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Obstrução de Justiça: advogados de Bolsonaro tentaram fazer Mauro Cid trocar sua defesa, diz delator

Ex-ajudante de ordens prestou depoimento à PF e relatou pressão sobre seus familiares por troca de advogado

Jair Bolsonaro (no telão) e Mauro Cid (à esquerda, sentado) durante interrogatório no STF.Créditos: Antonio Augusto/STF
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O tenente-coronel Mauro Cid relatou à Polícia Federal (PF), em depoimento prestado na última terça-feira (24), que advogados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro pressionaram seus familiares para tentar trocar sua defesa durante a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. O ex-ajudante de ordens apontou nominalmente Fabio Wajngarten, Paulo Cunha Bueno e Luiz Eduardo Kuntz como responsáveis pelas abordagens, que teriam começado em agosto de 2023 – justamente quando Cid firmou seu acordo de colaboração premiada com a PF.

“Em uma das ligações com a esposa do declarante, Fabio Wajngarten tentou convencê-la a trocar os advogados que defendiam o declarante; que Fabio Wajngarten realizou várias ligações para a esposa do declarante”, disse Cid, segundo termo de seu depoimento.

Caso tal pressão seja comprovada, trata-se de tentativa de obstrução de Justiça, o que deve complicar ainda mais a situação de Jair Bolsonaro, apontado como o líder da organização criminosa que tentou um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023. 

Contatos com filha e mãe do delator

Além da esposa, a filha menor de idade do militar também teria sido alvo de contatos insistentes por parte de Kuntz e Wajngarten. Cid contou que só descobriu a movimentação ao analisar o celular da adolescente, que é atleta de hipismo – esporte que teria sido usado como pretexto para aproximação. “Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz utilizou como artifício para se aproximar de sua filha assuntos relacionados à atividade de hipismo”, declarou.

A mãe de Cid, Agnes Barbosa Cid, também foi abordada ao menos três vezes na Sociedade Hípica Paulista. Em uma das ocasiões, o advogado Paulo Cunha Bueno, que atualmente defende Bolsonaro, estava presente. De acordo com o delator, os encontros serviam para oferecer nova representação jurídica e sondar informações sobre os termos de sua colaboração.

“Que ao analisar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz e Fabio Wajngarten estavam mantendo contato constante com sua filha menor, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram, de agosto de 2023 até o primeiro de 2024”, detalhou.

PF investiga

A defesa do tenente-coronel acusa os advogados de tentar interferir no acordo de delação e solicitou à PF a investigação por suposta obstrução de Justiça. Na quinta-feira (25), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que os três advogados sejam ouvidos. O depoimento está marcado para a próxima terça-feira (1º).

Luiz Eduardo Kuntz negou tudo, dizendo que irá se manifestar nos autos. “Dada a indevida interpretação da minha atividade profissional, irei me manifestar nos autos, inclusive para preservar a menor”, declarou. Já Wajngarten reagiu nas redes: “A criminalização da advocacia é a cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid e a consequente nulidade da colaboração”. Paulo Cunha Bueno, por sua vez, não se manifestou até o momento.

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