O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão afirmou que, na semana em que foi depor no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, este lhe procurou com orientações sobre seu depoimento.
Segundo Mourão, Bolsonaro pediu, por exemplo, que o senador reforçasse na oitiva, que ocorreu na sexta-feira (23/5), nunca ter ouvido qualquer menção do ex-presidente sobre algum tipo de ruptura institucional. [Metrópoles, Igor Gadelha]
A matéria caiu como uma bomba e a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro passou a ser dada como certa. Isso porque o Procurador Geral Paulo Gonet teria ficado furioso com o desplante de Bolsonaro, como se essa não fosse uma atitude habitual do ex-presidente, que, desde seu crime impune ainda no Exército, quando havia planejado explodir bombas nos quartéis, vem testando os limites da lei, com sucesso, já que segue solto.
No entanto, o senador Mourão ligou em seguida para o jornalista afirmando que a conversa teria sido apenas "genérica".
Após a publicação da matéria, Mourão procurou a coluna, na manhã desta quarta-feira (28/5), para ressaltar que a conversa entre ele e Bolsonaro durante o telefonema foi “genérica”.
Ainda assim, muito provavelmente o PGR deve solicitar novo depoimento ao senador, para confirmar ou não o teor de suas declarações, não apenas ao jornalista, mas também diante dos ministros do STF no caso da tentativa de golpe de Estado.
Os advogados de Jair Bolsonaro defendem o direito do ex-presidente ligar para suas testemunhas e pedir que elas ressaltem alguns pontos, porque isso estaria "no pleno exercício de sua defesa".
Se isso não é orientar os depoimentos é um novo nome para a coisa com a mesma finalidade.
Fato é que mais uma vez Jair Bolsonaro testa os limites.
PGR avalia pedir prisão de Bolsonaro
Jair Bolsonaro pode estar curtindo seus últimos dias de liberdade. A petulância criminosa de telefonar para seu ex-vice-presidente, o hoje senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), momentos antes do depoimento do general da reserva, que compôs chapa com ele na eleição vitoriosa de 2018, no âmbito da ação penal pela tentativa de golpe de Estado, deixou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, furioso. A Fórum apurou que a hipótese de um pedido de prisão preventiva do ex-presidente por parte da PGR à Primeira Turma do Supremo está em análise neste momento em Brasília.
Após cometer uma série de condutas ilícitas no transcorrer do processo desde que se tornou réu, Bolsonaro teria cruzado a linha vermelha ao ligar para Mourão para “orientá-lo sobre o que deveria ser enfatizado no depoimento” à Primeira Turma do STF. Fazer isso, obviamente, é ilegal: constitui o crime de obstrução de Justiça, e para alguns até de o de coação no curso do processo. Ou seja, uma tentativa explícita de direcionar uma testemunha dizendo a ela o que deve ser contado ou não no tribunal.
O próprio general Mourão, atualmente senador, confirmou ao portal Metrópoles que Bolsonaro queria que ele “reforçasse nunca ter ouvido qualquer menção do ex-presidente sobre ruptura institucional”. É inacreditável, mas o réu passou a dizer à testemunha como ela deveria depor e o teor do que deveria falar.
A apuração da Fórum também aponta para um clima não de incerteza no Supremo, mas de análise criteriosa do caso. Gonet só fará o pedido de souber de antemão que Moraes vai acatá-lo e determinar a prisão do líder extremista. Se o famoso “Xandão” titubear, o PGR nem mesmo apresenta o pedido e então partirá para outras sanções possíveis ao réu. No entanto, não é o que ele quer. No entendimento de Gonet, Bolsonaro desta vez passou de todos os limites do absurdo e deve ser preso preventivamente para que não volte a interferir no processo.
A situação e o possível pedido de prisão preventiva à Primeira Turma do STF seguem em aberto, mas uma decisão deve ser tomada nas próximas horas, ou no máximo até esta quinta-feira (29).