"TRADICIONAL" CLÃ BOLSONARO

Michelle faz encenação com Jair Renan e Carlos Bolsonaro para causar comoção sobre fuga de Eduardo

Tentando causar comoção e provocar choro de Bolsonaro, Michelle chamou os "três meninos do meu marido" para mandar um recado para Eduardo e ganhou afago de Carlos, com quem mantém desavenças e "não quer conviver"

Michelle ganha afago de Carlos ao tentar causar comoção sobre Eduardo Bolsonaro, que fugiu para os EUA.Créditos: Divulgação / Silas Malafaia
Escrito en POLÍTICA el

Em um ato cercado de simbolismo, com destaque para o batom que faz referência à cabelereira Débora Rodrigues dos Santos, Michelle Bolsonaro fez uma encenação com Jair Renan, Flávio e Carlos Bolsonaro, filhos das duas relações anteriores de Jair Bolsonaro (PL), para causar comoção ao falar de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que fugiu para os Estados Unidos, onde conspira contra o Brasil, por medo de ter o passaporte apreendido.

A cena que aconteceu em cima do trio elétrico na avenida Paulista neste domingo (7) contraria a relação conturbada da ex-primeira-dama com Jair Renan e Carlos, ambos expulsos de casa pelo pai por causa das brigas com a esposa "03".

Em seu discurso, Michelle chamou o trio de "três meninos do meu marido", pedindo para Flávio, Carlos e Jair Renan abraçar o pai.
"Faltando um", seguiu Michelle. "Faltando o Eduardo, faltando nosso Duda, que está longe, renunciando a sua vida, a vida de seus filhos pequenininhos que estavam na escola. Nós que somos pais, nós sabemos o quanto isso é importante", emendou a ex-primeira-dama, recebendo um afago de Carlos.

Jair Bolsonaro derramou uma lágrima para dar mais comoção à encenação da ex-primeira-dama. "Duda está nos EUA, separado porque está lá sendo nosso porta-voz, porque está lá mandando a mensagem para o mundo da injustiça que estamos passando no Brasil", emendou.

Aos pulinhos, Michelle terminou o drama mandando uma "força" para Eduardo, que deixou o mandato na Câmara e fugiu para os EUA por livre e espontânea vontade, onde conspira contra o Brasil.

O vídeo foi divulgado no perfil de Carlos Bolsonaro no Instagram, que marcou apenas Eduardo.

"Família tradicional"

Totem do bolsonarismo, a "família tradicional" - descrita no slogan "Deus, Pátria, Família e Liberdade" - não encontra respaldo dentro do próprio clã, que vive em pé de guerra nas relações de Jair Bolsonaro, que resultaram em cinco filhos, com três esposas.

Em entrevista em março desse ano a Alexandre Garcia, Michelle revelou a relação conturbada com Carlos, dizendo claramente que “não quer conviver” com o 02.

“A gente não se fala, mas é assim... Eu fui uma intercessora do Carlos, né? Eu assim, eu respeito, porque o Jair teve dois relacionamentos, e não deu certo, e ele tinha aquela questão por eu ser mais nova, 27 anos mais nova, então acho que ele não gostou muito... Ele tem o gênio dele, eu tenho o meu gênio, ele tem a verdade dele, eu tenho a minha verdade, mas eu não desejo nenhum mal pra ele, mas ele é uma pessoa que eu não quero conviver... Eu não tenho nenhum problema com ele, e o problema que nós tivemos no passado eu já perdoei, meu coração tá limpo em relação a isso, mas eu não sou obrigada a conviver, e a bíblia me dá esse respaldo... Não proíbo meu marido jamais de ter relacionamento com ele, jamais... Mas eu não consigo conviver... Então ele tem a liberdade de ver a Júlia, a netinha dele, a hora que ele quiser, de viajar juntos, vão pescar juntos, porque, enfim, é o filho dele e eu respeito... Eu não gostaria que fosse assim, mas ele tem o gênio dele e eu tenho meu também, e em algumas coisas eu não concordo e aí pra não ter problemas maiores, eu prefiro me afastar”, disse Michelle.

Filho de uma gravidez conturbada de Ana Cristina Valle, a esposa "02" de Bolsonaro, Jair Renan também viveu uma relação nada amistosa com Michelle e também com os irmãos, em especial Eduardo Bolsonaro.

Ex-vereadora no Rio, Rogéria Nantes Bolsonaro, mãe de Flávio, Eduardo e Carlos separou-se de Bolsonaro em meio ao romance do marido com Ana Cristina, que resultou na gravidez de Jair Renan.

À época, Bolsonaro emancipou o filho Carlos para, aos 16 anos, roubar o eleitorado da mãe e ser eleito para a cadeira do clã no legislativo carioca. Ana Cristina foi alçada à chefia de gabinete.

Em 2017, a Fórum divulgou em primeira mão o flagra feito pelo fotógrafo Lula Marques, que captou uma troca de mensagens entre Eduardo e o pai, então candidato à presidência da Câmara.

Coincidência - ou não -, Eduardo, que já era deputado, estava nos EUA, bem longe dos trabalhos legislativos. “Papel de filho da puta que você está fazendo comigo”, disparou Bolsonaro ao filho.

“Tens moral para falar do Renan? Irresponsável”, emendou o ex-presidente, sobre a relação entre os dois filhos. “Se a imprensa te descobrir ai, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente”, emendou, sem revelar o que o filho fazia nos EUA.

“Quer me dar esporro tudo bem. Vacilo foi meu. Achei que a eleição só fosse semana que vem", resmungou Eduardo, que completou sobre a comparação com o irmão. "Me comparar com o merda do seu filho, calma lá”.

Em entrevista à revista Playboy no ano 2000, Bolsonaro admitiu, ao responder sobre "legalização do aborto", que chegou a falar com Ana Cristina sobre a gravidez indesejada de Jair Renan.

Ao responder sobre "legalização do aborto", Bolsonaro afirmou que "tem de ser uma decisão do casal".

No entanto, indagado se já havia passado pela situação, ele mostrou Jair Renan, então com um ano e meio, e respondeu: "Já. Passei para a companheira. E a decisão dela foi manter. Está ali, ó".

Bolsonaro exigiu, de acordo com informações do livro “O negócio do Jair”, da jornalista Juliana Dal Piva, um exame de DNA para confirmar se o filho era realmente dele. Depois que o exame confirmou a paternidade, ele rebatizou o filho com seu nome.

Já presidente, Bolsonaro teve que resolver outra desavença familiar envolvendo Jair Renan, dessa vez com sua terceira esposa, Michelle Bolsonaro.

Segundo revelações feitas por Marcelo Luiz Nogueira de Santos, ex-funcionário do clã, Bolsonaro teve que alugar um apartamento para o filho, então com 16 anos.

Em entrevista a Guilherme Amado, Santos contou que Ana Cristina chantageava Bolsonaro para reassumir o comando do esquema das rachadinhas nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro após ter sido demovida da função por suposta traição. 

Jair Renan teria sido usado pela mãe para pressionar o pai. Nesse sentido, a mãe estimulava um comportamento rebelde do 04, principalmente contra Michelle Bolsonaro.

"Jair Renan, que estava na adolescência, infernizava a mulher dentro de casa com rebeldias de adolescente. A Michelle era dona da casa e tinha regras, educação, e coisa e tal. E ele não aceitava, ele queria fazer o que quisesse", disse Nogueira.

"Era rebeldia de adolescente. O negócio ficou tão quente, tão quente, que não tinha nem como cobrar. Aí tu imagina o inferno que devia ser, né? Tanto que o negócio ficou tão quente, tão quente, que quando o Renan estava com 16 anos o pai dele alugou um apartamento lá do lado do condomínio para ele morar sozinho", completou.

"Ele [Jair Bolsonaro] alugou um apartamento lá e botou o garoto lá, pra tirar o Renan de dentro de casa porque o inferno era tanto", acrescentou.

Bebidas e eleição

A treta entre Jair Renan e Michelle chegou ao Palácio da Alvorada e provocou a ira de Bolsonaro, que teria quebrado a porta da adega da residência oficial após a ex-primeira-dama mandar trancar o local.

A ordem de Michelle teria sido dada após Jair Renan fazer incursões para furtar bebidas alcoólicas e levá-las embora, segundo informações do Metrópoles. 

Ao receber um convidado e pedir que servissem bebida, Bolsonaro teria ouvido dos funcionários que a adega havia sido trancada por ordens de Michelle, que não estava em casa naquele momento.

O ex-presidente, então, teria tido sido tomado por um acesso de fúria e na base da ‘voadora’ (golpes com os pés) arrombou a porta, para então entrar no local e pegar o vinho fino para presentear o visitante daquela noite.

Michelle e Jair Renan também chegaram a brigar publicamente nas redes sociais, por causa de Ana Cristina Valle.

Através o Instagram, Michelle mandou uma indireta para Ana Cristina, que é foi candidata a deputada distrital no DF pelo PP com o nome "Cristina Bolsonaro" em sua campanha. 

"Em Brasília, o meu irmão Eduardo Torres é o nosso único candidato ao cargo de deputado distrital. Não existe apoio a nenhum outro candidato. Fica o alerta para 'os alpinistas' que estão tentando subir na vida, usando o nosso sobrenome", escreveu a primeira-dama, desautorizando Ana Cristina, apesar não citá-la nominalmente. 

Jair Renan, então, tomou as dores da mãe e resolveu rebater a atual esposa de seu pai. "Minha mãe Cristina Bolsonaro teve uma história de vida com o atual Presidente Jair Messias Bolsonaro, onde foram casados por 16 anos, e sou fruto desta relação; onde houve parceria e muito amor. Portanto, não podemos negar o fato de que minha mãe teve sua contribuição com a chegada do meu pai à Presidência da República", disse.

"Por esse motivo, minha mãe tem direito de usar o sobrenome do meu pai, não por vaidade, mas por fato e direito", prosseguiu o filho de Bolsonaro. 

Após a treta, o filho "04" de Bolsonaro virou alvo de operação da Polícia Federal. A reação de Michelle nas redes deu o tom para como se dá a relação na "tradicional" família Bolsonaro: "Senhor, obrigada por mais este dia".
 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar