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Freire Gomes enterra Anderson Torres em acareação no STF

Ex-comandante do Exército terminou de complicar de vez o ex-ministro da Justiça, que se tornou o centro do golpe após minuta ser apreendida em sua casa

General Freire Gomes e o ex-ministro Anderson Torres.Créditos: Exército Brasileiro e Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, prestou um depoimento devastador para Anderson Torres durante acareação realizada no Supremo Tribunal Federal (STF). Confirmando que a minuta do golpe apreendida na casa do ex-ministro da Justiça tinha conteúdo semelhante ao documento apresentado por Jair Bolsonaro em reunião com os comandantes das Forças Armadas, o general praticamente encerrou qualquer margem de defesa para Torres.

Na ata da acareação, registrada por determinação do ministro Alexandre de Moraes, consta que "a testemunha diz que a minuta apresentada no dia 7 teria o conteúdo semelhante à encontrada na residência do réu Anderson Torres". Embora Freire Gomes tenha evitado afirmar que os textos eram idênticos, reforçou que tratavam do mesmo tema: a tentativa de instaurar um estado de sítio por meio de um decreto inconstitucional.

"Eu não me lembro ipsis litteris dos documentos pra comparar, não tenho essa capacidade. O que eu sei, sim, é que o conteúdo, em termos gerais, era muito parecido ou tinha pontos idênticos (...). Não sei quem foi o autor, não sei se foi apreendido e esse documento não me foi apresentado por ele", declarou o general.

Documento discutido com Bolsonaro e o achado na casa de Torres tratavam do mesmo plano

Durante a acareação, Freire Gomes reiterou que o material encontrado com Torres abordava "o mesmo assunto constante naquele documento do dia 07/12, ou seja, a possibilidade de decretação do estado de sítio e GLO [Garantia da Lei e da Ordem]". A semelhança no teor reforça a gravidade das acusações e aponta diretamente para uma articulação centralizada em torno de Bolsonaro e de seus auxiliares próximos.

"Em virtude disso, a testemunha reafirma que entende que os documentos têm conteúdo semelhante, pois tratam do mesmo assunto, em que pese jamais ter afirmado que se trata do mesmo documento", diz a ata oficial do STF.

A fala enfraquece de forma contundente a linha de defesa de Anderson Torres, que vinha alegando desconhecimento sobre a autoria da minuta e sua relevância. O próprio ex-ministro havia dito que o material estava entre os papéis levados do gabinete para casa, sem que tivesse tomado qualquer providência a respeito de seu conteúdo.

Torres foi excluído das reuniões decisivas, mas participou de discussões sobre GLO

Freire Gomes também afirmou que Anderson Torres não esteve presente nas duas reuniões mais sensíveis do período, realizadas nos dias 7 e 14 de dezembro de 2022, quando Jair Bolsonaro teria apresentado aos militares o plano de ruptura democrática.

Apesar disso, o general confirmou que Torres participou de outros encontros ministeriais, nos quais se discutia o uso da GLO, ainda que com justificativas ligadas à segurança pública — e não com conotação golpista, como nas reuniões promovidas por Bolsonaro.

"Nessas reuniões ministeriais, recorda-se que o réu Anderson Torres se manifestou, até pelo fato de na época ser Ministro da Justiça e Segurança Pública. A testemunha reitera o seu depoimento judicial onde afirmou que o réu Anderson Torres, na sua presença, jamais incentivou qualquer ato fora da legalidade", diz o documento.

No entanto, Freire Gomes fez uma distinção clara entre essas reuniões institucionais e os encontros restritos com Bolsonaro, nos quais as propostas de ruptura, como a decretação de estado de sítio, teriam sido efetivamente tratadas.

Mesmo com essa ressalva, o depoimento do general derruba o discurso de inocência e fragiliza ainda mais a posição de Anderson Torres na investigação que apura os bastidores da tentativa de golpe.

Defesa de Torres tenta minimizar impacto

O advogado de Torres, Eumar Novacki, tentou relativizar os danos causados pela acareação. Para ele, o encontro entre os dois teria tido um resultado “positivo” e até melhor do que o esperado. No entanto, diante da confirmação de que a minuta achada na casa do ex-ministro era semelhante à apresentada por Bolsonaro aos comandantes militares, a narrativa de que Torres foi apenas um depositário ocasional de um documento irrelevante desmorona.

A fala do general Freire Gomes crava, com a autoridade de quem esteve nas reuniões mais sensíveis da transição, que o conteúdo golpista não era apenas um rascunho disperso, mas parte de um plano discutido no mais alto nível — e cujas peças agora estão vindo à tona uma a uma.

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