Bolsonaro recua sobre lista de compradores de madeira ilegal e ataca a França

Em carta, um grupo de 262 organizações e empresas afirmam que o governo Bolsonaro é um dos principais responsáveis pelo comércio de madeira ilegal por esvaziar e aparelhar órgãos de fiscalização, como o Ibama

Jair Bolsonaro com Ronaldo Caiado e Luiz Antonio Nabhan Garcia, ex-presidente da UDR e secretário de assuntos fundiários do governo (Foto: Isac Nóbrega/PR)
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Jair Bolsonaro (Sem Partido) recuou na ameaça de divulgar a lista de países que compram madeira ilegal do Brasil durante live na noite desta quinta-feira (19), conforme havia prometido, mas aproveitou a transmissão para voltar a atacar a França que, segundo ele, estaria na lista e atrapalha o acordo de abertura de comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

"Eu vi aqui que tem vários países com madeira importada anualmente, se pegar aqui tem até a França aqui também. Para a gente avançar no acordo com a União Europeia com o Mercosul, é exatamente na França, estamos fazendo o possível, mas a França em defesa própria nos atrapalha no tocante a isso aí", afirmou, após ressaltar que "não vai acusar nenhum país aqui de cometer nenhum crime ou ser conivente de um crime, mas empresas que poderiam estar nos ajudando a combater esse ilícito".

Bolsonaro ainda criticou, durante a transmissão o projeto do Reino Unido que vai exigir que a importação de commodities seja feita de acordo com as leis ambientais. Para o presidente, a medida teria como objetivo atingir o Brasil.

https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1329546213184724993

Após a live, Liz Davidson, encarregada de negócios da Embaixada do Reino Unido no Brasil, foi às redes sociais esclarecer a medida e lembrou a "longa história de colaboração" com o Brasil.

"E continuaremos colaborando com o Bandeira do Brasil em questões ambientais. Ano que vem, a @COP26 será crucial para unir o mundo e agir. O UK está comprometido a facilitar um resultado ambicioso das negociações e atingir o potencial do Acordo de Paris, assinado por quase 190 países", afirmou em uma sequência de tuites.

https://twitter.com/LizDavidson_UK/status/1329589643361341441

Culpa do governo
Em carta, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento composto por 262 representantes de bancos, indústria, agro e Organizações Não Governamentais (ONGs), afirma que o governo Bolsonaro é um dos principais responsáveis pela criminalidade que domina o mercado de madeira no País em razão do desmonte e aparelhamento dos órgãos de fiscalização.

No documento, a que o jornal O Estado de S.Paulo teve acesso, os signatários afirmam que mais de 90% do desmatamento é ilegal e que o maior entrave para reverter a situação “é a insegurança jurídica causada pela falta de fiscalização e comando e controle pelo Estado”.

“O Brasil só vencerá o comércio ilegal de madeira se todos assumirem sua responsabilidade. É preciso destacar o papel crucial do poder publico, já que empresas e investidores não têm – e nem deveriam ter – poder de polícia para lidar com invasões, roubo de madeira e outras ilicitudes que contaminam a cadeia de produção, atingindo os mercados nacional e internacional, e ainda reforçam outras atividades ilegais”.

Assinam a carta, entre outros, JBS, Klabin, Marfrig, Amaggi, Basf, Danone, Natura, Unilever, WWF Brasil, WRI Brasil, TNC, Imazon e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).