A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julga nesta terça-feira (20) a denúncia contra o chamado Núcleo 3 da tentativa de golpe de Estado articulada por Jair Bolsonaro e aliados. Composto por 11 militares do Exército e um agente da Polícia Federal, o grupo é acusado de planejar medidas extremas, incluindo assassinatos, para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dissolver instituições democráticas.
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Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), esse núcleo era responsável por ações táticas e operacionais para viabilizar o golpe, incluindo o uso de força contra autoridades, a pressão sobre o alto comando das Forças Armadas e o monitoramento de alvos. Os crimes imputados incluem tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Entre os acusados está Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal com 22 anos de carreira. A PF afirma que ele atuou como elo entre os golpistas e os operadores do plano no campo, tendo acesso direto a informações sensíveis da equipe de segurança do presidente Lula.
Wladimir chegou a trabalhar na segurança de Lula durante o período de transição, quando o petista se hospedava no Hotel Meliá, em Brasília. Nesse período, ele repassou dados estratégicos — como localização de membros da segurança, vulnerabilidades e rotas da comitiva — a aliados de Bolsonaro, incluindo o ex-assessor Sérgio Cordeiro.
Em áudios obtidos pela investigação, o agente demonstrava disposição para agir com violência extrema: “A gente ia matar meio mundo de gente”, diz em uma das mensagens. Em outra, chega a afirmar que ele mesmo participaria da prisão do ministro do STF Alexandre de Moraes: “Ele tinha que ter tido a cabeça cortada. A gente estava preparado, inclusive, para ir prender o Alexandre Moraes. Eu ia estar na equipe.”
A PF indica que o plano envolvia assassinatos de Lula, Moraes e Geraldo Alckmin, além de uma possível tentativa de envenenamento e dissolução forçada do Supremo Tribunal Federal.
O grupo ainda é composto por oficiais de alta patente do Exército, entre coronéis e generais da ativa e da reserva. As investigações apontam que vários desses militares participaram de reuniões sigilosas, redigiram documentos golpistas e articularam pressões sobre o Exército.
Entre os nomes estão:
- General Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres, acusado de usar sua influência para incitar apoio ao golpe;
- Coronel Fabrício Bastos, ligado ao Centro de Inteligência do Exército e apontado como autor de uma carta golpista;
- Tenente-coronel Rafael de Oliveira, que teria monitorado os passos de Alexandre de Moraes e integrava o grupo de elite conhecido como “kids pretos”;
- General Nilton Rodrigues, suspeito de organizar encontros para cooptar o então comandante do Exército, general Freire Gomes.
STF já tornou réus outros 22 acusados
Nos últimos meses, a Primeira Turma já recebeu as denúncias contra os Núcleos 1, 2 e 4 — que incluem o próprio Jair Bolsonaro, o ex-diretor da PRF Silvinei Vasques e o ex-ministro Walter Braga Netto.
A sessão desta terça começará com a leitura do relatório do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Em seguida, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados de defesa apresentaram seus argumentos. O presidente da Turma, ministro Cristiano Zanin, reservou ainda a quarta-feira (21) para continuidade da análise, caso necessário.
Se a denúncia for aceita, os 12 acusados do Núcleo 3 se tornarão réus e passarão a responder a uma ação penal no STF. A expectativa, como nos julgamentos anteriores, é de que haja decisão unânime pelo prosseguimento do processo.