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Em uma antiga tática da velha política, Jair Bolsonaro recorreu à revista Veja para alimentar sua teoria da conspiração - de que Adélio Bispo dos Santos não agiu sozinho no atentado à faca durante a campanha. A entrevista é uma tentativa de tentar tirar o foco do lamaçal que envolve o clã presidencial nas investigações de um esquema de corrupção no gabinete do filho Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que revela a ligação profunda da família com grupos de milicianos.
Em entrevista a Policarpo Junior, diretor da sucursal de Brasília da Veja - o mesmo que usava as páginas da revista para defender os interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira - Bolsonaro acusa, sem apresentar quaisquer provas, um ex-assessor da campanha de envolvimento no atentado para matá-lo.
“Houve uma conspiração”, disse, ressaltando que o motivo da traição seria vingança por ele não ter escolhido o ex-assessor como candidato a vice.
“O meu sentimento é que esse atentado teve a mão de 70% da esquerda, 20% de quem estava do meu lado e 10% de outros interesses. Tinha uma pessoa do meu lado que queria ser vice. O cara detonava todas as pessoas com quem eu conversava. Liguei para convidar o Mourão às 5 da manhã do dia em que terminava o prazo de inscrição. Se ele não tivesse atendido, o vice seria essa pessoa. Depois disso, eu passei a valer alguns milhões deitado”, disse Bolsonaro.
Na entrevista, feita no domingo, 15 de dezembro, Bolsonaro diz que já sabia que "um novo e barulhento escândalo envolvendo a família estaria prestes a explodir".
Antes de receber o diretor da Veja, Bolsonaro se reuniu com o advogado Frederick Wassef, que faz a defesa dele e do filho. Segundo a Veja, o advogado teria dito que "a próxima encrenca teria como origem interceptações de ligações telefônicas que supostamente mostrariam o envolvimento dele e dos seus filhos com o crime organizado no Rio de Janeiro — áudios que seriam divulgados por uma rede de televisão".
"Pegaram dois milicianos, sei lá quem, conversando e a Polícia Civil gravando. Tem vários diálogos falando que no passado eu participava das milícias, pegava dinheiro das milícias, e agora, presidente, não participo mais — um papo de vagabundo", disse Bolsonaro à revista, acusando novamente o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC) de promover uma armação contra ele tendo em vista a disputa presidencial em 2022.
“O governador botou na cabeça que vai ser presidente e tem de me destruir. Depois da história do porteiro e das buscas na casa da minha ex-mulher, ele está preparando uma nova armação. Já sei que eles pegaram dois milicianos, sei lá quem, conversando e a Polícia Civil gravando. Tem vários diálogos falando que no passado eu participava das milícias, pegava dinheiro, e agora, presidente, não participo mais — papo de vagabundo. Recebo qualquer um dos governadores na hora que eles quiserem. O Witzel não. Se ele quiser falar comigo, vai ter de protocolar o pedido de audiência e dizer antes qual é o assunto”, disse.
"Cavalão"
No texto, o diretor da Veja busca passar pano no que chama de "trapalhadas administrativas" no primeiro ano de mandato e faz elogios a Bolsonaro. "Na juventude, Bolsonaro era conhecido como “cavalão”, por sua velocidade nas provas de atletismo".
Policarpo ainda busca vitimizar o presidente dizendo que "na solidão do Alvorada, andar de moto é a única diversão do presidente", ao melhor estilo Veja de bajulação para conseguir gordas verbas publicitárias de governos.
A revista criada pela família Civita para adular a ditadura militar, ainda torce para a formação de uma "chapa imbatível" para as eleições de 2022, na dobradinha com o ministro da Justiça, Sergio Moro. Bolsonaro corrobora: "“Nós somos Zero Um e Zero Dois. Tem de ver se ele quer".
No balanço do primeiro ano de governo, o jornalista recorre a um velho termo - alvissareiro - para, em mais uma bajulação, dizer que Bolsonaro é portador de "boas novas".
"Para o presidente, o balanço é alvissareiro: reformas importantes foram aprovadas, a economia voltou a crescer, o desemprego dá sinais de recuo, a inflação está sob controle, os juros são os mais baixos da história, casos de corrupção institucional e de fisiologismo explícito sumiram do noticiário e a criminalidade está em baixa. Esses dois cenários aparentemente antagônicos retratam de certo modo o que foi o governo em 2019 — um misto de boas e más notícias. A questão fundamental que se apresenta é saber o que vai prevalecer de agora em diante", finaliza.