MAIS DERROTAS

O maior recuo de Bolsonaro até agora. E foi por medo, muito medo

Ex-presidente, às portas de ir para a cadeia, peitou o Congresso e “meteu o louco”, ameaçando expor fotos de quem não assinar PL para salvá-lo, mas parou e voltou atrás. Entenda

Créditos: Lula Marques/Agência Brasil
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Durante o fracassado ato pela anistia dos golpistas do 8 de janeiro, realizado na Avenida Paulista, no domingo (6), o que se viu foi um festival de ataques muito ofensivos e diretos aos deputados e líderes partidários que não tinham assinado o Projeto de Lei para perdoar os criminosos bolsonaristas, com uma preferência declarada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que chegou a ser chamado de “vergonha da Paraíba” pelo “pastor” Silas Malafaia, o cão de guarda espumante de Jair Bolsonaro (PL). Ao sair dali, a ordem foi reforçada e ainda mais clara: ir para cima dos parlamentares com agressividade.

A tática mafiosa ganhou contornos ainda mais irracionais no dia seguinte, segunda (7), quando o líder do PL na Câmara, deputado-pastor Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), deixou cristalina que a intenção de Bolsonaro era realizar manifestações de escracho com seus “patriotas” em João Pessoa e por cidades do estado natal de Motta, para tentar destruir sua imagem junto à sua base eleitoral, caso ele continuasse se negando a pautar em regime de urgência o PL da anistia. A ordem era também seguir obstruindo a pauta da Casa e começar a expor nas redes sociais as fotos e nomes de parlamentares que ainda não tinham assinado a proposta. Ou seja, terrorismo puro e ameaças rasgadas e desavergonhadas.

O autoritarismo de Bolsonaro gerou revolta em muitos deputados de partidos do centrão, que se rebelaram e passaram a expressar de maneira explícita que não aceitavam aquilo e que tais ameaças teriam troco, a começar pelo isolamento dos bolsonaristas, já naturalmente marginalizados no Congresso. Hugo Motta dobrou a aposta, deu mais um ‘não’ ao PL da anistia e, em consonância com o discurso do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), repetiu que a pauta não era de interesse dos brasileiros e que votar aquilo não faria o menor sentido, especialmente no momento atual em que as demandas urgentes do povo brasileiro são outras.

O clima passou a azedar ainda mais e o esperado era um novo rompante de fúria de Bolsonaro, determinando um novo ataque fulminante a Motta e aos parlamentares do centrão que não aderiram até agora à anistia.

Só que não. Repentinamente, nesta terça (8), o ex-presidente meteu o rabo entre as pernas e deu ordem para desobstruir a pauta da Câmara, cessar os ataques a Motta e colocar na geladeira qualquer plano de escracho e exposição dele e de deputados de outros partidos. Um recuo jamais visto por parte do bolsonarismo e de Bolsonaro, mesmo em outros cenários e circunstâncias.

“Como já estamos nos aproximando das 257 assinaturas necessárias para pautar a Anistia, a Liderança do PL informa que irá retirar toda obstrução no Congresso Nacional. Estamos apostando no diálogo com os colegas parlamentares, que vêm se sensibilizando com essa pauta de justiça, de humanidade e de pacificação nacional. Faltam apenas 58 deputados. Cobre o seu deputado. A hora é agora”, escreveu Sóstenes Cavalcante em seu perfil no X (antigo Twitter). A mensagem causou estranheza pelo nível de “moderação e ponderação”. Mas não se trata disso. É medo, muito medo.

É válido lembrar que, um pouco antes, Motta deu uma declaração, com certa elegância, colocando água no chopp de Bolsonaro e deixando claro que, embora pense que possa ter havido exagero em algumas sentenças dadas a alguns golpistas, ele conversará sobre o assunto com a totalidade do Congresso e também com o governo e o STF.

“Não vamos ficar restritos a um só tema, vamos levar essa decisão ao colégio de líderes, vamos conversar com o Senado e com os Poderes Judiciário e Executivo, para que uma solução de pacificação possa ser dada. Aumentando uma crise, não vamos resolver esses problemas, não embarcaremos nisso”, disse. Na prática, mostrou ao líder da extrema direita que está alinhado com o calendário e a forma como as coisas estão correndo no que diz respeito a esse tema.

Claro que o falastrão não ficaria quieto, sem aproveitar a chance de alfinetar o Supremo e, sobretudo, o ministro Alexandre de Moraes. “O que eu acho do Hugo Motta, e eu já conversei com ele algumas vezes, [é que] ele leva pressão do ministro lá do Supremo [Moraes], que não deveria acontecer, que é interferência. Leva pressão por parte do Executivo [governo Lula]”, atacou Bolsonaro em entrevista.

Mas o que move o medo de Bolsonaro que o fez decretar um recuo tão humilhante? Pois bem, isso tem nomes: rejeição e isolamento.

Todas as últimas pesquisas de opinião de reconhecidos institutos que atuam no país mostraram que a anistia é rechaçada pelos brasileiros. A imensa maioria dos cidadãos nem entende o que é isso e, quem entende, acha que criminoso tem mais é que ficar preso. Na mesma toada, todos que foram entrevistados sabem que essa é uma pauta de Bolsonaro, que vê o bolsonarismo murchar cada vez mais.

As opiniões alinhadas ao interesse de sua seita ideológica, seja lá qual for a pergunta, ficam sempre na casa dos 30% aos 34%. Todos os possíveis pré-candidatos à Presidência de seu núcleo, incluindo ele próprio, aparecem sendo derrotados por Lula no pleito de 2026, mesmo o atual presidente vivendo um revés em sua popularidade.

A leitura é que os brasileiros darão um novo mandato ao petista mesmo aparentemente insatisfeitos com a condução da atual gestão, uma sinalização inequívoca de que preferem seguir como está do que dar nova chance aos extremistas do bolsonarismo. Aí a coisa pegou para Bolsonaro, que, além de prestes a ir para a cadeia, estaria vendo as forças de seu grupo político minguarem. Ele julgou que é hora de bolar outra tática, em que pese o fato de seguir atiçando sua claque raivosa nas redes a permaneça atirando contra o governo e o STF.

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