PLANO GOLPISTA

Juca, que seria assassinado por quadrilha de Bolsonaro, é Zé Dirceu; Fórum antecipou há seis meses

Em entrevista à Fórum em novembro, pesquisadora Letícia Oliveira afirmou que a conhecida liderança da esquerda brasileira estaria entre os alvos da quadrilha bolsonarista

Zé Dirceu.Créditos: Geraldo Magela/Agência Senado
Escrito en POLÍTICA el

Na trama golpista de 2022, o general Mario Fernandes usou o codinome "Juca" para se referir ao ex-ministro José Dirceu (PT) como um dos alvos do plano Punhal Verde Amarelo. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo nesta terça-feira (13). Duas fontes com acesso às investigações confirmaram que o petista era o alvo central da operação militar clandestina.

No entanto, em entrevista ao Fórum Onze e Meia no dia 27 de novembro, a a jornalista e pesquisadora especialista em extrema direita, Letícia Oliveira, já havia antecipado a informação de que "Juca" era realmente Zé Dirceu.

Quatro figuras políticas eram alvos da quadrilha. Segundo as investigações, os golpistas planejavam assassinato contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (sob o codinome "Jeca"), o vice-presidente Geraldo Alckmin ("Joca"), o ministro do Supremo Alexandre de Moraes e um terceiro indivíduo identificado como "Juca". De acordo com o relatório da PF, a corporação reconhece que "não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso".

As autoridades ainda apuravam quem seria o "Juca", com três nomes possíveis na investigação: Flávio Dino, ministro do STF; Marco Aurélio Ribeiro, chefe de gabinete; ou ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu

Identificado como Juca, Dirceu foi descrito no plano de assassinato como a "iminência parda [sic] do 01 e das lideranças do futuro gov [governo]". Segundo o texto, "a sua neutralização desarticularia os planos da esquerda mais radical". No mesmo documento, Mario Fernandes declarou que não esperava "grande comoção nacional" com o assassinato.

O documento previa, após deflagrado o golpe, a a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise que seria comandando por militares. Heleno, segundo o planejamento, seria o chefe de tal gabinete. Braga Netto, por sua vez, seria o coordenador-geral, enquanto outros militares de alta patente, como o próprio Mario Fernandes, assumiriam outras funções de comando. 

O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, responsável pela defesa de Mario Fernandes, declarou à Folha que não faria comentários sobre o caso. “Eu não posso me manifestar sobre o mérito da investigação porque ainda não me foi concedido acesso à íntegra das provas”, disse.

Durante o julgamento sobre o recebimento da denúncia, Figueiredo assegurou aos ministros do STF que o general não compartilhou o plano Punhal Verde Amarelo com terceiros. Segundo ele, o réu elaborou o material e o manteve sob sigilo.
A Procuradoria-Geral da República, no entanto, refuta essa versão. Na denúncia, o procurador-geral Paulo Gonet afirma que o então presidente Jair Bolsonaro teve ciência do plano e deu sua aprovação.

A Polícia Federal prendeu no dia 19 de novembro cinco integrantes do grupo investigado por planejar um golpe de Estado em 2022, que tinham como objetivo impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e atacar instituições do Judiciário. A ação fazia parte da Operação Contragolpe.

Fórum antecipou

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia no dia 27 de novembro, a jornalista e pesquisadora especialista em extrema direita, Letícia Oliveira, afirmou que haviam fortes indícios de que José Dirceu (PT), ex-ministro da Casa Civil, seria o "Juca" citado no plano de assassinatos revelado pela Polícia Federal.

Para Letícia, a figura de José Dirceu se encaixava no perfil traçado pelo grupo extremista. "Eu acho que o Juca é o Zé Dirceu", declarou a pesquisadora. Ela baseou sua análise na narrativa difundida por setores olavistas e bolsonaristas, que atribuem ao ex-ministro uma suposta liderança de uma esquerda radical no Brasil.

"No relatório de 200 páginas [da PF], está dito que o Juca é uma pessoa que, se morrer, não causaria uma comoção muito grande, mas desestabilizaria uma suposta 'esquerda radical'. Também é mencionado que o Juca seria alguém que, na visão deles, está realmente por trás de Lula, acima dele. Essa ideia de que quem controla o PT e Lula é o Zé Dirceu circula há muitos anos no meio bolsonarista, principalmente no núcleo olavista", explicou Letícia.

Confira a entrevista completa de Letícia Oliveira no programa Fórum Onze e Meia:

Julgamento da quadrilha golpista

Os ministros analisam uma questão de ordem sobre a suspensão da Ação Penal 2.668, que tem como alvo, além de Ramagem, o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado como líder de uma trama golpista que teria atuado de junho de 2021 a 8 de janeiro de 2023 e cujo objetivo era mantê-lo no poder mesmo em caso de derrota nas eleições de 2022.

Segundo a denúncia, Bolsonaro e seus cúmplices pretendiam impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que seria assassinado junto com então vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e também o próprio Moraes.

Também são réus na mesma ação penal militares que foram da alta cúpula do governo Bolsonaro, bem como outros assessores diretos do ex-presidente, todos integrantes do que seria o núcleo “central” do complô, responsável por conceber e colocar em marcha o plano golpista.

Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por envolvimento no golpe de Estado fracassado. Com a autorização da Primeira Turma, a denúncia foi fatiada em diferentes núcleos, com processos e tramitação próprios, de modo a agilizar o julgamento do caso.

Todos são acusados pelos mesmos cinco crimes: organização criminosa armada; tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça; e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem superar os 30 anos de prisão.

O Supremo já aceitou, por unanimidade, os trechos da denúncia que envolve o núcleo 1 (núcleo central), núcleo 2 (ações para operacionalizar o plano golpista) e núcleo 4 (ações estratégicas de desinformação), tornando réus 21 dos denunciados. O julgamento sobre o recebimento da parte da denúncia relativa ao núcleo 3 da trama (ações táticas) está marcado para os dias 20 e 21 de maio. 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar