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POLÍTICA
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Por Marcos Cesar Danhoni Neves*
“Senti que morrer devia ser doce ... ficar livre para sempre da vergonha, da angústia, da solidão... de tudo”. (“Incidente em Antares”, Érico Veríssimo)
Em algum lugar do Brasil em 2179 ...
Diz-se que após Bolsonaro ganhar fraudulentamente as eleições no distante ano de 2018, por meio de uma encenação de atentado a faca e de impulsionamento de milhões de mensagens whats por parte de empresários e pastores corruptos, o novo governante-usurpador abriu seu balcão de empregos para prosseguir em seu processo antirrevolucionário de destruir o Brasil. Fez publicar nas suas redes de extremistas os seguintes empregos:
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PRECISA-SE:
1-para o Ministério dos Direitos Humanos e da Família, mulher, sequestradora de criança, especialmente de etnia indígena, que seja fundamentalista cristã e tenha delírios teístas e sexuais;
2-para o Ministério do Meio Ambiente, homem branco, que tenha experiência em falsificação de fotos de satélite para adulterar áreas de proteção ambiental e instalar indústrias poluidoras e que permita o desmatamento da Amazônia;
3-para o Ministério da Educação, homem branco, inculto, irresponsável, non-sense e que tenha processado o próprio pai;
4-para o Ministério da Ciência e Tecnologia, homem branco, que tenha sido caroneiro em viagem espacial, terraplanista, energúmeno, egocêntrico e que aceite falsificação de fotos enviados ao INPE por satélites espaciais para ajudar o ministro do Meio Ambiente a encobrir dados do desmatamento na Amazônia;
5-para o BNDES, homem branco, arrombador de condomínios;
6-para o Ministério do Turismo, homem branco, que tenha administrado “laranjais”, misógino e incompetente por natureza;
7-para a Chancelaria, homem branco, de escassa inteligência, terraplanista, ufologista, eugenista e que acredite que o nazismo era de esquerda;
8-para a embaixada brasileira nos EUA, homem branco, com disfunção erétil, e com compatibilidade genética com o des-presidente em 99,99% no DNA;
9-para a assessoria ASPONE, homem branco, que aprecie revistas masculinas de Thamy Gretchen, egocêntrico, mitômano, que não assuma sua identidade sexual, e com compatibilidade genética com o des-presidente em 99,99% no DNA;
10-para senador-acólito, especialista em “rachadinhas”, com motorista particular, especialista em retirar boa parte dos salários de seus funcionários, e com compatibilidade genética com o des-presidente em 99,99% no DNA;
11-para o Ministério da Agricultura, mulher branca, ruralista, latifundiária, que aprecie agrotóxicos reprovados em todo o mundo;
12-para o Ministério da Justiça, homem branco, que tenha histórico de estupro da Justiça, xenófobo, propugnador de “excludente de ilicitude”, manipulador de provas criminais e punições ao cárcere de pessoas inocentes;
13-para o Ministério da Economia, homem branco, economista incompetente, que não entenda de Economia, que seja voraz para obter fundos privados de pensão, destruidor de Previdência e que tenha visão privatista extrema;
14-para o Ministério da Saúde, homem branco, especialista em liquidação do SUS, do MAIS MÉDICOS, de destruição da FIOCRUZ e outras Instituições devotadas a pesquisas científicas de vacinas e remédios de baixo custo;
15-para a interlocução na Câmara, mulher branca, muito branca, extremamente branca, ariana, deslumbrada, intratável e espalhadora de fake news;
16-para acompanhamento como primeira-dama-fake, homem afro-descendente, que tenha compatibilidade 100% com o mordomo Stephen, de “Django Livre”;
17-para conselheiro ideológico, homem branco, com 3º ano primário cumprido, astrólogo, terraplanista, misógino, que não tenha feito nada contra o abuso sexual de sua própria filha e apontado uma arma para a cabeça de seus outros filhos, que tenha sido poligâmico e tenha sido internado em clínica psiquiátrica;
18-para vice-presidente, homem branco, admirador do torturador e assassino de prisioneiros políticos e de seu filhos (ainda crianças), Coronel Brilhante Ustra, que acredite que em lares liderados por mães e avós, os filhos tornam-se bandidos;
19-para um cargo inexpressivo, tipo “embaixador de turismo”, homem branco, com nome nórdico, que forje notícias e mate botos cor-de-rosa;
20-para gabinete militar, homem velho, branco, que tenha histórico de massacre em país pobre da América Central, que tenha servido na Amazônia mas deteste indígenas, entreguista, e que tenha participado de evasão de recursos no COB;
21-para a PGR, homem branco, que seja insuportavelmente neopentecostal, fundamentalista religioso, misógino, racista, xenófobo, homofóbico e outras fobias “sadias” para o desgoverno.
No dia em que assumiu o governo, o personagem conhecido por seus seguidores como “Bozo, o Mito”, construído meticulosamente pelo golpe anterior, em 2016, graças à imprensa golpista, ao sistema judiciário corrupto e às forças armadas entreguistas, todas as 21 vagas foram preenchidas.
Como numa estrutura fractal, o macro recapitulou o micromundo e milhares e milhares de cargos foram preenchidos com os vinte e um perfis aqui listados: era uma estrutura replicante à la “Blade runner”. Os replicantes foram chamados pelo seu culto descerebrado e por características lombrosianas, o que explica sua denominação de: “os robôs de Bozo”.
Esta era das Trevas durou vinte anos arruinando o Brasil pelos cinquenta anos posteriores. A era Bozossaurica, como ficou conhecida, só terminou quando um cabo e um soldado heroicos entraram no Palácio Fascista e liquidaram os vinte e um energúmenos, decapitando as cabeças da Hydra que subjugava o país ... mas isto foi numa época muito, muito distante, quando a distopia foi, enfim, substituída pela busca da utopia de uma democracia plena, de igualdade social, que recolocasse na caixa de Pandora todos os monstros que dela haviam saído para assombrar quatro gerações de brasileiros submetidas à mais brutal midiotização que se tem notícia até hoje nos Anais da História ...
*Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá, autor do livro “Memórias do Invisível”, entre outras obras