NÃO QUER FALAR

A estranha reação do atual chefe da Marinha após ser chamado a depor no STF

Almirante Olsen era comandante de Operações Navais à época da tentativa de golpe, o responsável pelos fuzileiros navais. Quem pediu sua convocação foi Almir Garnier

Créditos: Marinha do Brasil/Divulgação
Escrito en POLÍTICA el

O atual comandante da Marinha do Brasil, almirante Marcos Sampaio Olsen, foi convocado para prestar depoimento como testemunha no processo que investiga uma tentativa de golpe de Estado encabeçada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). A solicitação da sua oitiva partiu da defesa do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, que é réu na ação penal. A audiência de depoimento estava marcada para sexta-feira (23).

Porém, na noite de quarta-feira (21), a Advocacia-Geral da União (AGU), que representa Olsen, por conta de seu cargo, apresentou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do caso, um pedido formal para que o almirante fosse dispensado do depoimento. A justificativa oficial indica que “ele desconhece os fatos sob investigação”, um argumento que gerou surpresa e estranheza diante da relevância de seu papel durante o período analisado.

Onde estava Olsen na ocasião da adesão de Garnier ao plano golpista

Durante os fatos investigados, Marcos Olsen ocupava o posto de comandante de Operações Navais da Marinha, ficando sob sua responsabilidade o Corpo de Fuzileiros Navais, força militar essencial para a ação prevista no plano de golpe. Até onde se sabe, ele não teve envolvimento algum na empreitada golpista.

Seu superior imediato à época, o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, foi o único entre os comandantes das Forças Armadas a aderir ao projeto de reversão à força do resultado das eleições presidenciais de 2022, conforme atestado por dois outros comandantes militares, o general Freira Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior, então chefes do Exército e da Aeronáutico, respectivamente.

Garnier colocou à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro suas tropas, incluindo os cerca de 14 mil fuzileiros navais, e chegou a se vangloriar do potencial desse contingente para execução do golpe. O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, que comandava a Aeronáutica na época, confirmou em depoimento à PF e ao STF a adesão de Garnier ao plano e ressaltou que a informação sobre o número de fuzileiros só era de seu conhecimento justamente porque o réu a compartilhou nas reuniões.

Nesse contexto, é natural supor, ou imaginar, que Olsen, como comandante das operações navais, tinha algum conhecimento sobre qualquer movimentação dessas tropas, algo que é apenas uma possibilidade, mas que, em tese, torna sua recusa em depor ainda mais intrigante. Se não soubesse de nada, era só dizer isso na oitiva.

O desconforto e as implicações da negativa de depoimento

A decisão do almirante Olsen de solicitar dispensa do depoimento gerou especulações sobre os motivos que o levam a essa postura. Por um lado, o militar poderia optar por defender seu antecessor, mas isso atrairia críticas da sociedade, da imprensa e do atual governo. Por outro, se revelasse detalhes sobre o que sabia ou desconfiava acerca do golpe, poderia se complicar judicial e institucionalmente.

Esse dilema explica o desconforto do comandante e sua busca por evitar o depoimento, posicionamento incomum para um oficial de sua envergadura e importância estratégica dentro das Forças Armadas.

A ausência do comandante da Marinha no processo judicial, se assim for confirmada, compromete a transparência das apurações e dificulta o esclarecimento completo dos fatos que envolvem uma ameaça séria à democracia brasileira.

É fundamental que o STF analise com rigor o pedido de Olsen, garantindo que a justiça seja feita e que as Forças Armadas colaborem integralmente com as investigações, fortalecendo as instituições democráticas e a confiança da sociedade no Estado de Direito.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar