MATADOR ERA CAPELÃO FAKE

Coronel bolsonarista pagou R$ 20 mil para eliminar advogado

Celulares bomba guardam muitos segredos

Pistoleiro se passou por idoso frágil antes de executar advogado do lado de fora do escritório.
O matador.Pistoleiro se passou por idoso frágil antes de executar advogado do lado de fora do escritório.Créditos: Reprodução do inquérito
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O grupo desbaratado hoje pela Polícia Federal, auto-intitulado C4, ou Comando de Caça aos Comunistas, Corruptos e Criminosos, não ficou só no planejamento.

O coronel da reserva do Exército, Etevaldo Caçadini de Vargas, pagou R$ 20 mil ao pistoleiro Antônio Gomes da Silva para eliminar o advogado Roberto Zampieri em Cuiabá, Mato Grosso.

Zampieri, conhecido como "lobista dos tribunais", teria sido favorecido por um desembargador de Mato Grosso numa disputa por terras que prejudicou a família do fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo, apontado como mandante do crime.

O coronel Etevaldo, que se formou na mesma turma de Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, é investigado em um inquérito relacionado ao 8 de janeiro no Supremo Tribunal Federal. Ele teria conhecido o mandante do assassinato em um grupo batizado de Frente Ampla Patriota ou Frente Ampla Patriótica, de defesa do bolsonarismo.

De acordo com depoimento do pistoleiro à polícia civil do Mato Grosso, o intermediário do crime foi o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa.

O inquérito aberto pela polícia estadual para esclarecer o assassinato foi assumido pela Polícia Federal depois do indício de envolvimento de autoridades com prerrogativa de foro.

Iphone bomba

Ao investigar, a polícia local encontrou 11 mil em dinheiro no automóvel do advogado morto. O celular dele, apreendido, é chamado de "iphone Bomba" pela mídia local.

O celular do coronel Etevaldo também foi apreendido.

O delegado Nilson André Farias de Souza diz ter encontrado nele indícios de que o coronel bolsonarista articulou o assassinato. Logo depois da execução, ele teria ligado para o instrutor de tiro para perguntar se o pistoleiro tinha sido bem sucedido.

O preço da encomenda foi de R$ 40 mil, mas o matador disse ter recebido apenas o adiantamento de R$ 20 mil.

Logo depois de conversar com o instrutor de tiro, o coronel Etevaldo também ligou para Anibal, o fazendeiro acusado de ser o mandante.

De acordo com o pistoleiro, ele viajou de Belo Horizonte até Cuiabá para fazer campana. A viagem teria sido financiada pela esposa do mandante, que mandou um pix de R$ 2 mil para o coronel Etevaldo para cobrir as despesas.

Falso capelão

O matador Antônio Gomes da Silva apresentou-se ao advogado como sendo representante de uma estadunidense interessada em comprar terras no Mato Grosso.

Como disfarce, afirmou ser capelão. Usava bengala e boina, assumindo uma aparência de homem bondoso da terceira idade.

O assassino disse à polícia que pretendia matar o advogado longe da cidade, para ter chance de fuga.

Porém, sob pressão dos que encomendaram o crime, decidiu matar o advogado na rua.

Em 5 de dezembro de 2023, ele sentou-se sobre um tronco de árvore na frente do escritório e escondeu a pistola 9 mm.

Eram quase 8 da noite quando Zampieri deixou o escritório. O matador se aproximou da janela de passageiro do carro e disparou 12 vezes. 

Por enquanto, é o único crime confirmado cometido pelo Comando de Caça aos Comunistas, Corruptos e Criminosos, ligado aos militantes bolsonaristas.

A partir do assassinato de Zampieri, as investigações da Polícia Federal levaram ao afastamento de dois desembargadores de Mato Grosso, suspeitos de vender sentenças. Outros cinco foram afastados em Mato Grosso do Sul, num caso correlato.

Os desdobramentos do caso levaram à ação desta quarta-feira, 28, com mandados de prisão federais emitidos contra o mandante e o coronel Etevaldo e a revelação de que este integrava o bando armado de pistolagem e espionagem.

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