Durante audiência realizada nesta sexta-feira (23) no Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, cometeu uma gafe ao deixar escapar, inadvertidamente, a frase “fiz uma cagada agora”, acreditando que seu microfone estava desligado. A declaração ocorreu enquanto ele participava, por videoconferência, da oitiva do ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, convocado como testemunha de defesa no processo contra o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.
O episódio teve início quando Gonet perguntou a Rebelo se a Marinha, sem o apoio do Exército, teria condições de “romper com a normalidade institucional”. A questão, considerada opinativa, foi imediatamente contestada pela defesa de Garnier. O advogado do ex-comandante, Demóstenes Torres, dirigiu-se ao ministro Alexandre de Moraes, que presidia a audiência, para reclamar da formulação, alegando que ela feria os mesmos critérios que momentos antes haviam sido utilizados para repreender a própria defesa.
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Moraes interveio, solicitando que o procurador refizesse a pergunta. Nesse intervalo, acreditando que o microfone estivesse fechado, Gonet comentou em voz baixa, com a mão nos lábios: “Fiz uma cagada agora.” O áudio, no entanto, seguiu transmitido e a frase foi registrada oficialmente na gravação da sessão.
Apesar da gafe, Gonet prosseguiu com a audiência e a testemunha respondeu à pergunta reformulada. Aldo Rebelo foi categórico ao afirmar que, sem o Exército, a Marinha não teria capacidade de agir isoladamente para romper a ordem democrática.
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Conhecido por seu estilo sóbrio e cordial na condução de oitivas, Gonet teria se sentido desconfortável com o tom mais incisivo adotado na ocasião — o que, segundo interlocutores, explicaria sua reação espontânea. O deslize, ainda que involuntário, chamou atenção nas redes e nos bastidores do Judiciário.
Moraes ameaça prender Aldo Rebelo
Na mesma audiência, o ministro Alexandre de Moraes protagonizou um embate com Aldo Rebelo. Ele prestava depoimento como testemunha de defesa no processo contra o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, um dos acusados de encabeçar a tentativa de golpe levada a cabo por Jair Bolsonaro. O episódio ganhou contornos tensos quando Moraes ameaçou prender Rebelo por desacato diante da petulância dele.
“Se o senhor não se comportar, o senhor vai ser preso por desacato”, afirmou Moraes, interrompendo uma intervenção do ex-ministro sobre o uso da expressão “estar à disposição” por parte de Garnier. Segundo Rebelo, a frase não deveria ser interpretada literalmente. “A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente”, argumentou.
Moraes rebateu de forma ríspida: “O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier falou essa expressão? Então, o senhor não tem condições de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos”.
Rebelo respondeu à advertência afirmando que não aceitaria restrições à sua interpretação linguística: “A minha apreciação da língua portuguesa é minha e eu não admito censura”.
Na sequência, Moraes reiterou a possibilidade de punição: “Então o senhor se comporte e responda à pergunta”, exigiu.
Clima volta a esquentar após novo questionamento de Aldo
Pouco depois, a audiência voltou a esquentar quando Rebelo questionou se a investigação havia apurado o comando de mobilização das tropas por parte de Garnier:
“O que eu gostaria de saber era se o inquérito apurou junto a essa estrutura de comando, se de fato foi transmitida pelo comandante da Marinha alguma orientação”, perguntou.
A intervenção foi imediatamente interrompida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que o repreendeu:
“Acho que quem faz as perguntas são o advogado e não a testemunha para o tribunal. Quem tem que saber alguma coisa somos nós, e não o senhor”, disse.
Ainda assim, Rebelo tentou insistir no ponto, sendo cortado novamente por Moraes:
“Se o senhor quer saber, depois o senhor vai ler na imprensa”, ironizou o ministro.
Testemunha foi indicada por sua ligação com a Defesa
Aldo Rebelo foi convocado como testemunha por Almir Garnier devido à sua passagem pelo Ministério da Defesa entre 2015 e 2016, período no qual o ex-comandante o assessorou. O político também ocupou cargos de destaque nos governos do PT, como a Secretaria de Coordenação Política no governo Lula e os ministérios do Esporte e da Ciência e Tecnologia no governo Dilma Rousseff. Entre 2005 e 2007, presidiu a Câmara dos Deputados. Mais recentemente, atuou em secretarias da Prefeitura de São Paulo na gestão Ricardo Nunes.