O jornal francês Le Monde destaca em seu site nesta segunda-feira (11) a emergência do movimento neonazista no Brasil, que se encontra "cada vez mais visível e descomplexado" sob o governo Jair Bolsonaro.
"No Brasil de Jair Bolsonaro, neonazistas cada vez mais visíveis e desinibidos", diz a chamada da reportagem, escrita pelo correspondente no Rio de Janeiro, Bruno Meyerfeld.
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"Nos últimos anos, explodiu no país o número de escândalos envolvendo admiradores do Terceiro Reich. Para alguns estudiosos, esta é apenas a ponta do iceberg", complementa.
A reportagem, ilustrada com imagem de manifestantes segurando cartazes que comparam Bolsonaro a Adolph Hitler, cita dados levantados pela pesquisadora e antropóloga Adriana Dias, colunista da Fórum, informando que a quantidade de "células neonazistas" passou de 75 a 530 entre 2015 e 2021.
Segundo ela, "500 mil brasileiros seriam consumidores de produtos relacionados ao 3° Reich".
Mas é sobretudo online que esses extremistas são mais ativos. A ONG Safernet registrou, no mesmo período, um aumento de 600% das denúncias por apologia ao nazismo na internet no Brasil.
Santa Catarina: casa dos nazistas
A reportagem lista diversos casos de apologia ao nazismo registrados durante o governo Bolsonaro no país e diz que o estado de Santa Catarina, onde o presidente teve o maior índice de votação no país, como "a casa histórica dos nazistas brasileiros".
"Em 2020, o Partido Liberal (PL, à direita) causou escândalo ao investir como candidato municipal na pequena cidade de Pomerode um professor de história, notório nazista, conhecido na região por ter pintado uma suástica para decorar o fundo de sua piscina. No mesmo período, a governadora interina de Santa Catarina, Daniela Reinehr, foi questionada sobre as controversas atividades de seu pai, Altair, um dos negacionistas mais célebres do Brasil, defensor do Holocausto. Pressionada, ela evitou criticar o pai, em nome da harmonia em sua família e da liberdade de pensamento", diz o texto.
Ouvido pelo Le Monde, o professor de História contemporânea, Odilon Caldeira Neto, da Universidade Federal de Juiz de Fora, afirma que atualmente os neonazistas brasileiros se sentem mais livres para se expressarem, sobretudo com a normalização da classificação do presidente Jair Bolsonaro como um “nazista”, “negacionista”, “genocida”, por seus opositores.
Para Caldeira Neto, os neonazistas brasileiros se sentem legitimados por uma presidente qualificado de "homofóbico, racista e que faz o culto da ditadura e da violência". Segundo, ele, "de certa forma, ele é compatível com os ideais" desses extremistas.