JORNAL DA FÓRUM

Hugo Motta é "aprendiz de Eduardo Cunha", diz jornalista sobre manobras na Câmara

Luís Costa Pinto analisa recuo de presidente da Câmara com relação à cassação de Zambelli após pressão de bolsonaristas e ataques ao governo Lula por medidas econômicas

Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados.Créditos: Marina Ramos / Câmara dos Deputados
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Em entrevista ao Jornal da Fórum desta quinta-feira (12), o jornalista Luís Costa Pinto comentou o recuo do presidente da Câmara Hugo Motta em relação à cassação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no plenário e os ataques do Congresso ao governo Lula com relação às políticas econômicas de Fernando Haddad.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltou atrás e afirmou que a decisão sobre a cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP) será submetida ao plenário. Um dia antes, ele havia declarado que não haveria nova votação, já que o julgamento estava encerrado Neste momento, Zambelli está com um pedido de prisão em curso na Itália e uma averiguação para deportação ao Brasil.

Segundo o jornalista. a situação de Zambelli, embora não configure um mandado judicial de busca e apreensão, permite sua prisão caso seja abordada em locais públicos por policiais italianos. "Esse pedido não é um mandado judicial de busca e apreensão e prisão. Por meio dele, a polícia italiana não pode entrar num eventual apartamento ou hotel ou estalagem, aonde ela esteja na Itália. Mas, se ela estiver na rua, se ela estiver em algum evento público no supermercado, num shopping center, num restaurante, aí ela pode ser abordada e presa", explica Costa Pinto.

Ele acrescenta que, embora a prisão seja provável, o processo de deportação levará um tempo administrativo. "Provavelmente quando ela desembarcar no Brasil, ela já estará caçada", completa. 

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) já indicou que o caso deve ser concluído antes do recesso de julho. Após das tentativas de Motta em retardar o processo na Câmara, ele mudou o discurso após pressão de bolsonaristas.

"Hugo Motta é um aprendiz de Eduardo Cunha junto com Arthur Lira. É isso que a gente está vendo nesses últimos dias no processo na Câmara dos Deputados em diversas agendas", afirma.

Mídia liberal, economia e ataques ao governo Lula 

A política econômica do governo, capitaneada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, novamente se vê em uma onda de ataques da direita. Costa Pinto questiona a comunicação do governo em relação às medidas de aumento de arrecadação e cita as declarações do ministro sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que, segundo ele, atingiria apenas quem viaja para a Disney, e sobre a tributação de LCI e LCA, que incidiria sobre quem "mora em cobertura".

"Em que mundo você vive que o IOF é uma coisa que só paga quem vai para a Disney e que LCI e LCA é coisa de quem mora em cobertura?", questiona Costa Pinto, argumentando que essas medidas podem afetar diretamente a classe média baixa e as camadas populares, servindo de munição para a oposição. Recentemente, o ministro voltou atrás na questão do IOF e disse que não será mais implementada como inicialmente previsto. A nova frente de batalha do governo é a taxação das bets e a busca por recursos que compensem as isenções fiscais, especialmente as concedidas ao sistema financeiro e ao agronegócio, o que para Costa Pinto, será um desafio necessário.

"É algo que ainda vai ser construído com o Senado, com o Congresso Nacional, que tem que o o lobby o lobby dos dos bancos, do sistema financeiro é muito forte no Congresso Nacional. Então, vamos ver como isso é construído. É sempre difícil se mexer com quem tem muito dinheiro, com todo esse setor financeiro, em que o Brasil o Brasil tem um setor financeiro mais poderoso proporcionalmente ao conjunto da riqueza nacional do mundo. O Brasil é o país mais desigual do mundo e tem um dos juros mais altos do mundo e o país tem essa cultura do giro alto que beneficia quem tem capital, né? Beneficia quem quem tem muito capital porque ganha dinheiro com renda"

Na última quarta-feira (11), o ministro da Fazenda participou de uma audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. No entanto, deputados bolsonaristas Carlos Jordy (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Marco Feliciano (PL-SP) e José Medeiros (PL-MT) promoveram uma arruaça contra o ministro, levando ao encerramento do debate. 

O que era para ser uma troca de ideias — e até mesmo de críticas — terminou em barraco provocado pelos deputados bolsonaristas Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ). Tudo começou quando Jordy e Ferreira, no momento de suas respectivas intervenções, fizeram críticas à gestão de Haddad à frente da Fazenda e, posteriormente, se retiraram do plenário.

Indignado com a saída dos parlamentares, Haddad afirmou que o que eles fizeram era uma “molecagem”, pois, segundo ele, “apresentaram números equivocados e não ficaram para ouvir a resposta”.

“Agora aparecem dois deputados, fazem as perguntas e correm do debate. Nikolas sumiu, [perguntou] só para aparecer. Pessoas falaram, agora tenha maturidade. E corre daqui, não quer ouvir explicação, quer ficar com o argumento dele. Não quer dar chance de o diálogo fazer ele mudar de ideia”, disse Haddad

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Costa Pinto também ressaltou em entrevista que a mídia liberal, especialmente da Rede Globo, embora tenha sido historicamente crítica ao PT e à esquerda, pode ajudar a "destruir a imagem e a reputação de Hugo Motta e da extrema direita no Congresso", o que pode ser relevante para as eleições de 2026.

"Hugo Motta está cavando um buraco e se colocando dentro, porque ele começa a perder a base de respeito da sociedade pela figura de presidente da Câmara pelo que ele está fazendo contra o governo no congresso", avalia.

O jornalista ainda comentou a aprovação do governo Lula, que, segundo pesquisas recentes como a Datafolha e PEC, mostra estabilidade. Costa Pinto discorda da visão otimista de que o copo está "meio cheio", argumentando que a eleição de 2022 foi decidida por uma margem mínima e que o governo não conseguiu dialogar efetivamente com a sociedade para mostrar os resultados de sua gestão e a "herança maldita" recebida do governo Bolsonaro. "A herança caótica que ele recebeu no início. Talvez até pelo pela surpresa que é foi um ponto fora da curva do 8 de janeiro de 2023".

Para o jornalista, Haddad é o mais atacado por expor a oposição além das propostas econômicas. "Quem hoje está expondo essa essa oposição canalha não só na política, mas também dos setores da economia, da indústria, do mercado financeiro, é o ministro Fernando Haddad, quando ele tá expondo de maneira clara, cristalina, transparente como se dá e porque se dá a a sabotagem que o governo tá sofrendo nessa MP de requalificação fiscal, eu chamo de requalificação, porque o governo está agindo de forma correta para ampliar a arrecadação, para enxugar os problemas fiscais que o governo evidentemente tem e por quê? Porque esse governo teve que pagar a conta da porteira aberta que se fez em 2021", conclui Costa Pinto.

Confira entrevista completa de Luís Costa Pinto

 

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