FISIOLOGISMO NO CONGRESSO

Cobiça por emendas em ano eleitoral faz Centrão pressionar Motta para romper acordo com PT

Parlamentares do Centrão querem tirar deputado do PT da relatoria do Orçamento de 2026 para retomar esquema de emendas do governo Bolsonaro para turbinar currais em ano eleitoral.

Arthur Lira, Jair Bolsonaro e lideranças do Centrão na Câmara dos Deputados.Créditos: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
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Em meio às tratativas para embarcar em uma candidatura anti-Lula - seja com Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos-SP) na Terceira Via ou um representante do clã Bolsonaro -, o Centrão antecipa a disputa eleitoral de 2026 e pressiona o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a romper um acordo com a bancada do PT - e o governo - para colocar o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) na relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026.

A ameaça se dá justamente pela cobiça de partidos como União Brasil, PP e PL diante das emendas parlamentares que abastecem os currais eleitorais e são usadas, muitas vezes, em esquemas para desvio de recursos públicos para abastecer as campanhas políticas.

A revolta se dá justamente porque o governo Lula, juntamente com o Supremo Tribunal Federal (STF), pôs um freio no chamado orçamento secreto, esquema criado no governo Jair Bolsonaro (PL), que terceirizou o comando do orçamento da União colocando o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), como ministro da Casa Civil - e "presidente de fato", segundo os próprios aliados - com Arthur Lira (PP-AL) no comando da casa legislativa.

Em 2021, por exemplo, a farra das emendas foi comandada pelo relator do Orçamento daquele ano, o senador bolsonarista Márcio Bittar (União-AC). Bittar e a mãe de Nogueira, Eliane Nogueira (PP-PI), que assumiu o lugar do filho no Senado, apoiaram emendas que somaram R$ 867 milhões que foram distribuídas no ano eleitoral de 2022.

No total, em 4 anos de governo Bolsonaro, o valor distribuído em emendas parlamentares girou em torno de R$ 93 bilhões, transferindo o poder sobre o orçamento do Executivo para o Legislativo.

Agora, deputados do Centrão querem tirar a relatoria do Orçamento do também ano eleitoral de 2026 do deputado do PT para turbinar as emendas parlamentares e, ao mesmo tempo, amarrar a capacidade do governo Lula de investir em ações sociais, que podem retornar em capital de votos.

Um dos líderes do motim é o deputado Danilo Forte (União-CE) que falou abertamente à Folha de S.Paulo sobre a pressão exercida pelo Centrão em cima de Motta.

"Não é por ser o Zarattini, é por ser alguém do partido do governo. O Executivo já elaborou o projeto, agora precisamos de alguém que faça o contraponto e oxigene o debate", afirmou. O "oxigênio" se dá justamente nas emendas parlamentares.

Zarattini confirmou à Fórum que a bancada do PT enviou um ofício ao presidente da Comissão Mista do Orçamento, o senador Efraim Filho (União-PB), indicando seu nome como relator. 

À Folha, o senador afirmou que recebeu o ofício e saiu pela tangente ao ser indagado sobre a pressão contra o deputado governista.

"Na comissão, vamos prezar pelo senso de responsabilidade fiscal e entender que é importante evitar uma gastança desenfreada e que o equilíbrio não se faz apenas pelo lado da receita, com aumentos de impostos, mas também pelo corte de despesas", afirmou, alfinetando o governo.

Vice-líder do PT na Câmara, Rogério Correia (PT-MG) afirmou à Fórum que não acredita que Motta cederá às pressões e que deve manter Zarattini na relatoria do orçamento.

"Foi um acordo público, só não foi assinado porque não precisa de fazer acordo assinado na Câmara, mas o presidente sabe que fez esse acordo e o Centrão também sabe", disse.

"Então, é muita desfaçatez desses partidos querer romper um acordo para a eleição da mesa, onde outros já assumiram as funções que teriam que assumir, inclusive o próprio Centrão. Então, não vejo que isso prospere não, o presidente [Motta] sabe que acordo é para ser cumprido, mas vamos ficar atentos a tudo isso", emendou Correia.
 

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