava junto à Interpol, a polícia internacional, e foi a responsável pela ordem de prisão nos Estados Unidos do blogueiro Allan dos Santos.
Trocas envolvem amigo de Heleno, aliado de Everaldo e próximo de Flávio Bolsonaro
Este ano, houve uma série de trocas em superintendências que cuidam de casos sensíveis e de interesse do governo e de parentes do presidente, como em São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Pará e Distrito Federal. Quatro superintendências receberam novos chefes vindos do Rio de Janeiro, base eleitoral de Jair Bolsonaro.
De acordo com o Jornal Nacional, duas chamam a atenção: a do novo comandante da PF em São Paulo, Rodrigo Bartolamei, cujo pai é um general próximo de Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, e do novo superintendente do Pará, delegado Fábio Andrade, que é próximo do pastor Everaldo, que batizou Jair Bolsonaro no rio Jordão, em Israel.
Bartolamei foi investigado internamente por ter organizado um esquema de proteção particular, extraoficial, para um represente do Catar na Copa do Mundo no Brasil. O caso foi arquivado, mas um incidente desse tipo, normalmente, seria um empecilho numa disputa interna por cargos.
Além disso, ele mobilizou uma operação sigilosa em uma favela do Rio para recuperar o telefone celular do então advogado-geral da União, André Mendonça, que vai assumir uma cadeira no STF.
Outra denúncia preocupante é a substituição de Hugo de Barros Correia por Victor Cesar Carvalho dos Santos no Distrito Federal. Segundo o JN, Hugo foi tirado do cargo após não ter cedido a pedidos de superiores interessados em informações sigilosas de investigações, como do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e de Jair Renan, filho do presidente.
Carvalho dos Santos também tem uma boa relação com os advogados de Flávio Bolsonaro, o que teria facilitado a nomeação. Na maioria das substituições nas superintendências, entram policiais que eram encarregados de serviços rotineiros e que não tinha experiência alguma em diretorias.
Nesta segunda-feira (6), Maiurino disse à TV Globo que nunca recebeu nenhum pedido para manter ou substituir nomes em cargos de chefia e que as acusações têm objetivo de desgastar o governo e a PF. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República não respondeu à tentativa de contato do Jornal Nacional.