O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) entrou em desespero após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) no contexto da investigação sobre a chamada "Abin Paralela". Ele é acusado, junto com seu pai Jair Bolsonaro e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), de integrar uma organização criminosa que teria utilizado a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar adversários políticos e interferir em investigações.
Assim que o indiciamento foi divulgado pela imprensa, Carlos Bolsonaro, conhecido como Carluxo, recorreu às redes sociais para se manifestar. Ele compartilhou uma publicação sugerindo que ele próprio, seu pai Bolsonaro e o deputado Ramagem teriam sido indiciados em uma operação para "encobrir o vazamento da delação de Cid", em referência às mensagens atribuídas a Mauro Cid, delator no inquérito sobre o golpe de Estado, que vêm sendo divulgadas pela mídia. Isto é, que tudo não passaria de uma "armação" da PF.
"Alguém tinha alguma dúvida de que a PF do Lula faria isso comigo? A justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! Coincidência pura!", escreveu Carlos Bolsonaro.
Confira:
Abin Paralela: Jair Bolsonaro, Carlos e Ramagem indiciados
A Polícia Federal (PF) indiciou Jair Bolsonaro (PL), o filho "02" Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), entre outros, ao concluir as investigações sobre a chamada Abin Paralela, um suposto esquema de arapongagem para monitorar inimigos políticos, potenciais adversários e desafetos que foi montado no Palácio do Planalto durante o governo do ex-presidente.
O relatório final aponta Bolsonaro como líder da organização criminosa montada em 2019 a partir da ascensão de Ramagem, por influência de Carlos Bolsonaro, ao comando da Agência Brasileira de Informações (Abin).
Segundo a PF, a organização criminosa também era composta por integrantes do chamado "Gabinete do Ódio", como Tércio Arnaud Thomaz e José Matheus Salles Gomes, conhecido como “Zueiro”, além de policiais federais que foram afastados de suas funções.
A lista de indiciados também inclui Paulo Maurício Fortunato, ex-diretor de operações da Abin durante o governo Bolsonaro que no governo Lula assumiu a secretaria de Planejamento da Abin. Segundo investigadores, ele teria tentado obstruir as investigações e é apontado como o idealizador do uso da ferramenta “First Mile", um sistema de espionagem importado de Israel usado pela quadrilha.
Ainda foram indiciados o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, o chefe de gabinete do diretor, Luiz Carlos Nóbrega Nelson, e o atual corregedor da agência, José Fernando Moraes Chuy.
Ex-número dois da instituição, o delegado Alessandro Moretti também foi indiciado. Próximo a Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Moretti foi mantido por Lula, mas afastado em janeiro de 2024 após busca e apreensão da PF.
Ao todo, 35 pessoas foram indiciadas.
Entenda o caso da "Abin Paralela"
A Polícia Federal investiga a chamada "Abin Paralela", um esquema suspeito de utilizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal e monitoramento político durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações foram desencadeadas após denúncias de que a Abin teria sido instrumentalizada para fins políticos e de espionagem pessoal.
As investigações começaram em 2023, no âmbito das operações "Última Milha" e "Vigilância Aproximada". A PF descobriu que a Abin utilizou um software espião chamado First Mile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas.
A principal acusação é que a Abin foi utilizada para proteger aliados do governo Bolsonaro e monitorar adversários políticos. Entre os monitorados estavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Além disso, foi identificado que a promotora do caso Marielle Franco também foi alvo de monitoramento ilegal.
Até o momento, dois agentes da Abin foram presos e cinco dirigentes da agência foram afastados. Alexandre Ramagem, que foi diretor da Abin durante a gestão Bolsonaro e é próximo da família do ex-presidente, está entre os principais investigados. Ramagem teria coordenado a utilização do software espião para fins ilícitos e chegou a ser alvo de busca e apreensão da PF. Mandados de busca e apreensão também foram realizados em propriedades ligadas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
A investigação da PF revelou mais de 60 mil consultas feitas pelo software First Mile, muitas delas durante o período eleitoral de 2020. Essa quantidade significativa de consultas levanta suspeitas sobre o uso da Abin para influenciar processos políticos e eleitorais, intensificando as preocupações sobre a integridade das instituições democráticas durante o governo Bolsonaro.