Em entrevista destacada na capa do jornal Valor Econômico, do grupo Globo, o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), se fiou como garantia de que não haverá um golpe no Brasil e, em demonstração de tutela ao presidente, disse que Jair Bolsonaro se "irrita" e por isso entoa o que ele chama de "retórica inflamada".
"Falam de golpe. Isso está totalmente fora de propósito, fora de ordem e fora de foco", disse Mourão, que foi enfático ao ser questionado se "totalmente". "Totalmente! Totalmente! Pode ter certeza disso".
Para o vice, tanto Bolsonaro quanto o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que em nota falou em em “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” ao criticar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), usam "retóricas inflamadas" e, no caso do presidente, é dominado pelo ódio.
"Acho que muita coisa é só retórica inflamada. Acho não, é retórica inflamada de ambos os lados. Existe um clima de torcida organizada para tudo, desde o remédio [a cloroquina] até decisão…", disse, sendo interrompido pelos repórteres do jornal sobre "a polarização assustadora".
"Esse caso do Heleno já passou. Na sexta-feira [dia 22] ele fez um desabafo com aquele encaminhamento do [ministro do STF] Celso de Mello. E o presidente se irrita. Essa é uma característica pessoal dele. A gente procura conversar com ele para ele não se irritar porque quem te irrita te domina. Ele compreende, mas tem hora que ele faz os desabafos dele", disse, mostrando tutela a Bolsonaro.
Atos antifascistas
A entrevista foi concedida na sexta-feira, mas em nota ao jornal neste domingo (31), após os atos antifascistas pelo Brasil, Mourão afirmou que "é preciso respeitar a liberdade de expressão, opinião e pensamento no país".
“Enquanto as atribuições dos Poderes estiverem sendo respeitadas, as decisões das autoridades acatadas e a disciplina das Forças Armadas mantida, como vem acontecendo, não há qualquer ameaça ao Estado de Direito Democrático no Brasil. É preciso respeitar a liberdade de expressão, opinião e pensamento no país e, muito particularmente, não usar a defesa da Democracia para suprimir direitos e causar instabilidade", diz a nota, segundo o jornal.
Fake News e impeachment
Mourão ainda afirmou que o impeachment de Bolsonaro por causa das fake news é "despropositado", mas ressalta que isso "faz parte da pressão política".
"Querer levar para as “fake news” e dizer que isso foi abuso do poder econômico na campanha como foi a do presidente Bolsonaro - e na minha eu gastei R$ 20 mil - é despropositado. Mas faz parte da pressão política. Querer desqualificar a eleição do presidente Bolsonaro por fatos dessa natureza é totalmente inadequado. Quanto ao impeachment, não vejo clima no Congresso para isso e, a partir do momento em que estiver azeitado o relacionamento com os partidos políticos do chamado Centrão, dificilmente evolui", disse, em relação à cooptação que o governo tem feito de políticos do Centrão após Bolsonaro montar um balcão de negócios no Planlato.
"Agora o presidente mudou a forma de se relacionar com o Congresso e está buscando formar uma base. Aí sentam o dedo em cima nele: ‘Ah! Você está se unindo com o Centrão’. Com quem ele vai se unir? Aí todos criticam. Você fica entre a cruz e a espada. Se não faz está errado e se faz está errado também. O que acontece, eu vejo, é que a relação entre Executivo e Legislativo vai se harmonizar. ‘Ah, mas vai ter cargos!’ Isso faz parte, sempre fez".