Em meio às tratativas para embarcar em uma candidatura anti-Lula - seja com Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos-SP) na Terceira Via ou um representante do clã Bolsonaro -, o Centrão antecipa a disputa eleitoral de 2026 e pressiona o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a romper um acordo com a bancada do PT - e o governo - para colocar o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) na relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026.
A ameaça se dá justamente pela cobiça de partidos como União Brasil, PP e PL diante das emendas parlamentares que abastecem os currais eleitorais e são usadas, muitas vezes, em esquemas para desvio de recursos públicos para abastecer as campanhas políticas.
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A revolta se dá justamente porque o governo Lula, juntamente com o Supremo Tribunal Federal (STF), pôs um freio no chamado orçamento secreto, esquema criado no governo Jair Bolsonaro (PL), que terceirizou o comando do orçamento da União colocando o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), como ministro da Casa Civil - e "presidente de fato", segundo os próprios aliados - com Arthur Lira (PP-AL) no comando da casa legislativa.
Em 2021, por exemplo, a farra das emendas foi comandada pelo relator do Orçamento daquele ano, o senador bolsonarista Márcio Bittar (União-AC). Bittar e a mãe de Nogueira, Eliane Nogueira (PP-PI), que assumiu o lugar do filho no Senado, apoiaram emendas que somaram R$ 867 milhões que foram distribuídas no ano eleitoral de 2022.
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No total, em 4 anos de governo Bolsonaro, o valor distribuído em emendas parlamentares girou em torno de R$ 93 bilhões, transferindo o poder sobre o orçamento do Executivo para o Legislativo.
Agora, deputados do Centrão querem tirar a relatoria do Orçamento do também ano eleitoral de 2026 do deputado do PT para turbinar as emendas parlamentares e, ao mesmo tempo, amarrar a capacidade do governo Lula de investir em ações sociais, que podem retornar em capital de votos.
Um dos líderes do motim é o deputado Danilo Forte (União-CE) que falou abertamente à Folha de S.Paulo sobre a pressão exercida pelo Centrão em cima de Motta.
"Não é por ser o Zarattini, é por ser alguém do partido do governo. O Executivo já elaborou o projeto, agora precisamos de alguém que faça o contraponto e oxigene o debate", afirmou. O "oxigênio" se dá justamente nas emendas parlamentares.
Zarattini confirmou à Fórum que a bancada do PT enviou um ofício ao presidente da Comissão Mista do Orçamento, o senador Efraim Filho (União-PB), indicando seu nome como relator.
À Folha, o senador afirmou que recebeu o ofício e saiu pela tangente ao ser indagado sobre a pressão contra o deputado governista.
"Na comissão, vamos prezar pelo senso de responsabilidade fiscal e entender que é importante evitar uma gastança desenfreada e que o equilíbrio não se faz apenas pelo lado da receita, com aumentos de impostos, mas também pelo corte de despesas", afirmou, alfinetando o governo.
Vice-líder do PT na Câmara, Rogério Correia (PT-MG) afirmou à Fórum que não acredita que Motta cederá às pressões e que deve manter Zarattini na relatoria do orçamento.
"Foi um acordo público, só não foi assinado porque não precisa de fazer acordo assinado na Câmara, mas o presidente sabe que fez esse acordo e o Centrão também sabe", disse.
"Então, é muita desfaçatez desses partidos querer romper um acordo para a eleição da mesa, onde outros já assumiram as funções que teriam que assumir, inclusive o próprio Centrão. Então, não vejo que isso prospere não, o presidente [Motta] sabe que acordo é para ser cumprido, mas vamos ficar atentos a tudo isso", emendou Correia.