A Polícia Federal solicitou a abertura de inquérito para apurar se o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto atuou para conseguir um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, réu por participação em articulações golpistas no país. A Procuradoria-Geral da República concordou com o pedido e apontou que há indícios de tentativa de obstrução da Justiça. Machado nega as acusações.
Segundo os investigadores, o ex-ministro teria procurado o Consulado de Portugal em Recife, sua cidade de residência, para viabilizar o documento europeu com o objetivo de permitir que Cid deixasse o Brasil. Embora a tentativa não tenha tido êxito, a PF levantou a hipótese de que Machado possa ter buscado outras representações diplomáticas com a mesma finalidade.
Além do episódio de maio deste ano, a corporação lembrou que, em janeiro de 2023, antes da primeira prisão de Mauro Cid, houve procura por uma assessoria especializada em obtenção de cidadania portuguesa, o que reforça a suspeita de uma estratégia para fuga do país.
A PGR avalia que, caso confirmadas, as ações podem configurar favorecimento pessoal e tentativa de interferência nas investigações que envolvem a chamada trama golpista e outros desdobramentos, como o caso das joias e a apuração sobre uma estrutura clandestina na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
“Estou surpreso. Nunca fui atrás de nada a respeito de Mauro Cid. Tratei do passaporte para o meu pai”, afirmou Gilson Machado ao ser questionado sobre o caso.
Em manifestação, a PGR apontou “elementos sugestivos” de uma atuação direcionada a atrapalhar a instrução da Ação Penal nº 2.688/DF e outras apurações em curso, com o possível intuito de viabilizar a fuga do réu Mauro César Barbosa Cid e impedir a aplicação da lei penal, especialmente diante da proximidade do encerramento da fase de instrução processual.
Ao ser abordado por jornalistas, Cid disse desconhecer qualquer movimentação sobre passaporte: “Novidade para mim. Não houve pedido de passaporte.” Já seu advogado, Cezar Bitencourt, negou qualquer plano de saída do país: “Não, absolutamente nada. Não tinha interesse nenhum em sair do país.”
Gilson Machado foi ministro do Turismo durante o governo de Jair Bolsonaro e mantém vínculos estreitos com o ex-presidente. Candidatou-se à prefeitura do Recife em 2023, pelo PL, ficando em segundo lugar. Mais recentemente, ele organizou uma campanha de arrecadação para Bolsonaro que, segundo o próprio ex-presidente, foi realizada sem seu conhecimento. De acordo com depoimento prestado à PF, Machado teria arrecadado cerca de R$ 1 milhão para o líder extremista.
