Uma nova ofensiva de desinformação com mentiras grotescas coordenada pela extrema direita brasileira voltou a mirar a primeira-dama Janja Lula da Silva. O ex-presidente Jair Bolsonaro compartilhou em seu perfil na rede X (antigo Twitter), nesta terça-feira (12), o print de uma matéria falsa do site “Revista Brasil”, afirmando que Janja teria embarcado para a Rússia com "200 malas" para participar da visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país governado por Vadimir Putin. A publicação, diferentemente de outras notícias falsas sobre o mesmo assunto, não menciona dinheiro diretamente, mas insinua ostentação, uso indevido de recursos públicos e lança suspeitas sobre o conteúdo da bagagem.

O que parece, à primeira vista, uma fake news "suave", na verdade integra um esquema mais amplo de desinformação que envolve a circulação simultânea de outra mentira ainda mais escandalosa: a de que Janja teria levado malas de dinheiro vivo desviadas do INSS para Moscou, tendo sido barrada por autoridades russas. Essa segunda versão, ainda mais absurda, tem se espalhado por aplicativos como o Kwai e por grupos bolsonaristas em redes como Telegram e WhatsApp.
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Ambas as mentiras se complementam: enquanto uma tenta parecer "plausível" ao falar de volume exagerado de bagagem, a outra injeta um elemento criminal e espetaculoso – o desvio de recursos da Previdência. Juntas, produzem uma narrativa disfarçada de “indignação legítima” e plantam dúvidas na população. Trata-se de uma estratégia já conhecida de engenharia da desinformação, que mistura delírios conspiratórios com alegações aparentemente verossímeis para confundir o público e fragilizar a credibilidade de figuras públicas.
Veja um dos vídeos falsos que tem circulado entre bolsonaristas [ATENÇÃO, TRATA-SE DE FAKE NEWS]:
A engenharia do absurdo
A publicação falsa compartilhada por Bolsonaro afirma que funcionários do aeroporto teriam se espantado com a quantidade de malas despachadas por Janja. Em seguida, levanta hipóteses sobre “ostentação” e “uso de recursos públicos”, sugerindo que a viagem da primeira-dama teria motivações escusas. Mesmo sem provas, o texto termina com tom alarmista, prometendo que o caso se tornará um "capítulo conturbado" do governo Lula.
"O escândalo das 200 malas promete se tornar mais um capítulo conturbado na relação entre o governo Lula e a opinião pública, especialmente em relação à atuação da primeira-dama em agendas internacionais. Tudo isso logo após escândalo do INSS", diz trecho da matéria falsa compartilhada por Bolsonaro.
Em paralelo, vídeos e montagens disseminados por bolsonaristas trazem a mentira absurda que Janja teria usado um avião cargueiro da FAB para transportar as tais malas — e que dentro delas estariam dinheiro vivo do INSS, ouro e até presentes a Nicolás Maduro. Em alguns posts, dizem que ela foi barrada pelas autoridades russas, o que nunca aconteceu.
Não há nenhum registro oficial ou jornalístico sobre qualquer ocorrência semelhante. Janja viajou em missão oficial ao lado do presidente, participou de eventos ligados à educação e cultura e promoveu a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, da qual é coordenadora desde o G20. Todas as agendas constam no site do Palácio do Planalto.
Mentiras fabricadas para confundir
A tática é conhecida e já foi usada outras vezes: uma mentira escandalosa é colocada em circulação por anônimos e perfis de baixa credibilidade, enquanto uma versão mais “palatável” é endossada por figuras públicas da extrema direita. A ilusão de “equilíbrio” e “coerência” entre os conteúdos ajuda a fixar a ideia falsa na cabeça das pessoas.
Esse modelo de propaganda, identificado por especialistas como desinformação estratégica, explora o medo, o senso comum e o ódio político para fabricar “escândalos” do nada. É uma forma de enfraquecer lideranças políticas populares como Lula e Janja, criando uma cortina de fumaça para os verdadeiros escândalos — como o do INSS, que começou em 2019, sob a gestão de Bolsonaro, e só passou a ser desmontado agora, por meio de operações da Polícia Federal no atual governo.
Ataques recorrentes
Não é a primeira vez que Lula e Janja são alvo de teorias conspiratórias delirantes. Antes, circularam boatos de que o presidente teria levado dinheiro para o Banco do Vaticano, ou que teria se encontrado secretamente com terroristas. Nada disso jamais se comprovou.
Os ataques se intensificam em momentos estratégicos, como viagens ao exterior ou eventos de grande repercussão, e sempre seguem o mesmo padrão: disseminação simultânea de fake news, vídeos editados e insinuações sem provas, com grande apelo emocional e descompromisso total com a verdade.
Secom se manifesta
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) repudiou as mentiras que vêm sendo fabricadas contra a primeira-dama Janja da Silva.
"Rejeitamos categoricamente a invenção absurda de que teria sido levada uma "elevada quantidade de malas", bem como qualquer menção a incidentes com a bagagem — nada disso ocorreu, nem foi registrado por qualquer autoridade responsável (...) A Secretaria lamenta que, em vez de se pautarem pela verdade, determinados agentes escolham propagar conteúdos distorcidos para confundir e manipular a opinião pública".