A divulgação de novos áudios trocados pelo policial federal Wladimir Matos Soares, preso desde novembro de 2024, com a facção da quadrilha golpista que planejava assassinar Lula, Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes, provocou um clima de barata-voa na Polícia Federal, especialmente entre agentes que ascenderam na corporação com o aparelhamento "anti-Lula", que começou com o "super" ministro da Justiça, Sergio Moro, no início do governo Jair Bolsonaro (PL).
ENTENDA: PF descobre áudios de agente que tinha grupo armado para prender Moraes e "matar meio mundo"
Te podría interesar
Segundo informações obtidas pela Fórum, amigos e agentes solidários a Soares durante a prisão estão calados nos grupos de WhatsApp que reúnem membros da Polícia Federal, "receosos", segundo fonte, que esses áudios sejam apenas a "ponta do iceberg" para a descoberta de muitos policiais que aderiram ao lavajatismo e, em seguida, ao bolsonarismo e hoje se camuflam dentro da instituição para evitar reprimendas.
Alguns, que fizeram comentários a favor de Soares em posicionamento favorável à atuação do agente na trama golpista, estão deixando os grupos alegando que querem "'criminalizar' esse relacionamento social/profissional que eu tenho com ele [Soares]".
Te podría interesar
A Fórum apurou que ainda há uma lista grande de policiais federais que participaram ativamente da tentativa de golpe em 2022 que foram mantidos na corporação.
Diretor-geral da PF, Andrei Passos tem um perfil conciliador e teria decidido punir esses agentes somente após as investigações avançarem e chegarem a esses nomes, com provas de que realmente conspiraram contra a democracia.
O silêncio diante dos novos áudios periciados e divulgados pela própria PF - que revela, entre outros crimes, a disposição do grupo armado de "matar meio mundo" e críticas à Bolsonaro, que teria "dado para trás" - contrasta com a indignação dos policiais federais na prisão de Soares.
À época, a Fórum revelou com exclusividade que em grupos de WhatsApp os agentes criticavam a ação contra o colega e chegaram a fazer uma vaquinha para ajudar com os "custos muito altos com advogado".
No grupo, que reúne policiais federais que já trabalharam como professores do serviço de educação física da Academia Nacional de Polícia, a prisão de "Mike Papa" - gíria usada por policiais para se identificarem -, a prisão do colega golpista causou indignação.
"A caça às bruxas continua", escreveu um agente lotado no Tocantins. Uma outra agente diz que falou com o filho de Soares e que "soube que vai rolar uma vaquinha".
A investigação da própria Polícia Federal (PF), a que a Fórum também teve acesso, afirma que o agente Wladimir Matos Soares atuava como "elemento auxiliar do núcleo vinculado à tentativa de golpe de Estado", fornecendo informações restritas, especialmente sobre a segurança de Lula, então presidente eleito - na linguagem policial, Soares pode ser classificado como um "X-9", gíria para alcaguete, delator, "dedo-duro".
"No que concerne o envolvimento de Wladimir Matos Soares, a autoridade policial anota ter o agente da Polícia Federal atuado como elemento auxiliar do núcleo vinculado à tentativa de ruptura institucional, ao fornecer informações relativas à equipe de segurança do candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva", diz a PF no relatório enviado a Moraes pedindo a prisão do agente.
Segundo os investigadores, ele teria se infiltrado na segurança do presidente eleito para repassar informações sigilosas a grupos golpistas. Conversas interceptadas indicam que ele forneceu detalhes estratégicos sobre a rotina de segurança presidencial e se colocou à disposição para atuar diretamente no plano criminoso.
Aparelhamento
Diferentemente do que Jair Bolsonaro (PL) tenta propagar sobre o "aparelhamento" da Polícia Federal, que seria a causa dos processos criminais a que responde, como o da tentativa de golpe, a instituição começou a ser politizada com a chegada de Sergio Moro (União-PR) no comando do "super" Ministério da Justiça criado pelo ex-presidente.
Após deixar a magistratura, influenciando nas eleições ao levantar sigilo da delação criminosa de Antônio Palocci às vésperas da eleição, Moro ganhou de Bolsonaro um "super" ministério da Justiça, para onde levou a cúpula do lavajatismo.
Para diretor da PF, Moro escolheu o então superintendente da PF no Paraná, Maurício Valeixo, que atuou em conluio com a Lava Jato e o ex-juiz da 13ª Vara na força-tarefa. Outra lavajatista levada por Moro à cúpula da PF, por exemplo, foi a delegada Érika Marena, pivô do suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier.
Motivo da briga de Moro com Bolsonaro - que queria "influenciar" nas investigações da PF, Valeixo deixou o posto. Bolsonaro, então, tratou de escolher a dedo quadros que ascenderam na corporação sinalizando fidelidade a ele.
Fonte ouvida pela Fórum afirma que o clima de aparelhamento era tamanho que haviam agentes que construíram até uma espécie de "altar" para Bolsonaro Academia Nacional de Polícia, onde Soares atuou por muito tempo.
À época, a delegada Marília Alencar, investigada na trama golpista, e o marido, o também delegado Erasmo Júnior, atuavam na Academia de Polícia. Os delegados Henrique Rosas e Cleber Abreu Borges também saíram de lá para ocupar cargos no governo Bolsonaro. Rosas e Borges chegaram a trabalhar na Secretaria Extraordinária de Segurança Presidencial em 2023, já no governo Lula.
Com o vazamento dos novos áudios, esses agentes que buscam se esconder dentro da corporação temem que seus nomes apareçam na investigação dando motivo para Andrei Passos iniciar a exoneração dos golpistas da instituição.